quinta-feira, 3 de dezembro de 2015
segunda-feira, 2 de novembro de 2015
MARIA FLOR: CRÔNICA DE VOVÔ EMPRESTADO
quinta-feira, 9 de abril de 2015
REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL
QUANDO NÃO BASTAM DISCURSOS ...
Radicalmente contra esta redução, como muitos
outros, encontro-me estonteado frente a pessoas que afirmam o contrário. Tonto
porque as razões não convencem; tonto porque é cruel demais. Trabalho com adolescentes
e jovens há mais de 40 anos e não entendo que uma verdadeiro/a educador/a
esteja a favor de uma proposta dessas. Sinto-me estonteado, igualmente, com os
meninos e meninas de 15 a 17 anos afirmarem o mesmo, vendo seus
“companheiros/as” condenados por praticarem atos ilícitos, mesmo que os
argumentos fiquem, na maioria das vezes, em lamentáveis mas isolados crimes
chamados de hediondos.
Alguns documentos da Igreja afirmam que o jovem é “lugar
teológico”, ou seja, uma das expressões do rosto de Deus. Frente a isso, como
se dá o posicionamento da Igreja frente à redução da maioridade penal?
·
A resposta da Igreja Católica é
um “não” decidido, mesmo que ela não saiba o que é afirmar que o jovem é uma
realidade teológica ou, então, um lugar teológico. Mesmo que esta Igreja seja
mais decidida quando se trata de aborto do que quando o discurso é o extermínio
de jovens, ela é contra. Não só porque o adolescente é uma realidade teológica, mas porque é uma
questão de amor, de respeito e de humanidade. Só uma sociedade que não se ama,
isto é, tanatófila, pode querer, como medida educativa, um presídio para
adolescentes, ainda mais presídios que estamos acostumados a ver, onde – não só
por casualidade - os “condenados” são negros, pobres e jovens.
Aprovar a redução da
maioridade penal é tomar uma postura classista, onde o pobre não existe ou
deveria ser morto. Como é que se entende que uma sociedade seja tão violenta
que não compreenda que a percentagem mínima de homicídios cometidos por
adolescentes mereça tal castigo? Não se nega que o/a adolescente possa cometer
atos hediondos. Contudo, o que é hediondo? O que faz que pessoas corruptas,
roubando o dinheiro do povo em milhões e bilhões, não estejam cometendo crimes
hediondos?
É evidente que está em jogo o
paradigma que se tem, olhando o segmento adolescento-juvenil. Ou é um segmento
que é visto que não tem preparo; ou um segmento que é o futuro, isto é a
solução futura de todos os desafios; ou um segmento que é um problema, que só
sabe o que não se deve fazer. Percentagem pequena defende o paradigma que aposta
no adolescente e no jovem, ajudando-o/a a construir sua autonomia. Talvez a
questão paradigmática seja bem mais simples: inventar uma lei que atinja essa
meninada pobre que assalta, rouba, ameaça, faz arruaça porque se sentem
agredidos por um mundo de adultos que se esqueceu que também foi adolescente.
Existe uma participação da mídia quanto à formação desta
opinião ou é apenas uma desinformação quanto às medidas socioeducativas a que
são submetidos adolescentes e jovens infratores?
·
Quem ensina a violência? Quem
é violento: a sociedade ou os meios de comunicação? Os adolescentes são
violentos porque eles querem ou porque são obrigados a sê-lo? Não se trata de
uma desinformação, mas de um modo de ser. Apesar de haver muita bondade no mundo,
não há dúvida que há muita violência. Há muitas formas de matar, de ferir, de
humilhar, de desprezar. Mesmo que haja tido erros com relação à prática do Estatuto da Criança e do Adolescente
porque somos levados a ver, no adolescente e na criança, somente seus deveres e
não seus direitos? O que faz que a sociedade tenha medo do segmento juvenil,
principalmente quando se trata de pobre, de negro e de periferia? Fazer
perguntas é parte da reação diante de uma situação chocante. A sociedade em que
vivemos, as famílias que enxergamos desaprenderam a educar. Vivemos num mundo
que parece que desaprendeu a ter limites e de ensinar limites.
A
função da sociedade para com a juventude está explícita tanto no Estatuto da
Criança e Adolescente (ECA) quanto no recém-sancionado Estatuto da Juventude.
Questões como assegurar saúde, alimentação, educação, esporte,
profissionalização, dignidade, respeito, liberdade e convivência familiar e
comunitária estão presentes em todo o texto. Qual o motivo que distancia tanto
a teoria da prática? Porque, de fato, nossos adolescentes e jovens se veem
privados de tantos direitos?
