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quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Pacto pela Juventude será discutido em todo o Brasil

O Conselho Nacional de Juventude (Conjuve) lançou na semana passada em Brasília o Pacto pela Juventude. O Conselho inicia uma série de atividades em várias capitais para divulgá-lo e buscar apoio para os programas que vão beneficiar a juventude brasileira. O Pacto já foi apresentado nas cidades de São Paulo (SP) e Belo Horizonte (MG) e, nesta semana, será a vez de Porto Velho (RO) e Rolândia (PR) discutirem o Pacto.

O Pacto é uma proposição do Conjuve aos governos federal, estadual e municipal, bem como aos candidatos a prefeito e vereador, para que se comprometam com as Políticas Públicas de Juventude nas suas ações de governo e plataformas eleitorais, respectivamente. Em Belo Horizonte, o pacto foi apresentado pelo presidente do Conjuve, Danilo Moreira, na sede da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC/Minas), para os candidatos a prefeito da capital. Depois dos debates em torno do tema juventude, os candidatos são convidados a assinar o termo de compromisso, que sela o comprometimento do signatário com as políticas juvenis.

Na avaliação do deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), é importante que o Pacto chegue a todos os municípios. "O trabalho que estamos realizando com o apoio do presidente Lula vem trazendo resultados positivos para o desenvolvimento do nosso país, por isso é primordial e valioso o encontro com os líderes dos municípios", frisou. O parlamentar explicou que o encontro com os prefeitos, vereadores e os demais líderes de municípios irá fortalecer o Pacto. "O compromisso com o Pacto é suprapartidário, é necessário o apoio de todos os políticos para obtermos o melhor resultado", destacou.

Para o deputado Vignatti (PT-SC), investir na juventude é fazer um Brasil diferente. "Nosso país está mudando e para melhor. Investir nos jovens é a iniciativa certa, começar a mudar pela 'raiz'. O Pacto da Juventude vai dar mais acesso e oportunidade para os jovens, diminuindo o índice de desemprego", disse.

O deputado lembrou os importantes programas lançados em prol da educação pelo presidente Lula. "O governo Lula tem demonstrado muita preocupação com os jovens, com isso vem atendendo e suprindo as necessidades que o Brasil precisa, exemplo disso são os programas ProUni, ReUni e Projovem que visam extrair o melhor potencial dos jovens de 14 a 29 anos", destacou Viganatti.

O objetivo do Conjuve é manter aceso o debate em torno das demandas apresentadas pela Conferência Nacional de Juventude, realizada em abril, em Brasília, e que reuniu mais de 400 mil pessoas em todo o país. O desafio agora é traduzir essas demandas em propostas, iniciativas, programas e projetos de âmbito nacional, estadual e municipal, capazes de atender efetivamente às necessidades e expectativas da juventude brasileira.

Fonte: http://www.ptnacamara.org.br/noticia.php?id=6386

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Emergência e Percepção de Novos Valores na Juventude (3)

Hilário Dick
Maio de 68
Para quem pensa em juventude e em emergência e percepção de valores, não pode esquecer que estamos vivendo, em 2008, 40 anos da memória do Maio de 68. Mais do que um maio francês, ele foi um maio mundial. Embora o “Maio de 68” não tenha sido um discurso somente de jovens, ele precisa, ainda, ser lido, especialmente pelo papel que os/as jovens exerceram nele. Apesar de tantas análises e revisões, o que foi, de fato, o Maio de 68[7]? Não é por nada que Zuenir Ventura, anos atrás, escreveu “1968 – o ano que não terminou”[8]. Há 40 anos atrás, quando os sessentões de hoje eram adolescentes (pouco mais ou pouco menos), qual foi o discurso juvenil daqueles anos efervescentes? Não há dúvida de que se não formos encantados pela juventude, isto é, encantados por nós mesmos, construindo a história e a novidade, as “sementes ocultas do Verbo” vão permanecer não só indecifradas, mas ridículas[9].

Entre as muitas perguntas que podemos fazer, uma delas poderia ser a seguinte: o Maio de 68 se explicaria sem tomarmos em conta, por exemplo, o que se fez com a juventude ou com o que os jovens fizeram nos anos de 1920 e 1930 no tempo dos falangistas, dos nazistas e dos fascistas e de outras tantas manifestações juvenis que nem conhecemos? Parece sempre mais evidente que há duas “forças” ou duas “realidades” – com relação ao tratamento que se dá à juventude – que vão-se revezando através da história. Por um lado, por parte do mundo dos adultos, movidos pela tradição, o que vale e o que se implanta, de diferentes formas, para o mundo inquieto da juventude, é a “moratória social”. Esta moratória não foi – como muitas vezes se diz – implantada no tempo da revolução industrial. A revolução industrial somente tornou mais evidente o uso e a sofisticação dela. Trata-se de uma atitude antiga de controlar a juventude, talvez pelo medo da novidade. Por outro lado, por parte do mundo dos jovens, o que procura manifestar-se de diferentes formas, é a “moratória vital”[10], de forma progressivamente sempre mais orgânica e organizada. São duas “energias” em eterno conflito. A velha luta do novo contra o velho, do tradicional contra a evasão, da ordem contra a desordem. Querendo ou não, – mesmo de forma nem sempre hegemônica - o jovem, sempre foi e sempre será a figura de “desordem”, a encarnação do previsto para o imprevisto, do caminho traçado para o caminho inventado, do sabido para o não-sabido.

Para compreender a realidade juvenil é preciso entender os “discursos” que os jovens fazem de diferentes formas: grafites, opiniões, músicas, manifestações de massa, formas de se articularem, vestimentas, modas, maio de 68, concentrações de Woodstock, rebeldias no México e na China, rebeldes sem causa, enfrentamento às autoridades, invasões de Universidades etc. O segredo está em não só estudá-los, mas também de compreendê-los em seus “discursos” e de vê-los como nos podem ajudar na travessia da vida que todos sabem não ser estagnada. É essa que deveria ser, também, a forma de compreender a atitude da sociedade com relação aos jovens. O “discurso” dos jovens e o “discurso” da sociedade ou dos adultos é, muitas vezes, um diálogo de surdos. Na maioria das vezes, por “culpa” dos adultos. Entram em jogo, por isso, os paradigmas que são usados quando se trata de estudar e trabalhar com a juventude.

