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quinta-feira, 24 de julho de 2008

Emergência e percepção de Novos Valores na Juventude (1)

Hilário Dick


Falando da emergência e da percepção de valores da juventude na atualidade, é necessário partir de alguns pressupostos. Até diria que muito do que penso dizer se situa nesta geografia. Referimo-nos, primeiramente, à questão dos “discursos” que a juventude faz e aos “discursos” que o mundo dos adultos faz com relação ao tema. Assim como não é fácil falar dos valores dos adultos, na atualidade, da mesma forma não é fácil perceber a novidade que os jovens revelam. Para todos que trabalhamos com jovens e sobre jovens, é um assunto que desafia. Falamos de “emergência” e de “percepção” porque está em questão uma realidade possível passível de aparecer, ou não, e uma realidade que tem condições para ser “percebida”, ou não, e até de ser escondida. Estão em jogo dois “discursos” que, assim como podem ser complementares, correm o risco de serem dois discursos entre surdos. Referimo-nos a possíveis análises de atitudes juvenis proferindo “discursos” esquecidos da importância de sujar-se no mundo juvenil, mais preocupados com a lógica de sua teoria do que com o que acontece, de fato, no dia-a-dia das mobilizações de jovens e, por outro, ”discursos” tão mergulhados na realidade que a percepção vai além do que, realmente, está emergindo. Desejo falar de “discursos”, de “sintomas” de uma cultura, pinçar dados de uma pesquisa, recordar o maio de 1968 e apontar paradigmas presentes nos estudos e nas intervenções educativas junto ao segmento juvenil.

Discursos

Apesar das dificuldades que se apresentam, a responsabilidade de todos - também, e de modo especial - da Academia, é a de estarmos alertas aos “discursos” que as juventudes, de fato, fazem. Esses discursos estão na rua, na família, nas aparentes omissões, nas resistências que manifestam, nas preferências pelas músicas, nos modos de vestir e comportar-se, nos modos de mostrar sua afetividade, nos modos de viverem em grupos, nas relações que cultivam, nos medos que expressam, nas pichações nos lugares mais inesperados, nas respostas que vão dando às pesquisas que se fazem, na maneira como encaram a religião, a economia, a política, nas organizações das quais participam e tantos outros. Qual o conteúdo dessa babel de manifestações? Qual o “discurso” que eles fazem nestes fatos ou nestas atitudes? Tomemos o caso da implosão de carros na França e outros países da Europa, protagonizados por milhares de jovens, há pouco tempo. O que emerge e o que se percebe? Evidente que segundo o discurso de alguns analistas dessas realidades, essas manifestações são consideradas como puras badernices, reações de jovens condenados à marginalidade social porque são árabes etc. Outros, talvez, se extasiem ante o mesmo fenômeno, vendo demais. Que valores, enfim, estariam afirmando esses grupos – e outros - capazes de mobilizar milhões de pessoas? Estariam, nestas manifestações, somente “anti-valores” como se pode ler, por vezes, nos noticiários e nos comentários jornalísticos e de outros lugares? Poderiam, estes fatos, revelar alguma novidade? O que se percebe é, de fato, o que poderia estar emergindo? Podemos dizer que estamos sendo convidados para uma honradez não só com a verdade, mas com a própria realidade. Dou-me a permissão de recordar, neste contexto, comentários e reflexões que Jon Sobrino faz a partir do terremoto de El Salvador, em 2001[1]. Ele fala do deixar a realidade falar e recorda Karl Rahner dizendo que “a realidade quer tomar a palavra”, isto é, se a palavra se fez realidade (carne, sarx), a realidade quer fazer-se palavra”, sendo importante que se escute, também, a “geografia” onde se escuta a palavra da realidade. A juventude é uma geografia... “Chegar a ser humano”, diz Sobrino, “é dar voz e palavra à realidade, quando esta é silenciada e oprimida, colaborar com sua balbuciação para que se transforme em palavra clara”[2]. Falar em emergência e percepção de valores na juventude é falar de um terremoto em que ela está mergulhada como grito silenciado.

