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sábado, 22 de novembro de 2008

O NOVO SITE DO OBSERVATÓRIO JUVENIL DO VALE ESTÁ NO AR!


O Observatório Juvenil do Vale já está com seu novo site à disposição.

Realizamos algumas mudanças para atualizar nosso trabalho e manter nossos parceiros bem-informados.
Seguimos com o Blog do Observatório, mas nossa página institucional agora pode ser acessada aqui.

Visitem-nos, são tod@s bem vind@s.
E continuem nos enviando suas contribuições.

Saudações

Equipe do Observatório Juvenil do Vale

Um olhar sobre a realidade da juventude latino-americana - Parte III - Final

Carmem Lúcia Teixeira



3. Focando o olhar em alguns dados da realidade da juventude no continente

Na America Latina e no Caribe nunca houve tantas pessoas entre 15 e 30 anos. Possivelmente, esse fato pode demorar, ou não mais se repetir pela queda da natalidade em vários países. Segundo o relatório da OTI há 10 milhões de desempregados, 22 milhões de jovens que não estudam e mais de 30 milhões que trabalham na informalidade ou em condições precária. Entre os desempregados, os jovens são 46% do total. Dos 106 milhões de jovens em nosso continente, em 2005, 48 milhões trabalham e 49 milhões estudam, 13 milhões estudam e trabalham, inativos que não estudam 32 milhões, desempregados que estudam são 4 milhões...Tudo isto significa uma magnitude de necessidades bem diferenciadas porque uma das características é a pluralidade. O que exige dos governos uma intervenção qualificada na proposição das políticas públicas.

Os jovens que procuram emprego são conscientes das exclusões que sofrem por motivo de gênero, procedência geográfica, raça, aparência, origem étnica, idade e até políticos [...] No Brasil 6,6 milhões de trabalhadoras domésticas, em sua maioria negra (IBGE). Deste total só 26% tem carteira assinada (p.42-43).

Os jovens indígenas estão entre os mais vulneráveis e desprotegidos. De acordo com uma estimativa, entre 30 a 50 milhões são jovens e se concentram em cinco países: Bolívia, Equador, Guatemala, México e Peru (p.46).

No entanto é impossível garantir a participação da juventude no desenvolvimento dos países apenas através de Políticas Públicas tomando em conta, além disso, que, a partir da década de 80, há um agravamento da crise econômica e uma redução do aparato do Estado. Os jovens passam a ter maior atenção com a declaração do ano Internacional, em 1985, com as políticas públicas voltada para a juventude. Os três problemas apontados como principais, da juventude hoje, são o desemprego e a qualidade do emprego, a educação e o acesso aos riscos associados de família - o que revela o agravamento da pobreza e dos processos de exclusão.

Para onde apontam essas lentes

Todos esses dados, aos olhos de educadores/as de jovens, devem provocar várias perguntas diante das conseqüências visíveis entre os jovens, de modo especial entre os empobrecidos: homicídios, suicídios, abuso de tóxicos, entre outros fatores que ofendem a vida e que não podem ser encarados somente sob a ótica moral.: De que estes jovens estão fugindo quando se drogam? O que eles estão negando? Quando tatuam todo o corpo, o que estão comunicando? Quando picham toda a cidade, qual é o anúncio ou o grito que lançam para essa sociedade organizada a partir do mundo adulto, sem espaços para a comunicação?

Olhar para essa América Latina e Caribe exige perguntar-nos pelas potencialidades sufocadas pela cópia ou pela destruição de nossa originalidade em nome do progresso ou do sistema ocidental imposto tanto pela cultura como pela economia. O grande desafio é o mesmo de um grande restaurador de obras: limpar o que foi colocado por cima da pintura até encontrar o que é original...

Por isso a importância de exercitar, entre os jovens e com os jovens, novas formas de construir a auto-estima, olhando para sua cultura, sua visão de mundo, as histórias, as artes, as danças e tudo que é produzido neste continente, fruto destes encontros e desencontros que foram acontecendo nestes séculos de convivência, ocupação, violência, fazendo surgir novos estilos de viver que foram juntando sul com sul: áfricas e américas que foram se misturando e, ao mesmo tempo, se construindo nas dores e nas alegrias.