Paradigmas

Na emergência e na percepção dos valores da juventude entram em jogo paradigmas que decidem nossa maneira de ler, compreender e trabalhar com a juventude. Pode-se dizer, por exemplo, que falar em “protagonismo juvenil” é fazer entrar, no discurso e na prática, especialmente através da educação em seu sentido amplo, não só a determinação política de uma sociedade, mas o “discurso” que se carrega com relação ao segmento juvenil. Dizer, por exemplo, que a democracia só se constrói numa sociedade com indivíduos que sejam “emancipados”, “sujeitos da história”, “empoderados”, isto é, protagonistas, não é um “discurso” inocente. Aliás, nenhum paradigma que se assuma, nesse campo, é sem conseqüências. Mais sério, ainda, torna-se quando chegamos a afirmar que uma juventude só se torna protagonista com organização. O que desejamos dizer com isso? Rubem Alves afirma, ironicamente, num de seus muitos escritos sobre a educação, que “a miséria da educação não aparece onde ela é pior”. “Sua miséria se revela justamente onde ela é excelente. Pois dizemos que ela (a educação) é excelente justamente ali onde ela consegue, com competência, administrar a qualidade dos corpos que ela deseja transformar. E que transformação é essa que se deseja? (...) Respondendo a essa pergunta, o mesmo autor recorda Nietzche dizendo que “a universidade é uma fábrica para a produção de conhecimento e de técnicos a serviço das muitas burocracias da sociedade” e que “o que as escolas superiores na Alemanha realmente realizam é um treinamento brutal, com o objetivo de preparar vastos números de jovens, com a menor perda possível de tempo, para se tornarem usáveis e abusáveis a serviço do governo”. Nós diríamos: a serviço dos interesses do sistema e não para a felicidade deles.

O que fica sempre mais evidente é que há paradigmas usados, consciente ou inconscientemente, na avaliação e no debate tanto dos estudos sobre a juventude como dos trabalhos educativos que se realizam junto-com-para os jovens. É uma questão de fundo do qual não se escapa. Procurando abranger estas “intervenções” no mundo juvenil, podemos dizer que se apresentam, nestas práticas, quatro paradigmas:

a) a juventude como etapa preparatória. O jovem é encarado, prioritariamente, como alguém que necessita ser “preparado”. A expressão histórica mais evidente desta “intervenção” é o que se costumou chamar, a partir da revolução industrial, de “moratória social”, uma realidade pedagógica e legal que, na história, se mostrou de diversas formas, onde a atitude do “adulto” se resume em “controlar” esta força nova – chamada “juventude” - que vai emergindo. “Enquanto você não pensa que nem nós (adultos) você fica obrigado a isso ou aquilo porque você não está preparado para ser o cidadão ou a cidadã que nós desejamos”. Nesta linha pode caminhar a escola, o internato, o serviço militar, a definição de certa idade para assumir algumas responsabilidades, a maneira como se tratam, pedagogicamente, “movimentos” ou “organizações” etc. porque “você não está preparado”... As atividades oferecidas, por isso, estão voltadas para a “formação”, tendo os adultos como os protagonistas das “informações” ou, então, daquilo que, por vezes, se chama “educação”. Supõe-se que os jovens só têm a aprender e nada para ensinar; o mundo dos adultos já sabe tudo que precisamos saber. Por isso o discurso do jovem como o futuro da sociedade e o jovem não sendo considerado no presente porque não está “preparado”. Mesmo que se diga que todos precisam de “preparação”, o jovem é olhado como quem só precisa de “preparação” e não é capaz de revelar algo de novo. Para quem se posiciona neste paradigma, no fundo, tudo já está sabido; tudo já está feito; não há novidade que possa provir de alguém que “ainda não tem experiência”. Parece que só vale determinada experiência e que a experiência “mais nova” não vale ou não existe.

b) a juventude como etapa problemática. O jovem é encarado como “problema”. “Problema” porque gera conflitos, porque faz coisas erradas, porque não respeita a tradição, porque faz coisas que não dá para compreender, porque desrespeita normas etc. Fica bastante evidente, na história, que o jovem é apontado como o culpado de muita coisa “errada” que acontece na sociedade. O que se lê e o que se ouve é que o jovem é um problema. Olhando, contudo, obras literárias e artísticas, muitos discursos da sociedade, reivindicando coisas melhores e utopias, são discursos colocados, estranhamente, na boca dos jovens. É o caso, também, da Bíblia, é o caso das tragédias gregas, é o caso dos jovens no século 16 (mudança de paradigma) aonde os jovens, numa sociedade tonta antes os valores novos que vão surgindo, eram elevados a serem os verdadeiros tutores da ordem e da censura moral etc. Até em “Dom Quixote de la Mancha”, de Cervantes e seus pícaros, isso é real. Quem derrota Quixote, levando-o a abandonar as suas loucuras de cavaleiro andante, são dois jovens: uma moça chamada Dorotéia, através do encantamento e um jovem recém-formado em Direito, chamado Sansão Carrasco, através do enfrentamento. O jovem “problema” torna-se, estranhamente e ao mesmo tempo, o jovem “modelo”...

Mesmo hoje em dia - se a juventude é um problema - quem é o adulto que não deseja ser jovem? A quem recorre a sociedade de consumo para vender seus produtos? O jovem, assim como é o modelo que se busca (= reivindicação), é visto como a causa dos problemas (= acusação) e as atividades oferecidas para ele vão na perspectiva da “prevenção” dos problemas: drogas, DST, gravidez na adolescência, prisões especiais etc. Tudo se “instala” movido por um espírito de desconfiança nos jovens; tudo que se oferece, desde o lazer até a cultura, tem essa perspectiva de ocupar o tempo destes/as jovens para que não façam besteira. A conseqüência da vivência desse paradigma é que nem a escola, nem o lazer nem o trabalho sejam encarados como “eixos integradores”[11]. Não basta ter colégio, não basta ter espaços de lazer, não basta ter trabalho; todos esses “instrumentos” precisam ser eixos integradores das pessoas e da sociedade. Atrevendo-nos a olhar o mundo da educação com certo senso de desconfiança um tanto radical, poderíamos perguntar-nos: Qual o diretor de “nossos” colégios não reconhece que, de fato, a educação-educação, a educação encarada além da “informação”, em suas instituições, não se dá, realmente, nas salas de aula, mas fora dela, isto é, nos “desvios” da própria vida escolar, levando – muitas vezes – a uma rendição da “educação” desejada pela “informação” sempre mais impulsionada?

Numa linguagem mais sarcástica – que tem suas tristes verdades – podemos dizer que esse “paradigma” de olhar, estudar e trabalhar com jovens não respeita e não ama, de fato, o jovem. Poder-se-ia dizer, até, que se foi levado a ter medo da juventude e não a estar encantado por ela, nos desafios que nos lança.

c) a juventude como potencial ou revolucionária. Conforme este paradigma, olha-se a juventude como fonte de renovação: um segmento da sociedade capaz de transformar o mundo. O exemplo histórico que encarna, de algum modo, esse paradigma é a forma como o fascismo de Mussolini foi capaz de olhar a juventude nas décadas de 1920 e 1930[12]. Olha-se a juventude como solução; quer-se uma juventude articulada e organizada, movida pela questão social e pelo dinamismo político; uma juventude que seja um discurso para o todo da sociedade, encarnando a utopia e o sentido do país, inclusive com uma sexualidade orientada para a procriação. Tudo isso discutido por filósofos, políticos, artistas e intelectuais. Nesta perspectiva responsabilizam-se os/as jovens pelas mudanças na sociedade e colocam-se, nos ombros deles/as, a responsabilidade das transformações sociais.