·
A resposta precisa ser dura: estão-nos
acostumando a sermos comandados pela aparência. Nem a palavra nem a lei valem.
Vivemos num mundo farisaico onde a simplicidade e a sinceridade de um Francisco
provoca admiração e espanto porque é costume ver outras coisas. A distância
entre o real e o ideal é muito grande. Fazem-se leis e estatutos para o inglês
ver... Não há ética; há negócio. Não há moral porque só vale o que dá vantagem
para meu bolso. Não se trata de idades; não se trata de conceitos; trata-se de
sentimentos, de humanidades, de alteridades. Não se trata de discursos. É um
debate que mexe com a sociedade, mas foge dos verdadeiros problemas. É um
engodo. É verdade que a corrupção esteve e está na rua, mas também é verdade
que em certos ambientes a discussão não é o que seja corrupção mas a maneira
como se pode enganar mais as leis.
·
Qual o interesse do debate sobre a
redução da maioridade? Todos sabem que não é a vontade de combater a violência.
Todos sabem o que é ter raiva quando somos assaltados, quando somos ameaçados
por um canivete ou uma arma (por vezes de aparência), quando somos roubados de
coisas queridas; será que esta raiva que se experimenta, o adolescente não
sente na pele vendo o que se faz com ele em muitos espaços? Não se defende olho
por olho mas é muita cegueira não enxergar que os adolescentes visados pela
redução são imagens da sociedade na qual vivemos.
Fazendo
uma análise de conjuntura e percebendo a realidade dos presídios no país é
possível pensar que aprisionar adolescentes e jovens que cometem delitos em
celas seja a melhor forma de ressocialização?
·
A resposta deve ser descarada assim
como é descarada a pergunta. O que se quer não é a ressocialização; o que ser
quer é a morte, o extermínio. São raivas transformadas em vinganças. Claro que
são possíveis regenerações ou ressocializações, mas não é em celas como se
vêem. Haveria ressocialização de corruptos, ladrões de quantias que nem se
contabilizam? O desafio é a educação; o desafio é a mudança, a conversão. Qual
a diferença entre os ensaios de crime de adolescentes e os crimes de verdade
dos adultos?
Considerando o Estatuto da Criança e do Adolescente e o
Estatuto da Juventude, pode-se considerar que a redução da maioridade penal
como um retrocesso?
·
Na busca de soluções pode
haver muitas tentativas. Os Estatutos dos quais se fala foram, para uns um
avanço e para outros uma calamidade. Sempre dependemos de visões de mundo onde
entra em jogo o real amadurecimento das relações, isto é, da convivência humana.
A questão de paradigmas mexe com o mais profundo das posições das pessoas, onde
os absolutos, os respeitos, as belezas, as personalidades, os amores, as
diversidades, as honestidades, as sensibilidades, as alteridades, as visões de
mundo comandam as leis e a elaboração de leis. Algo ser denominado de
“retrocesso” ou “avanço” depende tudo isso e muito mais. Trata-se de responder
a que? Parece que um dos grandes motivos da discussão é a diminuição da
violência. Para diminuir a violência a solução não é a que se defende com uma
redução da maioridade. A questão é outra, muito mais radical: uma sociedade que
não seja nem pratique a violência. Ver a solução no debate da redução da
maioridade penal é um enorme engodo, uma infinita mentira, um retrocesso lastimável.
Não é uma solução racional; é um sentimento descontrolado que tem chance de se
manifestar.
O
pensamento reacionário, simplista e infeliz que afirma que “já que é bom, leva
para morar com você” é muito presente no discurso de grande maioria das pessoas.
Qual a intenção das instituições e pessoas, como a mídia e os políticos, quando
apregoam pensamentos como este?
·
Primeiramente, é um discurso que de fato se ouve. Significa:
só aceito conviver com pessoas perfeitas, completas, paradas, que não incomodam.
Prefere-se que “o outro” seja sempre uma criança que não tem condições de
responder e é condenada a aceitar, desarmada (talvez revoltada) os gestos de
amor e de manipulação dos quais é objeto. É um egoísmo soberano que não se tem
coragem de expressar, mas que é posto em prática no fundo dos armários
existenciais. Certas coisas se decidem no escuro, às escondidas. É a aparência,
a hipocrisia, a falsidade.