Reconhecer os jovens como sujeitos de direitos, portanto, trabalhar políticas e ações que possibilitem o crescimento como seres a partir de sua originalidade. Isto exige lentes que nos permitam aproximar-nos desta diversidade, visitando cada lugar, comunidade indígena, negra, popular, cada uma de nossas cidades, países ou regiões para que possamos olhar com cuidado e respeito contribuindo que as políticas públicas sejam concretizadas e para que os direitos sejam garantidos. Essa é a próxima tarefa, a partir dos dados. Porém, para além delas, com outras iniciativas, lutar para que seja permitida a construção de um outro mundo com outras referências onde a América Latina e o Caribe possam ser um terrenos férteis, de respeito, não só aos jovens, mas a cada um dos seres vivos que habitam esse tempo e espaço.

Bibliografia

DUARTE, Klaudio. Juventudes populares: el rollo entre ser lo que queremos, o ser lo que nos imponen...Editora Tierra Nueva, Quito, Ecuador, 1998.

FREITAS, Maria Virgínia (org), ABRAMO, Helena Wendel, LEÓN, Oscar Dávila. Juventude e adolescência no Brasil: referências conceituais, 2ª edição. Ação Educativa, 2005.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Um olhar sobre a realidade da Juventude latino-americana - Parte II

Carmem Lúcia Teixeira


2. Tirar a trave do olho para mirar a juventude

Num estudo para identificar as políticas publicas para a juventude, realizado por uma investigadora da Costa Rica[1], foi proposto considerar o olhar para a juventude a partir de quatro paradigmas que determinam as ações que visam responder às necessidades da juventude:

a) Juventude como período preparatório

b) Juventude como etapa problemática

c) O jovem como ator estratégico do desenvolvimento

d) A juventude cidadã como sujeito de direitos.

O primeiro concebe a juventude como período preparatório. Neste paradigma está presente a concepção de transição da infância para a idade adulta. As referências para a formação são dadas pelo mundo adulto. A política por excelência, segundo o estudo, é a educação. Ela será dada de modo formal e também informal, pelos diversos grupos e instituições organizadas pela sociedade, desde as Igrejas com todos os programas destinados a este público e com essa finalidade. Pode ser observado na formação para o exercício das lideranças nos seminários, congregações religiosas, entre outros grupos e movimentos destinados aos/às jovens.

O segundo paradigma, concebendo a juventude como etapa problemática, tem como discurso comum a prevenção. Está presente a idéia de evitar que o jovem “se perca”... Por isto se constroem quadras de esportes e se fazem outras proposições com a finalidade de ocupar o tempo livre do jovem, não porque tem o direito ao lazer e ao esporte, mas, como forma de “prevenir” contra drogas, marginalização, ou seja, “comportamento de risco e agressão”. Esse olhar viciado sobre os jovens é marcado pelo preconceito como se todos/as estivessem sempre se “organizando” para se drogar ou, mesmo, preparando-se para a prática do sexo. Por isto, programas de prevenção às doenças, a preocupação com a gravidez precoce, etc. Por isso a política de saúde que encontramos.

O terceiro paradigma olha a juventude como ator estratégico, responsabilizando-se os jovens por todas as possíveis transformações da sociedade. Está nas mãos dos jovens a “revolução”. Olha-se para os jovens como um potencial, como uma energia, como mudança, como transformação... colocando nas costas deles/as toda a responsabilidade por um mundo que ele está recebendo como herança de um trajeto histórico. Essa concepção frustra tanto o adulto como os jovens porque se coloca muita expectativa e muita responsabilidade sobre o sujeito. É a razão da cobrança da geração que se manifesta, por exemplo, na comparação entre as gerações, idealizando as gerações passadas, de modo especial a juventude dos anos 60. Impossibilita ver as reais necessidades e potencialidades que os jovens têm, hoje, de apresentar e construir respostas para o seu tempo. Intensificam-se, por isso, as políticas de esporte, lazer, arte e cultura.