Não é por nada que, no Brasil de Getúlio Vargas, em 1937, quase se implantava a “juventude brasileira” moldada nas experiências européias da Alemanha e da Itália a partir do Ministério do Exército, da Educação e da Justiça... De forma um tanto romântica, o futuro se concentra na juventude, movidos por interesses e não pela valorização do jovem como tal. A Conferência Episcopal Latino-Americana, em 1968 (há 40 anos)– talvez um pouco inspirada neste paradigma - falava, por isso, da juventude como “força de pressão social”, encaminhando decisões que olhavam a juventude, na ótica desse paradigma.

d) a juventude como sujeito de direitos, no caminho da autonomia. É um paradigma que aposta na formação da juventude em sua personalidade, através de uma pedagogia que considera todas as dimensões da pessoa, inclusive a teológica. É o paradigma que custou a aparecer, mas que se expressa, por exemplo, de alguma forma, no documento recente dos bispos do Brasil intitulado “Evangelização da Juventude: desafios e perspectivas”. Este paradigma deseja partir daquilo que constitui a felicidade (= realização) do jovem. É levado por um “credo pedagógico” que se traduz na valorização grupal, na importância da organização, no trabalho com os diferentes “tipos” de jovens, na formação integral e na importância do que chamam de “acompanhamento”, dando lugar privilegiado à elaboração do projeto de vida e ao método da experiência ou da necessidade de partir da realidade. Em vista disso, um instrumento que se torna fundamental é o planejamento do trabalho com e dos jovens. Um outro aspecto que não pode ser esquecido é a implementação de políticas públicas de-com-para os jovens. Não se deixa levar nem pelo espiritualismo, nem pelo psicologismo nem pelo politicismo, mas deseja fomentar uma pedagogia que tome em conta, realmente, todas as dimensões da pessoa humana, presentes, latentes e vivas em corpos juvenis. Uma palavra decisiva que é assumida, então, é “protagonismo” ou, então, empoderamento, autonomia, emancipação.

Conclusão 1

Esses paradigmas de compreensão do fenômeno juvenil manifestam-se em muitos campos, principalmente quando está em jogo o relacionamento vívido de adultos e jovens. Por que demorou tanto o aparecimento significativo de “movimentos juvenis” na história? Está em questão, igualmente, todo o trabalho educativo dos jovens através das escolas e colégios. É dramático encontrar Congregações e outras entidades que se dedicam à educação da juventude como carisma (uma delas tinha, no século XVII, mais de 500 colégios sob a sua responsabilidade) que, nos seus documentos normativos e pedagógicos, não falem quase nada de juventude. É que os “alunos”, além de não serem encarados como “jovens”, só têm a aprender e nada a ensinar. É questão de paradigma...

O estudo da emergência e da percepção de novos valores na juventude inscreve-se, igualmente, numa dessas leituras, feita pelas pessoas e instituições. Aliás, estes paradigmas estão na rua e já estão sendo adotados, consciente ou inconscientemente, por pessoas, instituições, escolas, Universidades, movimentos, secretarias de juventude em todos os níveis. Como filósofos e educadores, toca-nos estarmos atentos e posicionar-nos desejando que o casamento de nossos dois “entes” (educação e protagonismo) se torne realidade em toda a parte. É possível se, por parte do educador e da educadora, houver encanto alimentado pela novidade inquieta e incômoda que vem do jovem e da sábia vontade de construir felicidade num mundo sadio onde jovens e educadores aprenderam a caminhar juntos.


Conclusão 2

A reflexão sobre a emergência ou a percepção de novos valores na juventude é um desafio para os educadores e para toda a sociedade. Não significa que o novo nasce do velho, mas que muito do que a juventude manifesta é um sintoma daquilo que ela vê e não vê. Poderíamos concluir, até, que a juventude é o que é a sociedade. O desafio é aprendermos a ler as sementes ocultas do Verbo... Toca a todos aprender o discurso ou os discursos juvenis que estão em toda a parte. Enquanto os educadores e a sociedade não aprender a lição dos “desviantes” que despontam como “figuras da desordem” ela está fadada a se repetir em seus erros e caminhar para a própria destruição. Assim como os dados concretos de uma pesquisa nos desacomodam, recordamos que o maio de 1968 ainda não morreu, fazendo-nos relembrar que a revolução cultural é mais importante do que, talvez, imaginamos. Vimos, também, que na visão da juventude e no trabalho com ela somos convidados a termos clareza do paradigma que escolhemos para termos como objeto de estudo e de intervenção não só no mundo juvenil, mas na sociedade que sonhamos. Os valores não estão somente emergindo; eles também dependem de nossa capacidade de percepção.
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Notas
[7] Entre as muitas leituras, é agradável ler o que HOBSBAWN escreveu em “Tempos Interessantes – uma vida no século XX”. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 274-291.Outro artigo do mesmo autor é “Maio de 68 – o ano em que os profetas falharam”, publicado pela “Folha de São Paulo” em 1998.
[8] Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1988.
[9] Na história da Igreja Católica, no Brasil, um fato intrigante é que – quando em todo o mundo a juventude subia ao púlpito para reclamar contra diferentes formas de velhice da sociedade – a hierarquia declara a morte da Ação Católica Especializada encarnada nas organizações específicas denominadas JAC, JEC, JIC, JOC e JUC, as primeiras expressões significativas de organização das juventudes numa dimensão de fé comprometida com a realidade social e política.
[10] Uma leitura esclarecedora se encontra em Mário MARGULIS e Marcelo URRESTI em “La juventud es más que una palabra”, 2ª ed. Buenos Aires: Biblos, 2000, p. 13-30.
[11] GALAND, Olivier. “Les jeunes et l´exclusion”. Paris: Éditions La Découverte, 1996.
[12] Veja-se o artigo de Luisa PASSERINI intitulado “A juventude, metáfora da mudança social. Dois debates sobre os jovens: a Itália fascista e os Estados Unidos da década de 1950” in “História dos Jovens” v. 2 São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p. 319-382.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Emergência e Percepção de Novos Valores na Juventude (2)

Hilário Dick


Dados de uma pesquisa


Refletindo sobre estas coisas suscitadas pelos valores da juventude, poderia revoar sobre os mais de 35 anos de trabalho com grupos de jovens, mas preferimos pinçar alguns dados de uma pesquisa realizada durante três anos numa cidade de 210 mil habitantes, da grande Porto Alegre, onde viviam mais de 56 mil jovens e onde morriam mais jovens e adolescentes de todo o Estado do Rio Grande do Sul(1). Os dados não são únicos. Eles nos parecem sintomáticos, encarnados numa realidade concreta e não fogem do teor de nossa reflexão. Dou-me a permissão de recordar dez aspectos.

  1. Os jovens são, em primeiro lugar, fortemente desenraizados. Têm, mas não sabem suas raízes. Não sabem onde moram seus avós e não sabem de onde vieram seus pais, atropelados pelo êxodo rural dos anos sessenta e setenta. A história deles é curta. Não carregam uma tradição familiar. Nasceram e foram criados num mundo que não vai além da cerca que rodeia sua casa.

  1. Apesar de desenraizados, são amantes da família. Podem não ser “coletivos”, pertencentes a uma classe, a um povo, a um grupo social, enquanto forma um todo, mas são “familiares”, sonhando uma grande família da qual pouco sabem. Certamente não é uma família que imaginamos, mas eles se dizem – e com muita evidência - familiares. O que significa – num contexto assim - uma juventude ansiando por uma família?