Há, provavelmente, os que questionam a capacidade de essas mobilizações fazerem algum discurso significativo não porque seja um discurso “novo”, mas porque tudo já está sabido e estariam repetindo, simplesmente, um discurso de tradicionais descontentes com a vida e com o mundo, isto é, um discurso desviante, genérico, de um segmento da sociedade, sem raízes em geografias de novos paradigmas. Poderiam estes fatos revelar, por exemplo, uma atitude de quem se assusta com uma novidade que não se compreende e, por isso, é rejeitada? Uma coisa é certa: só poderemos entender o discurso da juventude na medida em que sujarmos as mãos nela, isto é, se estivermos “encantados” por ela, isto é, encantados pela vida e pelo que ela (a juventude) pode apresentar através do que, para os “não-jovens”, aparece como estranho e imprevisto, assim como sabemos que é a vida. Os “desviantes” não poderiam estar apontando rumos para o que, de fato, poderia ser o caminho (segundo estes jovens) que todos deveriam andar, para a felicidade que todos sonhamos, recordando-nos que a vida vai além da “ordem” que conseguimos construir? Por isso a importância, de um lado, da “emergência” e, do outro, da “percepção”.

Sintomas de uma cultura

Há sempre mais escritos falando dos jovens como as “figuras da desordem”[3]. É chocante ver estudiosos concluindo, baseados na maior pesquisa de amostragem sobre juventude que temos no país, que os jovens de hoje sofrem de três medos: do medo de morrer por causa da violência pela qual se sentem rodeados; do medo de sobrar porque se sentem navegando num mar de exclusão; e do medo de estar desconectado porque – nada mais violento para qualquer jovem que tem o direito de “aparecer” – sentir-se condenado a estar, de diversas formas violentas, desde o início de sua afirmação, “fora de moda”. Quem afirma isso com muita lucidez é Regina Novaes Coelho, pedagoga que, além de suas pesquisas, trabalhou na Secretaria Nacional da Juventude. Ao mesmo tempo em que a juventude é (encarna) a “figura da desordem”, o sistema condena-a a ser “da desordem” do jeito dele, fazendo-a mover-se por medos que lhes roubam o que lhes é mais característico: a alegria de viver.

Recordaria, também, um escrito da psicanalista Maria Rita Kehl escrevendo sobre “A juventude como sintoma da cultura”[4] e um escrito muito questionador de Francisco Ortega falando “Das utopias sociais às utopias corporais: identidades somáticas e marcas corporativas” [5]. Kehl recorda Nelson Rodrigues dizendo que “o Brasil de 1920 era uma paisagem de velhos” e que “os moços não tinham função nem destino. A época não suportava a mocidade”. Escrevendo numa data em que se preparava tudo que aconteceria com a juventude hitlerista e a juventude fascista e a juventude falangista e muitas outras juventudes, a pergunta que se poderia fazer é se houve alguma época que se suportava a mocidade... Francisco Ortega, por sua vez, nos desafia firmemente na forma como analisa o que significa, especialmente para a juventude e a adolescência, a substituição da utopia social pela utopia corpórea, onde o outro – praticamente- deixa de existir.

Kehl fala, igualmente, dos jovens que vão encontrando, sempre mais, adultos que os deixam “desamparados” (sem referências, sem limites, sem balizas) e, por isso, reagem e começam a fazer – por sua conta e de modo talvez mais agressivo que em outros tempos - as regras que, há meio século, começavam os que foram apelidados de “rebeldes sem causa”. Diz a psicanalista, com muito acerto, que, de vez em quando, os adultos não se dão conta que a desvalorização da experiência, isto é, do caminho andado, dos valores vividos e afirmados, esvazia o sentido da vida. “Descartado o passado”, diz Kehl, “em nome de uma eterna juventude, produz-se um vazio difícil de suportar”. O que se está dizendo é que a falta de referenciais não é, para qualquer jovem, coisa pequena. Diz a mesma psicanalista, por isso, que “a rebeldia dos adolescentes parece, antes, um apelo a que os pais manifestem alguma autoridade e façam restrição ao gozo”, afirmando que o limite faz parte de nossa grandeza, também do/a jovem. Por isso Kehl diz, ainda, mais adiante, que “a convivência com a criminalidade dos marginais e dos miseráveis acovarda e corrompe os adolescentes, principalmente quando estes perdem confiança na justiça e na polícia que deveria proteger a sociedade toda”. (...) É que “a convivência com o cinismo e com a ilegalidade das práticas da elite (que conhecemos como corrupção dos “colarinhos brancos”) corrompe e educa para o crime boa parte das novas gerações, de maneira muito profunda e eficiente”.

