“Em nosso mundo, quando falamos de emigração e imigração não estamos falando disto propriamente, estamos falando do estancamento do velho mundo ocidental”, disse o sociólogo francês Alain Touraine, um dos mais importantes pensadores da atualidade, no debate “Os Anos Jovens da Imigração”, promovido pela Organização Ibero-americana de Juventude, em casa de América Madri, no ultimo dia 21 de maio. Alain Touraine destacou a necessidade de tratar o tema a partir de uma perspectiva realista e razoável, e disse que a idéia de que Europa não tem recursos para aceitar imigrantes é absurda. “Por suposto que temos recursos, temos imensos recursos”, disse. O pronunciamento ocorre num momento em que os governos da União Européia pactuam uma proposta diretiva para a expulsão de cerca de 8 milhões de indocumentados e para a ampliação do período de retenção até 18 meses em centros de internamente espalhados em toda a Europa.“Quero que nos enfrentemos com problemas reais. Se se aceitam mais emigrados, isto vai ser um obstáculo ou uma ajuda a um melhor crescimento econômico? É um tema muito complicado. Se as pessoas que vêm vão tomar os postos de trabalho dos que estão, não vai ser uma solução. Mas o caso é que em nossa época, se vai criar um número enorme de empregos novos, que vão ter um papel muito importante. Então o problema, é saber, no momento atual, quais são as prioridades?” Touraine destacou a necessidade de dar uma resposta à imigração com boa vontade, com obras e políticas sociais. “Há que dizer que nossa sociedade dedica mais da metade de seus recursos a atividades que não têm nada do que ver com a produção e o consumo. É ridículo nesta situação dizer que não há espaço para mais imigrantes em Europa. Mas não há possibilidade de integrar nem uma pessoa enquanto não estejamos decididos a dar prioridade à integração, e enquanto a sociedade de que somos parte continue oferecendo a nós uma parcela minoritária do esforço que fazemos, de nossa participação no mercado de trabalho nacional e internacional”, sublinhou.O sociólogo explicou que as restrições migratórias são parte de uma estratégia econômica para garantir a sobrevivência de empresas pouco competitivas. “Encontramos uma solução muito interessante, muito inteligente: Dissemos: Vamos proibir a entrada. E proibimos a entrada de tal maneira, que graças a nossa inteligência temos uma mão de obra sem ônus sociais, que não pode discutir o preço do salário porque é denunciada à polícia. A utilidade é muito grande, a política dos indocumentados, dos sem papéis, é de criar na margem da sociedade uma zona de salários baixos que permitem a empresas que não são muito competitivas ou que não são muito trabalhadoras sobreviver graças à baixa dos salários que conseguem”.Num segundo bloco de sua apresentação, Touraine falou do problema de integração da terceira geração de emigrados em França e ressaltou o fracasso tanto das políticas de assimilação como das de multiculturalismo. “Há duas coisas inaceitáveis, a primeira é dizer que as culturas são totalmente diferentes, fomentar um multiculturalismo sem comunicação, (isto é, um comunitarismo fechado), a outra é dizer que há um só país, uma só parte do mundo, que é moderna, que é racional, e que se deve dar a oportunidade aos outros para que se transformem em gente como nós mesmos, em pessoas tão inteligentes e formosas como nós”, ironizou. “Todas as políticas devem combinar elementos de direitos universais e de reconhecimento da multiplicidade e pluralidade das culturas e das histórias. A integração social significa compartilhar os aspectos positivos e negativos de determinada sociedade. É necessária uma recomposição da sociedade para permitir a integração de gente de todo mundo”.Em França, segundo Touraine, vive-se um processo de desintegração social. O problema surgiu na terceira geração de imigrantes. “Em 15 anos a situação decaiu enormemente. A criação da brecha é o resultado do ódio que há entre a maioria que se sente ameaçada e a minoria que sente desprezada, discriminada e as vezes segregada. “São os estrangeiros que chegam, são minorias lingüísticas, religiosas, sexuais, e a imobilidade é a que cria problemas, uma sociedade imóvel num mundo que muda não pode aceitar novos membros sem distúrbio, sem violência, sem guerras civis, coisas que sucederam muitas vezes. No caso de França, no século XIX quando os italianos eram muito numerosos, houve uma série de incidentes com mortos, isto é muito comum, e é mais dramático com povos mais diferentes”.
Debate
A conferência de Touraine foi antecedida por um importante debate, do qual participassem o secretário geral adjunto da OIJ, José Manuel Miguel, o diretor geral do Injuve, Gabriel Alconchel e María Gómez Villanueva, de Acobe, com a moderação do psicólogo social Ricardo Zúñiga. O secretário da OIJ, José Manuel Miguel, dedicou sua explanação a desmistificar vários das percepções usuais sobre a imigração e ressaltou que enquanto esta seja vista como um problema não se poderá avançar para soluções.Gabriel Alconchel, por sua vez, destacou que é necessário dar condições para que a diversidade seja aceitada com mais facilidade. “Há demasiada gente que esta interessada em inocular aos jovens este veneno ideológico, do medo ao outro, ao diferente. O que esconde esta perspectiva reducionista é um discurso interessado, que nos leva a uma idéia básica: privatização dos benefícios e socialização dos custos”.Alcochel sublinhou que o trato à imigração é uma questão de prioridade, que se relaciona diretamente com o papel de reforçar o estado de bem estar e a redistribuição de riqueza. Também destacou a necessidade de reforçar o protagonismo dos jovens imigrantes. “É fundamental que os jovens em geral e os jovens imigrantes se beneficiem da participação e da associação, para que a responsabilidade da integração não recaia somente no governo, mas também na sociedade civil”.O debate “Os anos jovens da imigração” ocorreu no marco de atividades do Ano Ibero-americano de Juventude e da XVIII Cume Ibero-americana de Chefes de Estado e de Governo, que se realizará em El Salvador em outubro de 2008, com o tema central "Juventude e Desenvolvimento".
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