  1. Para estes jovens, um outro discurso forte - que nos parece tristemente lógico - é que o subir na vida se faz só. Seria o caso de perguntarmos quem lhes ensinou essa atitude de vida? Os amigos são importantes, são um mundo “necessário”, mas nada ou muito pouco têm a dizer na luta pela sobrevivência. Além de uma ideologia individualizante, quem lhes transmitiu esse modo de ver e enfrentar uma vida que, por vezes, temos vontade de dizer nasceu no próprio quintal?

  1. Há, para essa juventude, duas coisas dramaticamente muito ruins na vida: ser dependente e ter que conviver com o peso das más companhias. Uma, de raízes mais psicológicas, e a outra nascida logo depois da cerca da casa. A rua que poderia ser sua segunda família, é perigosa. Relacionar-se com os outros é perigoso. A desconfiança tomou conta de seu interior.

  1. Se quase 40% dos pais deles são separados, quase 100% dos jovens afirma a fidelidade no casamento. Não significa que a separação se identifique com infidelidade; o importante é que, apesar de tudo que são obrigados a ver, a utopia que os move é a fidelidade, principalmente a partir dos bairros mais pobres e dos lugares onde a separação dos pais é mais intensa. Atrevem-se a sonhar um lar onde, por muito tempo, haja um pai e uma mãe como companheiros da vida.

  1. Para estes jovens a boa relação familiar é a segunda coisa mais importante na vida pessoal do jovem. Mais ainda: como eles mesmos dizem, além do tráfico, a causa mais forte da violência é a desestrutura familiar. Parece um discurso induzido, mas não é. Pode até ser que a família, por vezes, sufoca a juventude, mas o discurso dela é que com a família não se brinca. Não lhe agradam estruturas sufocantes, porque sabem que nem toda estrutura carrega o destino de sufocar.

  1. Ser desempregado, segundo estes e outros dados, é uma desgraça, um sucesso funesto, uma desgraceira, para estes jovens de 14 a 30 anos. São levados a ver que, o que vale ou o que foram levados a crer que vale, é o trabalho. “Você vale pelo que faz e ganha e não pelo que é”. É o que experienciaram no dia-a-dia de sua infância e, também, na idade que estão vivendo. Caminham pelas ruas procurando emprego como se fosse unicamente obrigação. Percebe-se que a falta de momentos e espaços de lazer não é só devido à falta de oportunidades; é uma atitude de quem não se sente autorizado a cultivar-se, como jovem. A pessoa humana, também o jovem, não tem direito a “não trabalhar”.

  1. A instituição na qual mais confiam é a instituição escolar, expressão da liberdade que sonham e do mundo que desejam conhecer. Entre as instituições citadas não estava a família porque a finalidade da pergunta era a observação das outras instituições. Depois da instituição escolar, vêm as organizações jovens, os movimentos sociais, os meios de comunicação e, em quinto lugar, a igreja católica. Parece que se movimentam, com alegria, no mundo que – para eles – lhe dá mais chance de ser.

  1. Não é revoltante para os jovens do mundo analisado, policial matar bandido, fazer justiça com as próprias mãos, agredir homossexuais e bandido matar policial. Poderíamos dizer que o discurso é do medo, da desconfiança e do preconceito. Parece que o discurso que vale é o reinado da baixa auto-estima. Se eu não valho nada, os outros também não merecem respeito.

  1. Por outro lado – e isso nos pode parecer muito estranho - afirmam-se mais religiosos que seus próprios pais. A mãe é vista, por eles, como a menos religiosa da família porque não lhes agrada conviver com muitas trocas de religiosidades (o que a pesquisa demonstrou) e o que não acontece com os pais. Uma referência existencial, para a juventude, não pula de galho em galho.


Mesmo que sejam dados ainda um tanto exóticos, precisamos reconhecer que as “sementes ocultas do Verbo” – isto é, o discurso que navega em seus corpos sem ter sido convidado - não é somente uma realidade teológica, fundada na fé, nascida unicamente de uma visão transcendental da vida, mas um “discurso” humano escondido, no dia-a-dia no corpo e na vida do jovem, que é preciso saber ler.


Podemos dizer, até, que nestes “discursos” se ocultam e se manifestam cinco espaços onde, para a juventude, mora a felicidade de todo jovem: a) a vivência grupal. O jovem anseia por uma vivência grupal e/ou comunitária. Apesar de todos os convites para individualização, o jovem acredita – em meio às contradições – na vivência coletiva manifestada nas vivências grupais. Há sintomas evidentes – por vezes difíceis de serem percebidos e/ou admitidos - de que nunca, na história da humanidade, houve uma busca tão evidente de vivências grupais consideradas no seu todo e nas mais variadas manifestações. O grupo é o lugar da felicidade de todo jovem mesmo que perceba que o adulto que o rodeia parece ter perdido a crença no coletivo b) a busca de uma formação que seja integral. O jovem intui que essa “formação integral” que sonha não se dá pela informação. Eles sabem e recebem milhares de informações, todos os dias, mas ninguém lhes ajuda a dar um sentido para elas. Bebem água sem saber que essa água poderia ser vinho... Sonham que isso deveria acontecer na educação e que um lugar importante para tal é a instituição escola; c) os jovens sabem que não são iguais, mesmo que todos gostem de falar de uma só juventude. Mesmo sabendo que ser “diferente” traz complicação, eles querem ser atendidos em sua realidade específica, não para serem “melhores”, mas para eles cultivarem sua identidade em companhia de seus pares, em favor de todos. Eles querem autonomia; sonham ser protagonistas, mesmo que isso se consiga através das mais diversificadas formas como, por exemplo, por meio do cultivo da aparência; d) os jovens intuem que, apesar de tudo que isso acarreta, eles precisam ser “organizados”, isto é, serem ativos, fazendo-se sujeitos de sua história e da sociedade. No mais profundo deles, eles querem ser “políticos”. Isto é, construtores de comunidade. Apesar da tentação constante e induzida de serem “massa”, eles desejam ser “povo”, mesmo que isso signifique renúncias de situações que apresentam o lado aparentemente bom e refugiante da dependência; e) intuem que a felicidade não se faz e não se constrói sozinho, mas que é preciso caminhar junto com os outros – também junto com o mundo dos adultos - não para serem mandados, mas para caminharem na segurança, vestidos de passado, de presente e de futuro, aprendendo com a novidade que ainda não é mas pode ser e com o vivido, aprendendo o que é, de fato, “autoridade”. Eles desejam estar num mesmo barco, acompanhados de pessoas de “experiência”, isto é, de passado. Não para serem como elas ou serem mandados por elas, mas aprenderem a novidade que muitas vezes se esconde no já vivido.