Não adianta recordar algumas conclusões
sobre a redução da maioridade, isto é, que menos de 3% do
total dos crimes violentos cometidos no Brasil têm adolescentes como autores;
que a legislação brasileira relativa às crianças e aos adolescentes é
considerada modelo pela ONU; que temos 54 países que reduziram a maioridade
penal e em nenhum houve redução da violência; que reduzir a maioridade penal
isenta o Estado do compromisso com a juventude. Nem adianta argumentar com um pequeno pronunciamento do Papa
Francisco em abril de 2015:
·
Não descarreguemos sobre as
crianças as nossas culpas [...] O que fazemos das solenes declarações dos
direitos humanos e dos direitos da criança se depois punimos as crianças pelos
erros dos adultos? [...]
·
Toda criança marginalizada,
abandonada, que vive pelas ruas mendigando e com todo tipo de expedientes, sem
escola, sem cuidados médicos, é um grito que sobe a Deus e que acusa o sistema
que nós, adultos, construímos.
O que falta, em todo esse debate, é o encanto
pelo/a adolescente e pelo/a jovem. Ser encantado pela juventude é amá-la, estar
perto dela, ser curioso com o que sucede com ela, estudá-la, dar a vida por
ela, escutá-la. É ser apaixonado por ela. Comer com ela do mesmo pão... É não
ter medo dela. Em Copacabana, o Papa Francisco (2013), além de insistir no
acompanhamento aos jovens, dizia: Não
tenham medo de ir e levar Cristo para todos os ambientes, até as periferias
existenciais, incluindo quem parece mais
distante, mais indiferente. Estamos
falando de um compromisso com a vida da juventude. O que é preciso é o
encantamento com as periferias existenciais, isto é, com as periferias que
necessitam de cuidado. Compromisso que passa por uma pastoral de processo, pelo
cuidado com os/as jovens, pelo respeito à juventude, pelo conhecer a realidade
juvenil, pelos sonhos dos jovens, pela opção de conhecer e carregar com os/as
jovens suas cruzes e pelo encanto por ela.
É muito bonito, igualmente, ouvir o Papa Francisco falar aos jovens
que sejam revolucionários: Eu peço que vocês
sejam revolucionários, que vão contra a corrente; sim, nisto peço que se
rebelem: que se rebelem contra esta cultura do provisório que, no fundo,
crê que vocês não são capazes de assumir responsabilidades, que não são capazes
de amar de verdade. Tenham a coragem de “ir contra a corrente”. Tenham a
coragem de ser felizes! Misturam-se, nas palavras, a revolução, o ir contra a
corrente, a rebeldia, a superação do provisório, o incentivo à crença na
felicidade. Nas palavras dele, soube misturar alegria, compromisso, amor aos
pobres, proximidade, coragem, rompimento de normas: atitudes que encantam,
especialmente os jovens, porque a vocação deles/as é serem desviantes, mesmo
que isso nos incomode e faça ter medo.
Quando tudo isso provoca medo ou é negado, é difícil um
diálogo sobre aquilo que se ama.
sábado, 7 de fevereiro de 2015
NO RITMO DO XI ENCONTRO NACIONAL DA PASTORAL DA JUVENTUDE EM MANAUS
Uma crônica pobre,
mas de assunto bonito
Quando embarcava de volta para casa, em
Goiânia, meu coração estava mexido. Não chorei mais porque as “aduanas”
implicaram com meus suspensórios e eu resisti. Uma emoção forte, vindo de
várias vivências, quiseram explodir em mim e chorei às escondidas. Imaginem um
idoso, de quase 78 anos, chorando em público... Tinha estado em Goiás, rezando
com um grupo, a mística do sabor e da resistência. Inspirados no lugar bíblico
Jerusalém, caminhamos levados pelo
mistério de alguns verbos: ver e olhar, caminhar, falar, sentir e fazer. Em
Goiânia fiquei hospedado com um amigo de muitos anos: Lourival Rodrigues da
Silva, envolvido numa quimioterapia infernal por causa de um câncer. Por vezes
estas e outras dores quase nos derrubam. Isso foi em Goiânia e Goiás onde,
entre outros amigos especiais, estava o Geraldo, a Carmem e o Berg que teve o
azar de torcer o pé querendo ajudar-me no carregamento de minha mala que levava
um monte de coisas inúteis. Goiânia é um lugar onde se ama a juventude e um
lugar em que pessoas de Igreja enxotam juventudes.