Estamos dizendo, com isso, que desejamos, por vezes, ver valores, por parte de jovens, que se vêem rodeados de anti-valores dos adultos e vice-versa... Falando dos valores que, talvez, sonhamos serem vividos pela juventude, não podemos esquecer que o jovem de nenhuma época, suporta adultos – desculpem a expressão - pregando uma “moral de cuecas” e vice-versa. Olhando e lendo, portanto, os valores (ou anti-valores) da juventude, precisamos dar-nos conta que estamos diante de um “sintoma” e que a raiz do fenômeno está não somente na juventude. Todos somos a juventude que contemplamos, movidos pelos trajes que não enganam a ninguém, nem a nós mesmos – se tivermos honradez com a realidade. Compreender a juventude exige que sejamos – também por uma atitude típica que o jovem com razão espera do mundo dos adultos – que se pode chamar de honradez frente à realidade juvenil. É a dinâmica da emergência e da percepção.
Notas

[1] SOBRINO, Jon. “Onde está Deus?”. São Leopoldo, Editora Sinodal, 2007.
[2] Idem, p. 78.
[3] ZUCCHETTI, Dinora Tereza. “Jovens: a educação, o cuidado e o trabalho como éticas de ser e estar no mundo”. Novo Hamburgo: Edit. Feevale, 2003,p. 188s.
[4] “Juventude e Sociedade – Trabalho, Educação, Cultura e Participação”, São Paulo, Instituto Cidadania, 2004, p. 89-114.
[5] “Culturas Jovens – Novos mapas do afeto”, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 2006, p. 42-58.

Indicações do Observatório Juvenil do Vale

Hoje o Blog do Observatório dedica seu espaço à divulgação do trabalho de três entidades no Brasil que investigam e assessoram no campo da Juventude.
São entidades referenciais, respeitadas por suas atuações, tanto no meio acadêmico quanto nas entidades de promoção e defesa da juventude e suas interfaces.
Vale a pena conferir e conhecer um pouco mais de seus trabalhos visitando seus sites.
Um abraço

Casa da Juventude Pe. Burnier (CAJU)
É um Instituto de Formação, Assessoria e Pesquisa sobre Juventude que serve como referência em matéria de mobilização e novidades sobre o mundo juvenil, em esferas acadêmicas, pastorais, militantes, etc. A CAJU é parceira do Observatório Juvenil do Vale.
O site da caju é um ótimo espaço onde são encontrados artigos, agendas, notícias, espaços de formação, etc.
http://www.casadajuventude.org.br


Observatório Jovem da Universidade Federal Fluminense (OBSJOVEM)
É um espaço de estudo, pesquisa e extensão do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFF, criado em 2001, preocupado com as transformações da condição juvenil na história.
Seu trabalho se desenvolve em duas linhas de pesquisa:
Juventude e Processos Educativos
Juventude e Culturas de Participação
O Observatório produz matérias de conteúdo próprio para na forma de entrevistas e reportagens e também procura divulgar informações qualificadas de outras fontes. A página hospeda produtos orientados à divulgação da produção científica da área da juventude, através da publicação das pesquisas e demais trabalhos do Observatório Jovem e de outros grupos, textos completos sobre diferentes temáticas, indicações de leituras, comentários críticos, resenhas, entrevistas e reportagens e boletins numa perspectiva de jornalismo científico. A página procura ser canal de estímulo ao diálogo entre os pesquisadores do tema da juventude e entre esses e a sociedade.
http://www.uff.br/obsjovem

Observatório da Juventude da Universidade Federal de Minas Gerais
De forma semelhante ao que ocorre com o nosso Observatório Juvenil do Vale e o Observatório Jovem, este é um espaço de pesquisa, ensino e extensão, ligado à Faculdade de Educação da UFMG. Sobre seus projetos, equipe de pesquisadores, acervo, etc. são encontradas informações no site do Observatório da Juventude.
http://www.fae.ufmg.br/objuventude

Por hoje são estas nossas indicações.
Um abraço e até mais.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Simpósio Internacional "O Ano 1968: permanências e mudanças"

Convidamos a todos para participar do Simpósio Internacional: "O Ano 1968: permanências e mudanças", que ocorrerá na Unisinos de 14 a 17 de outubro de 2008.
As inscrições para apresentação de trabalhos foram prorrogadas e agora seguem até o dia 18 de agosto de 2008.
Para mais informações, clique na imagem ao lado ou acesse o site http://www.unisinos.br/eventos/1968/
Participem!
Obrigado