(1)“Discursos à beira do Sinos”, IHU, 2006.

sábado, 9 de agosto de 2008

Pesquisa Datafolha "Jovem Século XXI"

São Paulo, 27 de Julho de 2008.
Resumo e Comentário de Hilário Dick
Foram entrevistados 1541 brasileiros/as entre 16 e 25 anos, em 168 cidades. Ivan Finotti (editor de Folhateen) diz que é “o mais completo perfil do jovem brasileiro neste século XXI”. Aplicaram-se dois questionários: um, de 60 questões, aplicado pelo pesquisador/a; o outro, de 30 questões (sobre sexo e drogas), era preenchido pelo entrevistado/a, colocando o questionário numa bolsa lacrada, só aberta no Instituto Datafolha, em São Paulo. Queremos ler e comentar o resultado apresentado na “Folha de São Paulo” de 27.7.2008.

Perfil dos entrevistados/as
O perfil se refere ao maior sonho, à ocupação principal, à mesada e aos ganhos do último mês, pessoal e familiar. Falando do “maior sonho” o questionário se ateve, de fato, ao aspecto pessoal dos jovens. Entre 12 sonhos, os mais apontados foram: 1º “trabalhar em uma profissão” (especialmente como advogado ou médico) 18%; 2º emprego 15%; 3º casa própria 14%; 4º terminar os estudos 12% e 5º ter uma boa família 10%. 33% dos sonhos giram em torno do trabalho. As ocupações principais dos entrevistados/as foram: estudante (23%), assalariado registrado (22%), assalariado sem registro (16%), e free-lancer/bico (13%). 9% se afirmam desempregados. Para 51% a ocupação principal é o trabalho. Ser estudante é somente ocupação. Quanto à mesada, 84% dizem não receber, mas 11 dos 16% dos que a recebem, são agraciados por até R$ 200,00; os outros 5% ganham mais do que isso, chegando a R$ 415,00. Considerando o mês passado, 77% dos jovens dizem que ganharam (salário etc.) até 760,00 e 14% de R$ 761 até 1.140,00. Por outro lado, a renda familiar mensal para 30% deles/as (segundo os dados do Datafolha) é até R$ 760,00 e, para 24%, de R$ 761,00 a 1.1.40,00. Significa isso que 91% dos jovens entrevistados ganham até R$ 1.140,00 e só 54% das famílias teriam uma renda mensal de até R$ 1.140,00? É o que os números publicados deixam a entender. Se 33% vão ao trabalho ou ao estudo de ônibus, 32% fazem esses trajetos a pé. 12% vão de carro e 10% de bicicleta e 9% de moto.

Nota: é um dado estranho o do “ganho” e o da “renda familiar”: ou o entrevistado é, muitas vezes, o único a ganhar, ou o entrevistado não colabora com a renda familiar mensal, isto é, não se considera (de alguma forma) da família.

A pesquisa abrange 14 aspectos: inquietações, família, educação, gravidez, sociedade (igreja), valores, pátria, aparência (o único aspecto que merece duas páginas), sexo, consumo, conexão, ídolos, vícios, música.

Inquietações
Foram feitas cinco perguntas. Perguntou-se se já foram assaltados, se tem medo de sair de casa, sobre o maior medo e sobre o maior problema do Brasil e do mundo. As respostas apontam para o medo da morte e a violência. Se, em geral, 30% já foram assaltados, nos jovens ricos esta percentagem chega a 49%. Quanto ao sair de casa, 18% dos homens e 33% das mulheres têm “muito medo”. É maior o medo dos pobres do que dos ricos (31% e 17%), refletindo-se a mesma realidade entre os jovens do nordeste e do sudeste. Os três maiores medos são morrer (23%), a morte de parentes (17%) e a violência (13%). O medo não só é pessoal, mas familiar. Entre os oito maiores problemas do Brasil destacam-se quatro: a violência (17%), a corrupção (desonestidade) (16%), o desemprego, a fome e a pobreza (13%). Entre os oito maiores problemas do mundo reaparece a violência (22%), vindo, depois, a poluição e a miséria (13%), ficando a corrupção em 4º lugar com 8%. As drogas ficam em 8º e 7º lugar respectivamente.

Nota: A violência é encarada, na pesquisa, unicamente como algo “externo”, claramente visível. Não se pensa em outros tipos de violência (afetiva, consumista, econômica, moral...). Se aparece o medo de morrer, o “sobrar” aparece como problema e não como medo. O medo de “ficar desconectado” também não aparece. Contudo, mais adiante, vamos ver que a aparência merece duas páginas, provando a importância que tem na juventude ou à qual o jovem é induzido.

Família
A família, na pesquisa, merece uma só pergunta relacionada com o amor e a confiança na família “tradicional” chamada de “nuclear” (pai, mãe, avós e irmãos). Os que se destacam na onda da ternura são a mãe e os avós, ficando os pais mais desajeitados, sem muita diferença, atrás dos irmãos. Pode-se dizer que, assim como foi posta a questão, não era para trazer novidades, de fato. Além de ser o consenso desbragado, praticamente todas as pesquisa dizem isso... não se quiseram ver novidades. Uma gama muito grande de situações não aparece: pais separados, significado do pai e da mãe, sentido de família, família não nuclear, tratamento da família nos MCS, etc. Por que Cláudia Oliveira (psicóloga especialista em relações familiares) afirma que, daqui a 15 anos, os dados serão outros, especialmente com relação à figura do pai? “Mãe é a mais amada” diz a “chamada” da leitura feita pela DataFolha.

Educação
O objeto da pesquisa, pelo relatório do Datafolha não parece ter sido a educação, mas a má educação, como diz a leitura feita de dois jornalistas, desta perspectiva. As perguntas que aparecem referem-se à repetência, ao fato de estudar e ao nível de estudo em que se encontram, à avaliação dos professores, ao desejo de fazer o curso superior, se é de escola pública ou particular, às leitura feitas nos últimos seis meses, à cola (relacionada com o uso do celular) e à utilidade que tem a escola.

Vemos assim que – estranhamente - apesar de 71% julgarem que é muito útil o que se aprende na escola, e de 77% dos jovens que chegam à faculdade não serem repetentes, 54% dos jovens brasileiros já repetiu o ano na escola. Não só os pobres, mas também os da classe A ou B, aonde os repetentes chega a 44%. Pela pesquisa vemos, ainda, que 32% dos jovens não leram nenhum livro nos últimos seis meses (veja-se que 308 deles são universitários), que, de zero a dez, os professores/as merecem a nota 8,1. Outro dado que não pode passar em branco é que 49% dos jovens entrevistados (= 755), de 16 a 25 anos, não estudam; que 68% estão na escola pública, que 52% dos entrevistados estão no ensino médio (= 801) e 20% no ensino superior; e que 67% (isto é, 1.032 de 1.541) pretendem fazer curso superior.

Nota: São dados que não falam só da má educação, como a leitura de Datafolha pretende deixar a entender, mas que a situação educacional está mal – o que são coisas bem diferentes. Fica claro que os jovens gostam da escola, gostam dos professores, querem ir adiante nos estudos, apesar de haver muitos repetentes e apesar de 49% não estarem estudando. O discurso das percentagens é um clamor, não um atestado negativo para os jovens. Uma pergunta que surge (entre tantas outras) é: porque os meninos são muito mais reprovados (63%) do que as meninas (46%)? O fato de a grande maioria dos professores serem mulheres, não influenciaria? De qualquer forma, a repetência não deixa de ser um questionamento. Não é que os jovens achem o estudo inútil; é que o estudo não tem sabor – aspectos aparentemente contraditórios. O que tem sabor – parece - é o colégio, não a sala de aula. E, contudo, como se explica a avaliação tão positiva dos professores/as?