Viera de Brasília, onde tinha ido para
não fazer nada com a número 1 de minha vida (Raquel) e o “sapeco” (como diz a
Luana, filha de Joadir e Janete) chamado Joaquim. Em Brasília fui aluno de uma
escola particular de geriatria... É que eu desejava aprender de novo a ser avô.
Como disse, não fiz nada, mas consegui encontrar-me com gente de tempos
passados (agora todos grandes): Adriano (cego que assou churrasco), Alsimar
(além de outras coisas, criando cabras), Janete que recordou muitas coisas
vividas, Sueli (a esposa de Adriano e mãe de Edu), Edgar (que pensa em casar),
Ernani que é de Caxias e há séculos eu não via, Leandro o mesmo de sempre,
trabalhando no Portal da ANEC e não sei quem mais, a não ser a querida Larissa
que achei mais linda ainda.
Antes, eu estivera em Manaus, de 21 a 25
de janeiro, no XI encontro Nacional da Pastoral da Juventude. Fui lá de
enxerido, tendo a passagem custado uma boa briguinha com meu confrade
encarregado das finanças. Encontrei o pessoal todo na manhã do dia 22/1, na oração
da manhã, na qual tive que falar umas poucas coisas, com tempo marcado. Disse que não vinha para falar, mas ver a
rapaziada, ver o horizonte, a utopia e a juventude como realidade teológica.
Depois que voltei para casa, encontrei um papel onde anotara algumas ideias que
deveria dizer, caso me dessem a palavra. Antes da viagem, eu escrevera que “eu
vim para contemplar e ver”.
Queria ver se aí tinha corações grandes
para abraçar o Reino, queria ver se aí tinha gente com vontade de construir
comunidade e se havia coragem e lucidez para enfrentar diversos diabos: o diabo
do egoísmo, do ódio ao pobre, da divisão, da manipulação, da mentira, da
corrupção e outros diabos. Eu anotara também que devia dizer que o testemunho é
que vale; que a galinhagem não leva à nada; que a importância do Projeto de
Vida continua em pé e que não tivessem medo de amar a identidade pejoteira, de
verdade, assim como a Laisa e o Luis Duarte parece que falaram.
Do que eu vi e senti do Encontro
Nacional tentarei dizer pequenas coisas. O Encontro foi uma coisa linda e
significativa: de embevecer e de
assustar. Direi pequenas coisas:
1.
O Encontro foi bom. Foi um verdadeiro banho de poesia,
de mística, de arte, de juventudes, de adolescências, de acolhida para toda a
Pastoral da Juventude do Brasil. Discutiram-se assuntos sérios, alguns de forma
bem provocadora. As juventudes reunidas, vindas de todos os cantos do Brasil
tomaram um banho e deram um banho em Manaus e na Igreja. Encontro bom é onde se
pensa, se ri, se dança, se troca partilhas, se descobre, se aprofunda, se
penetra no horizonte e na utopia. Manaus foi simbólica; o encontro das águas
foi simbólico; a presença desconcertante de algumas autoridades foi simbólica;
ficou claro que o serviço é mais poético que o poder.
2.
Fomos levados a viver, no XI Encontro Nacional da
Pastoral da Juventude, o louco mundo do dionisíaco, com suas seduções onde,
mais do que a razão, a organização, a postura de militantes dos anos oitenta,
foi substituída pelo mundo da arte, da dança, da questão de gênero, do encontro
erótico do encontro das águas do Solimões e do Rio Negro, da mística, da
poesia, mesmo que isso significasse igualmente uma linda caminhada dos
mártires. Mesmo abafada pelos prédios da burguesia, os gritos, os cantos, as
reivindicações da caminhada dos mártires foram aos ares, misturadas de
Pai-Nossos e Ave Marias. Dos prédios altos, quase ninguém quis ver o que
acontecia lá em baixo, na rua.
3. A coisa mais
inesperada do Encontro foi o reconhecimento do trabalho pedagógico e formador
da Pastoral da Juventude. Depois de tantos anos de perseguições, desprezos,
ironias, proibições, negações de verba e tanta coisa, além de ouvir de um dos
bispos da Comissão Episcopal de Pastoral para a Juventude que “a Pastoral da
Juventude é a maior escola de formação de lideranças de Igreja no Brasil”, foi
bom. Maravilhoso, contudo, foi receber uma carta da Papa Francisco dizendo que a Igreja também ama vocês e por
isso lhes peço que não se deixem abater pelas coisas que possam chegar a ouvir
da juventude; em todo tempo histórico se falou pejorativamente dos jovens,
mas também em todo tempo foi essa mesma juventude que dava testemunho de
compromisso, fidelidade e alegria. Nunca percam a esperança e a utopia,
vocês são os profetas da esperança, são o presente da sociedade e da nossa
amada Igreja e sobretudo são os que podem construir uma nova Civilização do
amor. Joguem a vida por grandes ideais. Apostem em grandes ideais, em coisas
grandes; não fomos escolhidos pelo Senhor para coisinhas pequenas, mas
para coisas grandes!