Conferência elege as prioridades da juventude brasileira



A 1ª Conferência Nacional de Políticas Públicas de Juventude aconteceu entre os dias 26 e 30 de abril de 2008, no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade em Brasília. Depois de quatro dias em intensos debates, a Conferência foi um esforço entre governo e sociedade civil para consolidar a política nacional de juventude e incluir, de forma permanente, o tema na agenda das políticas públicas.
Participaram do evento mais de 2 mil delegados eleitos nas etapas preparatórias, envolvendo, com isso, mais de 400 mil pessoas em todo o Brasil. Foram mais de 4.500 propostas, transformadas em 558 pontos. 23 grupos de trabalho definiram 69 resoluções. Destas, 22 foram eleitas prioritárias e serão referências absolutas na construção das Políticas Públicas de Juventude no Brasil.
Durante a Conferência, a Organização Ibero-Americana da Juventude (OIJ), organismo multilateral do sistema ONU integrado por países da América Latina, Portugal, Espanha e Andorra, anunciou que 2008 será o ano ibero-americano da juventude. Segundo o secretário-geral da Organização, Eugenio Ravinet, a idéia é concentrar esforços para tornar a temática mais conhecida, conquistando a parceira dos agentes públicos, meios de comunicação e sociedade civil.
No início da Plenária Final (29/4), os participantes tiveram a oportunidade de conhecer a Convenção Ibero-Americana dos Direitos dos Jovens, documento com força de tratado internacional, que estabelece os direitos da juventude nos países que integram a OIJ. Trata-se de um documento inédito, que exige a aprovação do Congresso Nacional para vigorar como lei. De acordo com o secretário nacional de Juventude, Beto Cury, mais que um gesto simbólico, a ratificação do documento é uma convicção de que o país precisa assegurar esses direitos aos jovens, para que seja possível a construção de um Brasil verdadeiramente de todos.
No último dia do evento, o presidente do Conselho Nacional de Juventude, Danilo Moreira, acompanhou uma comissão de 60 jovens à Câmara dos Deputados, onde foram recebidos pelo presidente da Casa, Arlindo Chinaglia. A Comissão foi entregar um abaixo-assinado, com 1.800 assinaturas de delegados da Conferência, pela aprovação do Projeto de Emenda Constitucional (PEC 138), que insere o termo "Juventude" no texto da Constituição Federal, no capítulo dos Direitos e Garantias Fundamentais. Isso vai facilitar, por exemplo, a aprovação de projetos como o Plano Nacional da Juventude (PL 4530/04), que estabelece um conjunto de metas relacionadas aos direitos dos jovens que país deve cumprir. Chinaglia se comprometeu em submeter a proposta a votação tão logo a pauta seja destravada. Na ocasião, também foram encaminhadas ao presidente do Congresso o conjunto de resoluções e prioridades da Conferência, mais a proposta de ratificação da Convenção da OIJ.