Gravidez
Duas são as atenções, nesta parte da pesquisa Datafolha: a gravidez e o aborto. Quanto à gravidez, pelas seis perguntas que foram feitas, sabe-se que um de cinco rapazes e/ou moças de 16 a 25 anos tem filhos, significando 21%. Os rapazes tinham, na média, 19,3 anos e as moças 18 anos quando tiveram seu primeiro filho/a. Tem menos filhos os/as jovens com curso superior e que ganham mais de 10 salários. 42% desses pais ou nunca viveram juntos ou já estão separados, mas em 61% a criança mora com o casal (30% com um dos pais separados). Para 71% dos casos a gravidez não foi planejada, principalmente entre os mais ricos. 85% não se arrependem de já ter filhos, mas os de 16 e 17 anos se arrependem mais: 37% x 14%. A pesquisa não traz, contudo, mais dados sobre a gravidez dos/as adolescentes; quer saber mais da primeira gravidez.

O fato que merece mais atenção (jornalística? ideológica?) é o aborto. A pesquisa fez duas perguntas para as mulheres: se elas já fizeram aborto e se alguma amiga delas já fez aborto. O resultado é um tanto estranho: se somente 4% admitem que já fizeram aborto (as que mais admitem são as que tem de 22 a 25 anos), 33% afirmam saber de amigas que fizeram e 57% dizem não ter informação sobre isso. Seria medo ou (uma estranha) solidariedade, procurando esconder algo ou será verdade? No mínimo estamos frente a um tabu. Assim como uma postura teórica ante o fato demonstra segurança, os dados revelam uma falta de transparência ante os fatos.

Sociedade
Para perceber as “participações sociais” dos/as jovens a pesquisa fez duas perguntas: uma sobre que tipo de organização o/a jovem participa e outra sobre a religião deles/as. A resposta com relação às participações não está clara porque, por um lado, 45% afirmam que não participam e, por outro lado, se se diz que 39% participam das igrejas, 24% de trabalho voluntário, 12% de organizações ecológicas, 18% de entidades estudantis, 7% de partidos políticos, etc. estes dados significam que 55% de jovens se afirmam “partícipes”. É um dado que contrasta com outras pesquisas constatando, por exemplo, que somente 15% dos jovens teriam alguma participação social em alguma organização. De 15 a 55% (por exemplo) a diferença é muito grande.

Onde se verifica um “encontro” é no peso que tem a participação nas igrejas. A leitura que o Datafolha faz diz, por exemplo, que “a participação em organizações religiosas bate de longe a reunião em grupos políticos”. A pergunta é: o que significam as participações em trabalhos voluntários, as organizações ecológicas, as entidades estudantis, os sindicatos, a reforma agrária? Se juntarmos à participação em partidos políticos as atividades citadas, teríamos uma “participação política” (não necessariamente partidária) de 63%. O “político”, neste sentido, ultrapassa de longe a participação “religiosa”. Seria uma realidade que não se deseja ver? O exótico que parece querer-se acentuar é o peso do “religioso” – o que não deixa de ser, igualmente, significativo.

Novidadeiros são, igualmente, os dados relacionados com a pertença a alguma religião. Se 10% afirmam não pertencer a alguma religião, se 16% se inscrevem na religião pentecostal evangélica, se 1% se afirma ateu etc. 59% se dizem da religião católica. Afirmamos que os dados são novidadeiros, porque eles se chocam, também, com outras pesquisas e dados oficiais. Segundo o IBGE, 73,6% dos jovens de 15 a 24 anos se declaram católicos/as e 9,1% dizem não ter religião. Por um lado a pesquisa não nega a religiosidade emergente no mundo juvenil e, por outro, diminui sensivelmente a pertença, por exemplo, à igreja católica.

Valores
A pesquisa apresenta a postura dos/as jovens sob vários aspectos. Perguntou-se sobre o aborto, a pena de morte, a maconha, a idade mínima para ir à prisão (redução da maioridade penal), o acompanhamento ao noticiário político, a postura política e sobre a importância de 11 itens (família, saúde, trabalho, estudo, lazer, amigos, religião, sexo, dinheiro, beleza e casamento). Sobre o aborto 68% (assim como a população) dizem que “se fique como está” e com a lei que aí está; sobre a pena de morte 50% são a favor; sobre a criminalização da maconha 72% são a favor dela; e sobre a redução da maioridade penal os/as jovens afirmam (46%) que a idade seja entre 16 e 17 anos (sendo mais “duros” que a população (= 41%). Defende-se uma criança que ainda não nasceu (veja-se os dados sobre o aborto), mas não se defende a vida de um/a adolescente de 16 a 17 anos. Assim como são políticos (não na perspectiva partidária), 52% dos jovens afirmam que não costumam acompanhar o noticiário político. Se 37% tomam uma postura de direita, 28% são de esquerda e 23% consideram-se do centro. Assim como o Datafolha cita a frase de Fernanda (18 anos) dizendo que “ser de esquerda é ser um zero à esquerda”, outras se afirmam “neutríssimas”. A leitura da “Folha de São Paulo” também cita Marcos Vinícius, afirmando que “ser de esquerda é ser do contra”... O mesmo Marcos diz-se fã de Lula, o presidente.

Olhando o quadro da importância de onze valores, embora todos tenham recebido um peso significativo, podemos dizer que os valores que estão no topo são a família, a saúde, o trabalho e o estudo (todos acima de 90%) e que os que estão na “base” são o dinheiro, a beleza e o casamento (na base dos 70%). No meio desses dois extremos (talvez um tanto “perdidos”) estão o lazer, os amigos, a religião e o sexo. Pode-se dizer que há discursos estranhos com relação ao significado do dinheiro e da beleza (aparência) e com relação à importância que tem o lazer, os amigos, a religião e o sexo – assuntos que mereceriam aprofundamento.

Pátria
Havia, nesse item, uma só pergunta: você tem vontade de sair para sempre do Brasil? Seria pacífica a leitura do Datafolha, não destacando os 57% que não têm nenhuma vontade de sair, em vez de destacar os 42% que tem muita ou pouca vontade de sair? Assim como 81%, praticamente, não desejam sair, acentua-se (na leitura) os 18% dos que desejam muito, situando-se, estes “candidatos”, em grande parte, na classe A e B. Não pode passar despercebido, também, que 52% dos índios teriam expressado a vontade de sair (quase a mesma percentagem dos “brancos” e ricos).

Aparência
Como não podia deixar de ser (!) o item merece duas páginas do Datafolha, embora tenham sido feitas somente cinco questões relacionadas à aparência: a aparência em geral, o peso, as partes do corpo dos quais o/a jovem gosta mais e menos, sobre o desejo de fazer plástica e sobre algum tipo de atividade física. Impressiona a pormenorização das partes que os jovens querem mais e menos, do cabelo aos pés. Assim como a parte mais amada são os olhos, a parte mais odiada pelas meninas é a barriga e, pelos rapazes, os pés. Os lugares mais visados para uma possível plástica são, para as meninas, os seios e, para os rapazes, o nariz.