O quarto paradigma olha a juventude como cidadã e sujeita de direitos. É um paradigma que está em nossa pauta, presente em vários espaços de nossa América Latina. É por onde as construções das Políticas Públicas necessitam pautar-se.

...a juventude é compreendida como etapa singular do desenvolvimento pessoal e social, por onde os jovens passam a ser considerados como sujeitos de direitos e deixam de ser definidos por suas incompletudes ou desvios. Tal diretriz se desenvolve, em alguns países, depois dos anos 90, em grande medida inspirada nos paradigmas desenvolvidos no campo das políticas para a infância e para as mulheres. Muda os enfoques anteriores principalmente por superar a visão negativa sobre os jovens e gerar políticas centradas na noção de cidadania, abrindo a possibilidade da consideração dos jovens como sujeitos integrais, para os quais se fazem necessárias políticas articuladas intersetorialmente. (ABRAMO, 2005, p.22)



[1] KRAUSKOPF (2003, p.8-25)

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Um olhar sobre a realidade da Juventude latino-americana - Parte I

Carmem Lúcia Teixeira


Observar, olhar o outro e a si próprio,

significa estar atento, buscando o significado do desejo,

acompanhar o ritmo do outro buscando sintonia com este.

Madalena Freire


O exercício proposto por Madalena Freire, exige um movimento no olhar que é dado por uma diversidade de elementos. Primeiro, é sempre a partir de um ponto, de um desejo, de um ritmo e creio que o mais complexo será estar em sintonia para quem se olha. Esse olhar revela cumplicidade. Não tem neutralidade. Ao contrário, é marcado por uma série de opções que se vai fazendo ao longo do caminho.


Klaudio Duarte (1998) afirma que, no esforço de compreensão da juventude latino-americana, é preciso construir uma moldura que demarca essa sociedade na sua constituição:


Es patriarcal (reconoce la diferencia entre hombre y mujer, pero pone a éstas como objeto de dominación masculina); es racista (la raza blanca es considerada superior a cualquier otro tipo de raza o etnia: negra, aborígene, asiático, etc.); es de cristiandad (desde hace siglos es la religión del imperio occidental, dominadora y cooptadora de cualquier otra vivencia religiosa autóctona o nueva, sobre todo aquellas que se plantean la superación de la idolatría); [...] es una sociedad autocéntrica, pone en condición de inferioridad y de preparación a niñas e niños, jóvenes ya la tercera edad (pág. 16).


Essa moldura cultural está sustentada pelo sistema econômico de base capitalista, com seu estilo de vida centrado na mercadoria e pelo lucro. Toda a vida das pessoas, bem como o ritual de inclusão ou exclusão na sociedade, é determinada pelos bens e por esse conjunto de idéia assumido de forma naturalizada como norma para a vida. Como sabemos que o sistema – para continuar em funcionamento - exige que todas as instituições: família, escolas, Igrejas, sindicatos, entre outras, como os meios de comunicação, continuem educando as pessoas para sua manutenção e para sua defesa como único modo viver, porque tem qualidades defendidas por todos como a liberdade, a fraternidade e a igualdade. Esses ideais são defendidos mesmo que na realidade seja o contrário. A defesa se dá como se todos os direitos prometidos estivessem em vigor.


Se, para funcionar, o sistema necessita de uma religião que eduque para suportar todas as ausências, celebraremos com intensidade a sexta-feira da paixão e todos os outros rituais de morte para elevar para o além as nossas necessidades mais vitais ou sublimar os sofrimentos... Se for necessário, que os pais se sacrifiquem para a educação dos filhos, que os formem ou que os eduquem para obedecer ao sistema e os criaremos como famílias patriarcais e as manteremos de tal forma que as desigualdades estabelecidas e normalizadas, em relações, nunca sejam questionadas. Se precisarmos formar pessoas que, desde cedo, na sua formação escolar formal, precisam sentir-se diminuídas, incapazes de desenvolver suas capacidades - porque está dentro da normalidade imposta pela escola aprender a língua “culta” e desaprender o modo de falar e pensar das comunidades rurais, indígenas, afro descentes - teremos escolas especialistas em excluir. Estas experiências ele as vivenciará mais tarde, quando estiver no mercado de trabalho, onde não tem emprego para todos/as. O lucro é somente para uma minoria...