22 prioridades para as políticas públicas de juventude

Segundo Danilo Moreira, da Secretaria Nacional de Juventude, as 22 propostas prioritárias aprovadas pela 1ª Conferência Nacional da Juventude serão transformadas em um caderno de resoluções que servirão de referência para orientar a Política Nacional Juventude. São elas:
1) Reconhecimento e aplicação, pelo Poder Público, transformando em políticas públicas de juventude as resoluções do 1º Encontro Nacional de Juventude Negra (Enjune), priorizando as mesmas como diretrizes étnico/raciais de/para/com as juventudes.
2) Destinar parte da verba da educação no ensino básico para o modelo integral e pedagógico do CIEP’s (Centros Integrados de Educação Pública).
3) Aprovação pelo Congresso Nacional do marco legal da juventude: regime de urgência da PEC n.º 138-B/2003, Plano Nacional de Juventude e Estatuto dos Direitos da Juventude PL 27/2007.
4) Criar uma política nacional de juventude e meio ambiente que inclua o Programa Nacional de Juventude e Meio Ambiente, institucionalizado em PPA (Plano Plurianual), com a participação dos jovens nos processos de construção, execução, avaliação e decisão, bem como da Agenda 21 da Juventude que fortaleça os movimentos juvenis no enfrentamento da grave crise ambiental global e planetária, com a construção de sociedades sustentáveis.
5) Ampliar e qualificar os programas e projetos de esporte, em todas as esferas públicas, enquanto políticas de Estado, tais como os programas Esporte e Lazer da Cidade, Bolsa Atleta e Segundo Tempo com núcleos nas escolas, universidades e comunidades, democratizando o acesso ao esporte e ao lazer a jovens, articulados com outros programas existentes.
6) Garantir o acesso a terra ao jovem e à jovem rural, na faixa etária de 16 a 32 anos, independente do estado civil, por meio da reforma agrária, priorizando este segmento nas metas do Programa de Reforma Agrária do Governo Federal, atendendo a sua diversidade de identidades sociais, em especial aos remanescentes de trabalho escravo. É fundamental a revisão dos índices de produtividade e o estabelecimento do limite da propriedade para 35 módulos fiscais.
7) Reduzir a jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais sem redução de salários, conforme campanha nacional unificada promovida pelas centrais sindicais.
8) Defendemos que a ampliação do investimento em educação é fator imprescindível para construirmos uma educação de qualidade para todos e todas e que consiga contribuir para o desenvolvimento do país. Para tanto, defendemos o investimento de 10% do PIB (Produto Interno Bruto) em educação. Para atingir este percentual reivindicamos o fim da desvinculação das receitas da união (DRU) e a derrubada dos vetos ao PNE (Plano Nacional de Educação). Reivindicamos que 14% dos recursos destinado às universidades federais seja destinado exclusivamente à assistência estudantil por meio da criação de uma rubrica específica. Defendemos também a ampliação dos recursos em assistência estudantil para estudantes do Programa Universidade para Todos (Prouni) e para estudantes de baixa renda de universidades privadas. Garantir a transparência e democracia na aplicação dos recursos.
9) Criação, em todos os municípios, de espaços culturais públicos, descentralizados, com gestão compartilhada e financiamento direto do estado, que atendam às especificidades dos jovens e que tenham programação permanente e de qualidade. Os espaços, sejam eles construções novas, desapropriações de imóveis desocupados ou organizações da sociedade civil já estabelecidas, devem ter condições de abrigar as mais diversas manifestações artísticas e culturais, possibilitando o aprendizado, a fruição e a apresentação da produção cultural da juventude. Reconhecer e incentivar o hip hop como manifestação cultural e artística.
10) Criar o Sistema Nacional de Juventude, composto por Órgãos de Juventude (secretarias/coordenadorias e outros) nas três esferas do Governo, com dotação orçamentária específica; Conselhos de Juventude eleitos democraticamente, com caráter deliberativo, com a garantia de recursos financeiros, físicos e humanos; Fundos nacional, estaduais e municipais de Juventude, com acompanhamento e controle social, ficando condicionado o repasse de verbas federais de programas de projetos de juventude à adesão dos estados e municípios a esse Sistema.