Conforme a pesquisa, nos últimos 10 anos cresceu muito a insatisfação com a aparência. O “pouco satisfeito”, p.ex. foi de 16% para 37% e o “muito satisfeito” baixou de 82% para 59%. O mesmo sucede com o peso. A insatisfação foi de 39% para 50%. Se o descontentamento é maior entre as garotas, as meninas de 16 e 17 anos representam o auge do dissabor. Dado curioso aparece, igualmente, no campo das atividades físicas. Se 75% dos homens praticam algum tipo de atividade física, esta percentagem, nas mulheres, é de 43%. Se o futebol marca os rapazes, a caminhada é a saída das meninas. Quem mais quer fazer cirurgia são as mulheres de 22 a 25 anos, embora a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica afirme que 13% das plásticas tenham sido feitas em adolescentes de 14 a 18 anos.

Sexo
Apresentam-se seis perguntas, neste aspecto, mas uma grande chamada da “Folha de São Paulo” diz que 22% das mulheres entre 16 e 25 anos afirmam que nunca transaram... O mesmo afirma 11% dos rapazes. As perguntas são sobre a primeira transa e do “sabor” dela, sobre o casamento virgem, sobre o número de parceiros/as com os/as quais já transou, sobre a relação com pessoas do mesmo sexo, o masturbar-se e o uso da camisinha. Mesmo sem ver o resultado das respostas vê-se que o sexo (pesquisado dessa forma) é curiosidade, nada mais. Fuxica-se na sexualidade das pessoas, isto é, dos jovens.

A primeira transa, para os rapazes, se dá, principalmente, entre os 13 e 15 anos; para as meninas isso acontece, principalmente, entre os 16 e 17 anos. Se 24% dos jovens não querem casar virgens, 40% dizem que “sim” e 36% não sabem... Diz uma estudante de jornalismo que começou a “ficar” aos 13 anos e que “a mulherada está atacada hoje em dia. Acho que é falta do que fazer”... O que dizer, então, dos rapazes? 67% dos rapazes dizem que a primeira transa foi ótima; para as meninas esse “ótimo” baixa para 51%, acrescida por 18% de “ruim” e “péssimo”. Se as mulheres já transaram, principalmente, com um ou dois (49%), os rapazes dizem que as parceiras já foram mais de cinco (51%). Mais adiante vão revelar que 81% dos homens e 80% das mulheres não são mais virgens. A região que confessa ser menos virgem é o Sul (88%) e a região mais virgem é o Nordeste (80%).

Perguntados se os entrevistados/as já tiveram relações com o mesmo sexo, uma boa percentagem, tanto dos rapazes como das meninas, não responderam (= 26% dos rapazes e 23% das meninas). Talvez seja uma dedução apressada, mas parece que não está vigorando a veracidade. Sobre a masturbação, 72% dos rapazes dizem que é saudável, fazendo parte do ser humano. As meninas afirmam o mesmo 60%, e dizem, também, (30%) que é imoral ou deve ser evitada.

Quanto ao uso da camisinha, 36% dos rapazes e 45% das meninas dizem que usam sempre. O “de vez em quando” também é mais forte com as meninas que os rapazes (31% x 28%). São os rapazes, igualmente, os que mais “nunca” usam a camisinha (24%).

Consumo
Havia cinco perguntas relacionadas ao consumo. Se 43% se consideram “um pouco consumistas”, 31% dizem que não são nada consumistas e 26% “muito”. Gastam o dinheiro em quatro itens, principalmente: a roupa (61%), a comida (31%), a diversão (26%) e “contas”. Para os cursos investem 7% (o mesmo que para os cosméticos...). Apesar de gastarem 61% em roupas e sapatos, 51% afirmam que estar na moda é “um pouco” importante. Os dois grandes sonhos de consumo são ter casa própria, para a família, na praia (36%) e ter carro (33%).

Os lugares aos quais mais costumam ir são shows (72%), shoppings (63%) onde ficam em média 2,7 horas, bares (59%), bibliotecas (56%) apesar de lerem tão pouco, como foi dito noutra ocasião, cinemas (53%), casas noturnas (47%) e livrarias (44%). Assim como o sexo, o relacionamento com o consumo fica um assunto que deixa interrogações, ao menos no que a leitura apresentada revela.

Conexão
Estão em jogo a TV, a internet e as “LAN house”. Principalmente entre os mais ricos, a TV vai perdendo a preferência, embora seja a melhor fonte de informação e 98% assistirem TV 3,4 horas por dia. forma. Os meios mais usados, contudo, no geral, são: TV aberta 33%, Internet 26% (seduz pela perspectiva do controle), Jornais 19%. Na TV, os programas mais assistidos variam de jornais (89%) até esportes (60%) passando pelos filmes, novelas, desenhos, musicais. Na Internet, 74% dos jovens afirmam costumar acessar a internet e 26% não. O conteúdo mais acessado são sites de relacionamento (81%), páginas musicais (79%), e-mails (76%), downloads de música e pesquisa para a escola (61%). Um dos motivos de atração da LAN house é a zoeira. Quem vai aí não se sente sozinho. O que os/as jovens mais acessam são sites de relacionamento, notícias, mensagens instantâneas e e-mails.

Ídolos
Na beleza, para os rapazes, quem tem maior preferência é Juliana Paes (Giselle Bündchen está em 3º lugar); para as mulheres quem comanda é Reinaldo Gianecchini. “Bem sucedida” é Ivete Sangalo; “honesto” é Lula; e “inteligentes” são Sílvio Santos e Jô Soares. Não aceitam muito pôr a carapuça de qualquer personalidade, destacando-se a função de cantor, ator e jogador de futebol. Como diz André Forastieri, “pretendem atingir suas metas gastando o mínimo”.

Vícios
Entram nesse conjunto as drogas, o álcool e o cigarro. Quanto ao uso de droga, 22% dos rapazes e 11% das meninas dizem já terem usado. Entram, nisso, principalmente, a maconha (77%), a cocaína (31%), o lança-perfume, o ecstasy, o LSD e o crack (7%). A região do Brasil campeã no uso de drogas é o Sul (22%), seguido do Sudeste (19%). Outro dado, considerado como de horror por uma psicóloga da Universidade Federal de São Paulo é o fato de 43% dos pais saberem do uso de drogas pelos filhos. Quanto ao álcool 65% dos rapazes confessa ter o costume de beber; as mulheres chegam a 53%. Quem mais bebe é o povo do Sul e do Sudeste. Embora 40% não saibam dirigir, 20% já dirigiu depois de beber. Quanto ao cigarro, 81% dizem não ter o costume de fumar.

Música
A preferência musical fica por conta, especialmente, de cinco estilos: o forró (25%), o pagode e o rock (23%), o rap e o sertanejo/country (22%), ficando a MPB em sexto lugar. São mais os ricos do que os pobres, os que preferem o rock. Vendo esse resultado um estudante de jornalismo de Sorocaba escreve que “com o tempo, a educação passou a elitizar nossas asneiras”. Seria isso porque o samba só tem a preferência de 11% dos jovens ou porque o pop ficou em sétimo?