Todas as idéias que sejam críticas ao sistema, são banidas. O mesmo sucede com as lideranças com um olhar mais crítico. Assim não dá porque há algo errado no que está “naturalizado”... Por isso essas lideranças são perseguidas, algumas até a morte, para que não acordem a população vivendo maquinalmente e fazendo funcionar o sistema gerador de lucro à custa da vida de milhares.


Esse modo de pensar é que vai construir, também, os conceitos sobre a juventude latino-americana, dizendo - com um discurso hipócrita - que “o jovem é o futuro”. De fato, é futuro se tiver sendo classificado como mão–de-obra barata ou como mera oportunidade para inserir-se no mercado.


En un joven y en una joven pobre, nuestras sociedades occidentales capitalistas potencialmente ven soldados [...] ; también ve electores; e [...] consumidores y también manos de obra para la producción. No ve personas, ni sujetos con capacidades y potencias liberadoras, no ve presente (sólo futuro), no ve sentimentos legítimos, sólo problemas y recambio para asegurar el funcionamiento de su sistema de vida (y de muerte). (DUARTE, 1998, p.18).


Essa moldura centra o olhar e condiciona a contemplação. Olhar para a juventude latino-americana que vive abaixo da linha do Equador, em sua maioria, tem história em comum marcada pela expansão deste sistema capitalista em épocas diferentes e com estratégias bem diferenciadas. Desde a chegada do povo do norte por aqui, ele trouxe um modo de vida com sua visão de mundo e com valores que impuseram em substituição aos que aqui eram construídos e vividos. Foi-nos dito que tudo que vinha do norte era o correto e importante, tanto que em nossas escolas e universidades todos os tempos nos impuseram as referências do conhecimento e nós as repetimos. Basta ler a bibliografia dos mestrados e doutorados.


Superar o pensar ingênuo que considera o conhecimento estático, normatizado e bem comportado - que gera acomodação porque repete o que já está pronto - é o oposto ao pensar crítico que transforma permanentemente, cria um movimento de humanização e impõe diálogo. Diálogo como ato de coragem, que tem compromisso com os seres humanos. “É um ato de coragem comprometer-se com a libertação”,provoca Paulo Freire[1].


Deixar de olhar para cima, ou para o norte, no mapa, e olhar para nós mesmos é um exercício que exige mudança de direção e que facilita nosso olhar mais cúmplice para a realidade da juventude latino-americana. Olhar para nós mesmos para perceber sua pluralidade presente em cada país, em cada região, em cada cidade, comunidade indígena, quilombola ou ribeirinha deste imenso continente diverso desde a flora, fauna até os estilos de viver cada tempo de nossas vidas. Olhar para a juventude é reconhecer que ela é múltipla e diversa.


Essa mudança de olhar irá exigir novas leituras de investigadores/as, estudiosos/as, produtores/as de culturas de saberes e sabores nas suas mais diversas formas; exige reconhecer, aqui, a riqueza de se fazer gente neste continente. Estudar Paulo Freire, Sara Pain, Pichón Revière, Mariategui, Gustavo Gutierrez, Leonardo Boff, Rosa Maria Muraro, Henrique Dussel, Juan Sobrino entre tantos e tantas. Quer dizer: olhar a juventude buscando identificar as novidades que estes provocam, criam, buscam e, também, o modo como repetem as lições condicionadas desta moldura cultura e econômica pela qual estamos marcados/as.