11) Implementar políticas públicas de promoção dos direitos sexuais e direitos reprodutivos das jovens mulheres, garantindo mecanismos que evitem mortes maternas, aplicando a lei de planejamento familiar, garantindo o acesso a métodos contraceptivos e a legalização do aborto.
12) Contra a redução da maioridade penal, pela aplicação efetiva do Estatuto da Criança e do Adolescente.
13) Garantir uma ampla reforma política que, além do financiamento público de campanha, assegure a participação massiva da Juventude nos partidos políticos, com garantia de cota mínima de 15% para jovens de 18 a 29 anos nas coligações, com respeito ao recorte étnico-racial e garantindo a paridade de gênero. Mudança na faixa etária da elegibilidade garantindo como idade mínima de 18 anos para vereador, prefeito, deputados estaduais, distritais e federais e 27 anos para senador, governador e presidente da República.
14) Fim da obrigatoriedade do serviço militar e criação de programas alternativos de serviços sociais não-obrigatórios.
15) Criar o Sistema Nacional de Políticas Públicas de Juventude que confira status de ministério à Secretaria Nacional de Juventude, exigindo que a adesão de estados e municípios seja condicionada à existência de órgão gestor específico e respectivo conselho de juventude. A partir de dezembro de 2009, os recursos do Fundo Nacional de Juventude, do ProJovem e demais programas de juventude, apenas continuarão a ser repassados aos estados e municípios que aderirem ao sistema.
16) Assegurar os direitos dos povos e das comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, ciganos, comunidades de terreiros, pescadores artesanais, caiçaras, faxinalenses, pomeranos, pantaneiros, quebradeiras de coco babaçu, caboclos, mestiços, agroextrativistas, seringueiros, fundos de pasto, dentre outros que buscam ser reconhecidos), em especial da juventude, preservando suas culturas, línguas e costumes, combatendo todas as práticas exploratórias e discriminatórias quanto a seus territórios, integrantes, saberes, práticas culturais e religiosas tradicionais.
17) Estabelecimento de políticas públicas culturais permanentes direcionadas à juventude, tendo ética, estética e economia como pilares, em gestão compartilhada com a sociedade civil, a exemplo dos Pontos de Cultura, que possibilitem o acesso a recursos de maneira desburocratizada, levando em consideração a diversidade cultural de cada região e o diálogo intergeracional. Criação de um mecanismo específico de apoio e incentivo financeiro aos jovens (bolsas) para formação e capacitação como artistas, animadores e agentes culturais multiplicadores.
18) Incentivar e garantir à Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp/MJ) a inclusão em todas as esferas dos cursos de formação dos operadores/as de segurança pública e privada em nível nacional, estadual e municipal no atendimento e abordagem e no aprendizado ao respeito à livre orientação afetivo-sexual e de identidade de gênero com ampliação do DECRADI – Delegacia de Crimes Raciais e Intolerância.
19) Ratificação imediata da Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência da Organização das Nações Unidas (ONU) como emenda constitucional.
20) Garantia de políticas públicas integradas que promovam a geração de trabalho e renda para o jovem e a jovem do campo, com participação da juventude na sua elaboração e gestão. Assegurando o acesso a terra, à capacitação e ao desenvolvimento de tecnologia sustentável apropriada à agricultura familiar e camponesa voltada para a mudança de matriz tecnológica. Transformar o Pronaf Jovem em uma linha de crédito para produção agrícola e não-agrícola.
21) Assegurar, no âmbito das Políticas Públicas de Segurança, prioridade às ações de prevenção, promoção da cidadania e controle social, reforçando a prática do policiamento comunitário, priorizando áreas com altas taxas de violência, promovendo a melhoria da infra-estrutura local, adequadas condições de trabalho policial, remuneração digna e a formação nas áreas de Direitos Humanos e Mediação de Conflitos, conforme as diretrizes apontadas pelo Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci).
22) Estabelecimento de cotas de exibição e programação de 50% para a produção cultural brasileira, sendo 15% produção independente e 20% produção regional em todos os meios de comunicação (TV aberta e paga, rádios e cinemas). Valorização dos artistas locais garantindo a preferência nas apresentações e prioridade no pagamento. Entender os cineclubes como espaços privilegiados de democratização do aúdio visual.