Numa das plenárias ouvi coisas que nunca ouvira ter
sido dito em plenária. Muita coisa se relacionava com a homoafetividade,
completando o cenário que se vivia desde as mais diversas periferias até aquele
local da Ponta Negra onde se realizou a celebração da abertura com cores,
movimentos, sons, mantras, estribilhos, preocupações, amores e raivas que
pareciam brotar do fundo das águas das juventudes.
4. Só quem
acompanhou de perto os milhares de conflitos da Pastoral da Juventude, dentro e
fora da Igreja, pode imaginar o que significaram alguns pronunciamentos num
Encontro Nacional. Claro que ao lado dos que vibraram e vão vibrar, há e haverá
os que rangem os dentes, chegando a dizer que a carta foi forjada, que o Papa,
de novo, falou demais... A alegria de algumas afirmações nos reportava para a
história, quando apareciam documentos como o Marco Referencial da Pastoral da Juventude, o documento fundamental
Evangelização da Juventude, Desafios e
Perspectivas Pastorais ou, então, Civilização
do Amor – Projeto e Missão. Encontrões, marchas, reivindicações, bandeiras
de luta, místicas de fazer as estrelas pularem de alegria, tudo estava lá. O que
importa é que foram palavras confortadoras e de alento para um rebanho jovem
acostumado às chicotadas, mas que sabe do esforço que faz em muitas partes.
5.
Como escrevi numa outra vez, o sabor e a resistência
sempre foram os condimentos da sopa da vida. A sopa, contudo, por vezes, tem
gosto de Belém, de Nazaré, de Cafarnaum, de Betânia, Samaria e dos diferentes
gostos e sabores que têm os momentos que vivemos. Embora os sabores estejam em
cada um dos “momentos” e de nossos “acampamentos” o sabor e a resistência mais
suada, no entanto, situa-se em Jerusalém. O encontro de Manaus foi Belém, foi Cafarnaum,
foi Betânia, foi Genezaré... O encontro de Manaus foi manauara. Foi
reconhecimento. Se os olhos dos/as quase 800 jovens presentes brilharam,
brilharam muito os olhos das dezenas de assessores/as que vinham de muitos
lugares e deixaram um recado forte e juvenil ao clero de todo o Brasil. Entre
outras coisas, eles dizem: Machuca o
coração quando ouvimos de jovens engajados na vida das comunidades, partilhas
que dão conta de revelar as barreiras criadas por presbíteros de nossa Igreja à
caminhada e processo de formação na fé de nossas/os jovens. Sabendo de nossas
limitações e fragilidades no acompanhamento às/aos jovens, com humildade
pedimos perdão por nós e por nossos irmãos presbíteros por tantos espaços
fechados dentro da Igreja.
6.
Em meio ao desencanto e ao
conservadorismo de muitos tipos, o Encontro de Manaus conseguiu encantar.
Bastava ver como os/as adolescentes que ajudavam na infraestrutura pulavam de alegria. Não se negam os conflitos
e as dificuldades, mas o que se via eram sorrisos, belezas, gente descobrindo
que o grupo é o lugar da felicidade do jovem. Apesar das dores, dos extermínios
(em Manaus foram mortos, naqueles dias ao menos dois jovens), apesar da
tendência autoritária, grosseira, violenta, individualista, de desprezo pelos pobres
e até pelo Brasil, Manaus conseguiu ver, nesta semana, uma juventude bonita que
sabe que é mais bonita quando tem causas para se lutar por uma civilização do
amor.
7.
Disseram-me que o pouco que falei
em Manaus teve toada simeônica, isto é,
de Simeão, o velho do Evangelho que, quando viu Jesus, disse que podia partir
em paz (Lucas 2, 29). Sei que sou
indigno da comparação, mas aceito por vir da boca de quem veio. Se os pés estão
pesados, é muito bom saber que em Manaus os sonhos são leves, bonitos,
misturados de águas, índios, horizontes, matas, rezas, esperanças e utopias.
Hilário Dick
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