[1] FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

1968 ECLESIÁSTICO

Crônica
Hilário Dick
Quanto mais se lê e se ouve sobre o “Maio de 1968” mais perguntas aparecem. Foi um ano louco e enigmático, provocado pela juventude. Até Sartre, que estava em Paris, naquele ano, confessava, dois anos depois, que “ainda estava pensando no que havia acontecido e que não tinha compreendido bem. Não pude entender o que aqueles jovens queriam...” Dizem outros que 1968 foi um ano mítico, ponto de partida de transformações em muitos campos. Assim como foi uma espécie de orgasmo, foi igualmente um saco de decepções. Será que foi somente a frustração que suscitou o despertar das drogas, da violência, da guerrilha e do terrorismo urbano? De fato, foi isso que aconteceu. Será que a Guerra Fria foi, realmente, tão acachapante? Depois de 40 anos ainda perguntamos pelo que sucedeu... Se em 1968 os muros de Paris mostravam um “É proibido proibir”, dois anos antes o Papa Paulo VI lançava uma encíclica sobre o uso de anti-concepcionais. Era a famosa “Humanae Vitae”, que sofreu veementes críticas de fora e de dentro, mas era uma prova que o Papa não estava tão por fora da realidade.

Com vontade de compreender “algo mais”, isto é, “perceber” o que aconteceu, vai essa crônica. De forma bem simples, esta crônica procura ler o mesmo fato a partir de uma frágil vivência pessoal, tentando colocar, entre os ingredientes da sopa, alguns aspectos “eclesiásticos”. Talvez colaborem na ampliação do que então se viveu, para saboreá-lo melhor. Em 1968 eu estava em São Leopoldo, na Faculdade de Teologia Cristo Rei, um ano antes da ordenação sacerdotal, dando aulas de literatura brasileira e estudando teologia. Há dois anos deixara de vestir batina para andar de “clergymann”, assim como a maioria dos meus colegas. Eram, também, os primeiros anos em que podíamos participar da celebração eucarística em português, tocando violão e guitarra e cantando coisas do P. Zezinho... Eram também os anos do “Cristãos pelo Socialismo”, dos “Padres do Terceiro Mundo”.

Paris estava longe de nossas preocupações, mas sei que não estávamos parados. Nas aulas de Teologia encontrávamos professores que tinham que assumir as novidades do Concílio Vaticano II, o que nem todos conseguiram. Alguns, além de “tomar água”, largaram o barco. Sei que éramos inquietos, críticos, querendo mudanças. Na visita que o Padre Geral da Companhia de Jesus – Padre Pedro Arrupe, um homem excepcional e no qual não sabíamos encontrar defeito – fez ao “teologado”, no encontro que os estudantes de Teologia tivemos com ele, ainda hoje me lembro como a autoridade dele não bastou para – com espanto dos superiores – segurar a nossa intranqüilidade. Havíamos redigido um calhamaço de setenta páginas de reflexões e reivindicações querendo Teologia e formação diferentes. Éramos estudantes de vários países e de várias regiões do Brasil. Além disso, uma das coisas pela qual batalhamos era por ter – dentro da disciplina de um teologado jesuítico – um Diretório Acadêmico articulado com outros Diretórios das Faculdades da cidade, formando a “Federação dos Estudantes Universitários do Rio dos Sinos”. Naquele Congresso azarado da UNE, em Ibiúna (SP), também tinha jesuítas... Incomodava-nos o fato de ser um teologado “reconhecido”, e não termos uma revista de Teologia sob nossa responsabilidade. Já que os professores não tomavam a iniciativa, os estudantes fizeram nascer o que é, hoje, “Perspectiva Teológica” levado em frente pelos professores da Faculdade dos Jesuítas de Belo Horizonte.

Lá fora e lá dentro era 1968... Ano do Ato Institucional nº 5, ano das guerrilhas urbanas, ano de uma repressão miserável: professores demitidos e exilados, operários controlados e espancados; estudantes sem liberdade de se organizarem; o povo tendo que submeter-se à vigência de dois partidos (um a favor e o outro contra); com salas de aula infestados de “dedos duros” pagos para encontrar subversões. Lembro-me do dia em que os militares pularam pelas janelas do Teologado, procurando seminaristas subversivos. Frei Beto conseguira fugir, mas outros (estudantes e padres) foram levados prisioneiros para serem interrogados. Contudo, nem a Teologia da Libertação havia sido, ainda, sistematizada... É verdade que o então P. Hugo Assmann agitava os pensamentos de um grupo de padres fazendo um curso de reciclagem, falando coisas fora de costume. Estávamos, todos, no auge da moratória vital, mas vivíamos sem ter muita consciência. Nem de 1968.