OIJ convida Alain Touraine para falar sobre Imigração na Casa de América, em Madrid


“Em nosso mundo, quando falamos de emigração e imigração não estamos falando disto propriamente, estamos falando do estancamento do velho mundo ocidental”, disse o sociólogo francês Alain Touraine, um dos mais importantes pensadores da atualidade, no debate “Os Anos Jovens da Imigração”, promovido pela Organização Ibero-americana de Juventude, em casa de América Madri, no ultimo dia 21 de maio. Alain Touraine destacou a necessidade de tratar o tema a partir de uma perspectiva realista e razoável, e disse que a idéia de que Europa não tem recursos para aceitar imigrantes é absurda. “Por suposto que temos recursos, temos imensos recursos”, disse. O pronunciamento ocorre num momento em que os governos da União Européia pactuam uma proposta diretiva para a expulsão de cerca de 8 milhões de indocumentados e para a ampliação do período de retenção até 18 meses em centros de internamente espalhados em toda a Europa.“Quero que nos enfrentemos com problemas reais. Se se aceitam mais emigrados, isto vai ser um obstáculo ou uma ajuda a um melhor crescimento econômico? É um tema muito complicado. Se as pessoas que vêm vão tomar os postos de trabalho dos que estão, não vai ser uma solução. Mas o caso é que em nossa época, se vai criar um número enorme de empregos novos, que vão ter um papel muito importante. Então o problema, é saber, no momento atual, quais são as prioridades?” Touraine destacou a necessidade de dar uma resposta à imigração com boa vontade, com obras e políticas sociais. “Há que dizer que nossa sociedade dedica mais da metade de seus recursos a atividades que não têm nada do que ver com a produção e o consumo. É ridículo nesta situação dizer que não há espaço para mais imigrantes em Europa. Mas não há possibilidade de integrar nem uma pessoa enquanto não estejamos decididos a dar prioridade à integração, e enquanto a sociedade de que somos parte continue oferecendo a nós uma parcela minoritária do esforço que fazemos, de nossa participação no mercado de trabalho nacional e internacional”, sublinhou.O sociólogo explicou que as restrições migratórias são parte de uma estratégia econômica para garantir a sobrevivência de empresas pouco competitivas. “Encontramos uma solução muito interessante, muito inteligente: Dissemos: Vamos proibir a entrada. E proibimos a entrada de tal maneira, que graças a nossa inteligência temos uma mão de obra sem ônus sociais, que não pode discutir o preço do salário porque é denunciada à polícia. A utilidade é muito grande, a política dos indocumentados, dos sem papéis, é de criar na margem da sociedade uma zona de salários baixos que permitem a empresas que não são muito competitivas ou que não são muito trabalhadoras sobreviver graças à baixa dos salários que conseguem”.Num segundo bloco de sua apresentação, Touraine falou do problema de integração da terceira geração de emigrados em França e ressaltou o fracasso tanto das políticas de assimilação como das de multiculturalismo. “Há duas coisas inaceitáveis, a primeira é dizer que as culturas são totalmente diferentes, fomentar um multiculturalismo sem comunicação, (isto é, um comunitarismo fechado), a outra é dizer que há um só país, uma só parte do mundo, que é moderna, que é racional, e que se deve dar a oportunidade aos outros para que se transformem em gente como nós mesmos, em pessoas tão inteligentes e formosas como nós”, ironizou. “Todas as políticas devem combinar elementos de direitos universais e de reconhecimento da multiplicidade e pluralidade das culturas e das histórias. A integração social significa compartilhar os aspectos positivos e negativos de determinada sociedade. É necessária uma recomposição da sociedade para permitir a integração de gente de todo mundo”.Em França, segundo Touraine, vive-se um processo de desintegração social. O problema surgiu na terceira geração de imigrantes. “Em 15 anos a situação decaiu enormemente. A criação da brecha é o resultado do ódio que há entre a maioria que se sente ameaçada e a minoria que sente desprezada, discriminada e as vezes segregada. “São os estrangeiros que chegam, são minorias lingüísticas, religiosas, sexuais, e a imobilidade é a que cria problemas, uma sociedade imóvel num mundo que muda não pode aceitar novos membros sem distúrbio, sem violência, sem guerras civis, coisas que sucederam muitas vezes. No caso de França, no século XIX quando os italianos eram muito numerosos, houve uma série de incidentes com mortos, isto é muito comum, e é mais dramático com povos mais diferentes”.
Debate
A conferência de Touraine foi antecedida por um importante debate, do qual participassem o secretário geral adjunto da OIJ, José Manuel Miguel, o diretor geral do Injuve, Gabriel Alconchel e María Gómez Villanueva, de Acobe, com a moderação do psicólogo social Ricardo Zúñiga. O secretário da OIJ, José Manuel Miguel, dedicou sua explanação a desmistificar vários das percepções usuais sobre a imigração e ressaltou que enquanto esta seja vista como um problema não se poderá avançar para soluções.Gabriel Alconchel, por sua vez, destacou que é necessário dar condições para que a diversidade seja aceitada com mais facilidade. “Há demasiada gente que esta interessada em inocular aos jovens este veneno ideológico, do medo ao outro, ao diferente. O que esconde esta perspectiva reducionista é um discurso interessado, que nos leva a uma idéia básica: privatização dos benefícios e socialização dos custos”.Alcochel sublinhou que o trato à imigração é uma questão de prioridade, que se relaciona diretamente com o papel de reforçar o estado de bem estar e a redistribuição de riqueza. Também destacou a necessidade de reforçar o protagonismo dos jovens imigrantes. “É fundamental que os jovens em geral e os jovens imigrantes se beneficiem da participação e da associação, para que a responsabilidade da integração não recaia somente no governo, mas também na sociedade civil”.O debate “Os anos jovens da imigração” ocorreu no marco de atividades do Ano Ibero-americano de Juventude e da XVIII Cume Ibero-americana de Chefes de Estado e de Governo, que se realizará em El Salvador em outubro de 2008, com o tema central "Juventude e Desenvolvimento".