Conclusão
Esta leitura é somente fruto da leitura do anexo especial da “Folha de São Paulo”, de 27 de julho de 2008. Colaboraram neste “Caderno” quatro articulistas e 11 colaboradores/as (cinco mulheres e seis homens). Os articulistas vão de antigo responsável pela “Folhateen” até um estudante de jornalismo. Se eles são os mais críticos, os/as colaboradores/as são, em grande parte, responsáveis pela leitura “jornalística” dos dados. A denominação “jornalística” refere-se a uma impressão que o “Caderno” deixa de sensacionalismo, podendo ser concluído que o jovem poderia ter sido tomado mais a sério. Exageram-se “curiosidades” e exotismos. Não se respeita o jovem, tornado alvo de fuxicos até interesseiros. Não se chega ou não se quer ouvir, de fato, a realidade juvenil. O que se apresenta é um discurso de fuxicada...

Dois dos articulistas são psicanalistas de renome: Contardo Calligaris e João Batista Ferreira. Ao passo que Calligaris põe como título de seu artigo “A adolescência acabou”, João Batista Ferreira fala que “É preciso ser generoso”. Se Calligaris afirma que os adolescentes (a pesquisa era sobre jovens) “são tão caretas quanto a gente, se não mais” e que “a invenção cultural da adolescência nem sequer transformou a maioria dos adolescentes em rebeldes” e que “o tempo da adolescência acabou” e que talvez só tenha sobra dela “apenas uma trilha sonora”, outro é o tom do artigo de João Batista Ferreira. “Juventude”, diz ele, “é o tempo da mais extraordinária revolução por que passa o ser humano” e encontra 11 adjetivos para a juventude que encontrou na pesquisa: desde o pragmático e vinculativo até o generoso, sem culpa e revolucionário, todos eles vestidos de positividade.

Por outro lado, Forastieri (primeiro editor de “Folhateen”) afirma que “nosso jovem é surpreendentemente sofisticado em sua ambigüidade” e que viu (na pesquisa) “uma geração que bate ponto na moralidade convencional, mas, na prática, atua segundo seus interesses” e Leandro Sarubo, depois de passar dois dias analisando os gêneros musicais prediletos, se irrita com os gostos musicais dos jovens, chegando a afirmar que “o Nordeste só evoluirá quando abandonar suas arcaicas raízes culturais...”.

A irritação que poderia ter sentido não é esta. É a forma como é tratada a juventude, ao menos naquilo que é apresentado no “Caderno” da “Folha de São Paulo”. Não diremos o mesmo com relação à pesquisa com suas perguntas, mas é aconselhável que também isso seja analisado. A afirmação de que estamos frente ao “mais completo perfil do jovem brasileiro neste século 21” merece, no mínimo, que se estudem outras nuances da pesquisa que não foram apresentados e sobre os quais os colaboradores deixam dúvidas. A dúvida maior é sobre a seriedade com que se encara a realidade que foi analisada. Parece que os jovens não possuem outro discurso ou que o discurso que se faz sobre ele é esse mesmo: de desrespeito e de fuxicação.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Conselho Nacional lança Pacto pela Juventude


O Conselho Nacional de Juventude (Conjuve) lançou na terça-feira (22/7), o Pacto pela Juventude, selando o seu apoio às resoluções apresentadas pela I Conferência Nacional de Juventude, que aconteceu em Brasília, no período de 27 a 30 de abril. A iniciativa tem por objetivo envolver todos os atores governamentais e da sociedade civil para manter acesa a discussão sobre as políticas públicas de juventude, com foco nas prioridades apontadas no encontro. A reunião contou com a participação do secretário nacional de Juventude, Beto Cury.
Segundo o presidente do Conselho Nacional de Juventude, Danilo Moreira, o Pacto prevê uma série de atividades que serão desenvolvidas em âmbito nacional, estadual e municipal. A primeira delas ocorrerá no dia 12 de agosto, data em que se comemora o Dia Nacional da Juventude, por meio de uma cerimônia no Palácio do Planalto, que vai reunir autoridades dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, representantes da sociedade civil e de movimentos juvenis, entre outros.


Para entender melhor o Pacto pela Juventude

O que é o Pacto?


Trata-se de um compromisso público, coordenado pelo Conjuve, com o objetivo de dar visibilidade e buscar a efetivação dos parâmetros e diretrizes da Política Nacional de Juventude e das resoluções da I Conferência Nacional de Juventude, realizada no período de 27 a 30 de abril, em Brasília (DF).

Qual o seu objetivo?

Articular agentes governamentais, sociedade civil e movimentos juvenis, visando colocar em prática as propostas aprovadas pela Conferência, que mobilizou mais de 400 mil pessoas em todo o Brasil, promovendo uma ampla discussão sobre as políticas públicas de juventude.

Como o Pacto será estruturado?

Por meio de um conjunto de ações e compromissos que devem ser assumidos pelos governos federal, estaduais e municipais, legisladores e, sobretudo, candidatos aos cargos de prefeito e vereador.

Como será a adesão ao Pacto?

Em eventos públicos onde governantes e candidatos assumirão o compromisso com o fortalecimento das políticas públicas de juventude, tendo como referência as 22 prioridades definidas pela Conferência Nacional de Juventude.

Quando começará oficialmente o Pacto?

No dia 12 de agosto, Dia Nacional da Juventude, em uma cerimônia no Palácio do Planalto, quando haverá também uma reunião extraordinária do Conjuve, nos dias 12 e 13, para discutir o assunto. O presidente Lula e os ministros de Estado serão convidados para o evento, juntamente com os presidentes dos partidos políticos.

Etapas do Pacto

- Em nível Federal

Principais parceiros: Ministérios e Frente Parlamentar de Juventude.

Eventos:


1. Pacto pela Juventude "O Brasil precisa, a juventude quer!", no dia 12 de agosto de 2008.
2. Lançamento da revista de balanço da Conferência Nacional de Juventude.
3. Apresentação de iniciativas dos Ministérios, conselheiros governamentais do Conjuve.

4. Atividades pela aprovação da PEC da Juventude (PEC 138/2003), na Câmara dos Deputados.

- Em nível Estadual

Principais parceiros: gestores de juventude e Conselhos Estaduais de Juventude e/ou Comissões Organizadoras Estaduais.

De 14 de agosto a 30 de setembro de 2008: Pacto pela Juventude com a presença de governadores, gestores, parlamentares, sociedade civil e movimentos juvenis (Conjuve, Comissões Organizadoras Estaduais, delegados das etapas estaduais e nacional).

- Em nível Municipal

Principais parceiros: Juventude Partidárias e Conselhos Municipais de Juventude

1. Eventos públicos para assinatura de Termo de Compromisso com o Pacto pelos candidatos a prefeito e vereador, incluindo a temática nas plataformas de campanha e programas de governo.


Para mais informações acesse http://www.juventude.gov.br ou envie seu e-mail para conselho.juventude@planalto.gov.br