Olhando, contudo, para além da janela eclesiástica, víamos – sem entender muito - que a JUC e a JEC eram declaradas extintas pela Conferência dos Bispos, tendo como cabeça de comando nosso cardeal D. Vicente Scherer, arcebispo de Porto Alegre, respeitado por todos, também pelas forças militares, embora o tenham deixado – certa noite – sem roupa, no bairro Medianeira, de Porto Alegre. Era um horror. E eu me preparava para ser ordenado padre. Quando D. Ivo Lorscheider voltou da Conferência Episcopal Latino-Americana de Medellín trazia debaixo dos braços as conclusões do evento, disposto a publicá-las sem pedir muita licença para ninguém, muito menos para os militares. E foi o que fez. Era a tradução, para a América Latina, das conclusões do Concílio Vaticano II que terminara em 1965. Uma cópia dessas Conclusões anda comigo, ainda hoje, com reverência, entre os livros que procuro guardar. Entre as muitas novidades da Conferência, falava-se – talvez pela primeira vez – de juventude, referindo-se a ela “como força de pressão social”... Lembro-me que, na época de preparação dessa Conferência, fui levado a estudar o “Documento de Buga” (cidade da Colômbia), amadurecendo a reflexão sobre a juventude universitária. Por um lado desarticulava-se um movimento de jovens católicos traduzindo a fé dentro da realidade social, política e econômica, e, por outro, olhava-se esta juventude como sendo a expressão da novidade, reconhecendo nela uma “força social de pressão”. Estávamos em 1968.

Por um lado havia uma movimentação enorme de “Comunidades Eclesiais de Base”, de renovação litúrgica, de planejamento pastoral e, por outro, já em 1969, era morto, em Recife, o P. Antônio Pereira Neto, que trabalhava com estudantes. Quando era assassinado Martin Luther King, nos Estados Unidos, surgia em São Paulo um tipo estranho de evangelizar a juventude – especialmente universitária – através de um movimento chamado “Emaús”. Sua pedagogia de impacto movida por sentimentalismos aprendidos nos Cursilhos de Cristandade, era vendida para universitários proibidos de ser organizarem. Nascidos numa Espanha católica, nos encontros de Emaús era proibido falar de política. De estranhas raízes militares, foi um sucesso, conseguindo tornar aceita uma religião apresentada com uma finalidade inconfessada, isto é, de voltar a ter uma religião muito necessária para alguns: uma religião que fosse “ópio do povo”. Ao mesmo tempo recordo que, neste mesmo ano, aparecia no Rio Grande do Sul uma figura estranha de jesuíta, representando e apresentando uma articulação bem diferente de trabalho com a juventude. Falava-se, então, de uma “Pastoral da Juventude”, isto é, da ação organizada de jovens procurando ser Igreja. Esta figura poucos a conhecem, mas era uma novidade. Ela se chamava P. Jesús Andrés Vela, jesuíta. Como me lembro de um encontro com eles, em Gravataí, espalhando esperanças e propostas nascidas no seio de uma Igreja que sonhava ser comunhão e participação, encontrando pessoas – como eu – procurando saídas para a evangelização da juventude dentro de um contexto que imaginávamos fosse de libertação. Estava saindo do orgasmo da minha moratória vital...

1968, em termos eclesiásticos, não brotou fora da realidade e não deixava de situar-se neste ambiente que misturava sofrimento e busca ansiosa. Além de muitas outras iniciativas (Renovação Litúrgica, Catequética, Pastoral..), o que me ocorre recordar é o movimento dos “Cristãos pelo Socialismo” e a organização dos “Padres do Terceiro Mundo”. Que coisa mais genial! Para muita juventude e muitos adultos a revolução socialista estava na esquina e era preciso assumi-la. Se a Conferência Episcopal de Medellín marcou a Igreja da América Latina é que ela foi a expressão de realidades que já vinham acontecendo. No Chile, a expressão da novidade era D. Manuel Larrain, antes da vitória e morte de Allende.

Se fizesse análises de conjuntura no ano que precedeu minha ordenação sacerdotal, estas coisas talvez ficassem mais claras, mas não se pensava nisso. Ao menos nós... Agora estou olhando para trás para dar-me conta que 1968 estava, também, dentro de mim. Quando eu tinha 27 anos dava-se o golpe militar no Brasil e, um pouco antes o mundo chorava o assassinato de Kennedy; quando eu tinha 34 anos dava-se o golpe militar na Bolívia; quando eu tinha 36 anos dava-se o golpe no Uruguai e se assassinava Allende no Chile; quando tinha 39 anos Videla castigava a Argentina com outro golpe... Um pouco antes, contudo, quando tinha 17 anos suicidava-se Getúlio, aos 18 caía Perón na Argentina, aos 22 anos caía Fulgêncio Batista em Cuba. Pelo lado eclesiástico, quando tinha 21 anos fundava-se a CLAR e aos 22 anos nascia em Quito o Centro de Informações da JOC e quando tinha 30 anos matava-se a Ação Católica Especializada. Sem deixar de falar, contudo, que quando eu nascia, a Juventude hitlerista reunia milhões, a juventude fascista era um sucesso e a juventude falangista incomodava a Espanha. Que mundo contraditório gira em nossas veias... Por isso, 1968 é esta pergunta enorme que a juventude gritou para o mundo, também dentro das Igrejas. Como seria agradável saber que entre os 9 milhões de franceses em greve de 18 de maio até 7 de junho de 1968 também estavam seminaristas que nem nós, sonhando novidades. Ou estariam eles entre aqueles que morriam de tédio por estarem fora dos acontecimentos que ocorriam ou iriam brotar mais além? Assim como a Primavera de Praga, as Brigas Vermelhas, os Montoneros, os Tupamaros, os mortos na Praça de Tatlelolco e infindos outros lugares. Não foi por acaso que na Marcha dos Cem Mil, em 26 de junho de 1968, no Rio de Janeiro, a novidade foi a presença de padres, religiosos e freiras aderindo aos protestos porque 1968 também estava atrás dos muros eclesiásticos.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Livro - JUVENTUDE E MOVIMENTO ESTUDANTIL: ONTEM E HOJE

JUVENTUDE E MOVIMENTO ESTUDANTIL:ONTEM E HOJE

Organizadores

Luís Antonio Groppo

Michel Zaidan Filho

Otávio Luiz Machado


SUMÁRIO


Autores

Agradecimentos

Prefácio

Amaro Lins

Introdução: sob o impacto de novos movimentos estudantis

Luís Antonio Groppo, Michel Zaidan Filho, Otávio Luiz Machado


PRIMEIRA PARTE: Juventude, mito e história

Juventude, cidadania e globalização: notas para uma agenda político-pedagógica

Michel Zaidan Filho

O mito do Poder Jovem

Alberto Saldanha

O movimento estudantil de 1968 e a nostalgia do romantismo revolucionário

Rafael Rosa Hagemeyer


SEGUNDA PARTE: Os anos de 1960

A UNE e a Ditadura Civil-Militar de 1964

José Luís Sanfelice

1968: Quando o diálogo é a violência

Maria Ribeiro do Valle

A questão universitária e o movimento estudantil no Brasil nos anos de 1960

Luís Antonio Groppo

Arte, política e juventude no Brasil: questões de arte e participação social

Paulo Marcondes Ferreira Soares

1968: a experiência de um movimento nacional

Nilton Santos

O Movimento Estudantil na Unb: espaço de resistência contra a ditadura militar na década de sessenta.

Paulo Speller

O Movimento de Cultura Popular e a participação dos jovens através da arte

José Wilker

Em defesa da democracia: o trabalho de advogado de presos políticos brasileiros

Antônio Modesto da Silveira


TERCEIRA PARTE: Os anos de 1970

Fim do Estado Novo português e o movimento estudantil

Miguel Cardina

Mobilizações estudantis nos anos 1970

Mirza Maria Baffi Pellicciotta

Uma rua não tão alegre: Movimento Estudantil e a invasão da PUC em 1977

Daniel Cantinelli Sevillano

Cultura juvenil de consumo e identidades sociais alternativas: uma abordagem histórica

Cláudio Novaes Pinto Coelho

REMEMOREX — Uma Rebeldia Necessária

Ary Costa Pinto (São Paulo), Marianna Francisca Martins Monteiro


QUARTA PARTE: Juventude e Movimentos Estudantis nas Escolas de Engenharia

Movimento Estudantil na antiga Escola de Minas de Ouro Preto da UFOP entre 1964 e 1969

Otávio Luiz Machado

Movimento Estudantil na Escola de Engenharia da UFRGS: o "fazer-se" do CEUE

Bruna Sirtori (UFRGS), Rafael Farias de Menezes, Renata Dal Sasso Freitas

Homenagem a Fernando Gasparian

Marcel Mendes

Vale a pena reler "O Politécnico"

Adolfo Lemes Gilioli

A Campanha O Petróleo é Nosso e a Presidência da UNE

Genival Barbosa Guimarães

A Campanha O Petróleo é Nosso no Paraná e a presença do Diretório Acadêmico de Engenharia

Armando Júlio Bittencourt

A Escola Politécnica da USP, o Grêmio Politécnico e o ITA nas décadas de 1940 e 1950: bases para o debate da formação profissional

José Thomaz Senise

A presença estudantil na Escola de Engenharia da UFPA: a visão de aluno e mestre

José Maria Filardo Bassalo

A presença do Centro dos Estudantes Universitários de Engenharia (CEUE) e da FEURGS na Campanha da Legalidade

Fúlvio Petracco

O Movimento Estudantil baiano e a preocupação com o país nos anos 1960

Sérgio Gaudenzi

O ITA e o Centro Acadêmico de seus estudantes são duramente atingidos pela Revolução de 1964

Marco Antonio Guglielmo Cecchini

O Movimento Estudantil da Escola de Engenharia de Pernambuco após 1964

Aécio Mattos

A Atuação do Diretório Acadêmico da Escola de Minas de Ouro Preto na segunda metade da década de 1960

Lincoln Ramos Viana

A luta do Diretório Acadêmico da Escola de Engenharia da PUC-RJ no pós-68

Jaques Wagner

A luta dos estudantes em 1968: a visão de um militante do movimento estudantil de Engenharia

José Chacon de Assis

A participação do Movimento Estudantil da Escola de Engenharia de Pernambuco após o AI-5

Pedro Eugênio

O movimento estudantil da Escola de Engenharia da UFF e a gênese dos primeiros seminários nacionais de estudantes de Engenharia

Fernando Peregrino

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Livro: MOVIMENTOS JUVENIS NA CONTEMPORANEIDADE

ORGANIZADORES: Luís Antônio Groppo, Michel Zaidan Filho e Otávio Luiz Machado

Editora Universitária UFPE.

MOVIMENTOS JUVENIS NA CONTEMPORANEIDADE

SUMÁRIO

Autores

Agradecimentos

Apresentação (p. 17)

Pedro Mendes

Introdução (p. 19-26)

Sob o impacto de novos movimentos estudantis

Luís Antonio Groppo, Michel Zaidan Filho e Otávio Luiz Machado

Lutar é preciso e é o mais importante: a grande herança de 1968 40 anos depois (p. 27-38)

Franklin Martins

As passeatas pelo impeachment em 1992 e os jovens “carapintadas” (p. 39-52)

Luís Antonio Groppo

O Movimento Estudantil Brasileiro: do início da década de 1990 a 2001 (p. 53-65)

Andreza Barbosa

Movimento Estudantil contemporâneo: temas mobilizadores e formas de atuação (p. 66-83)

Carla de Sant’Ana Brandão

Movimento estudantil e as questões de gênero e de diversidade sexual: o desafio de recriar a militância (p. 84-107)

Marcos Ribeiro Mesquita

O Movimento Estudantil e as Cotas na Universidade de Pernambuco: Uma breve reflexão (p. 108-116)

Francisco Jatobá de Andrade

A política contra o instituído dos jovens contemporâneos (p. 117-156)

Janice Tirelli Ponte de Sousa

Movimento Passe Livre, revoltas e simulações (p. 157-171)

Leo Vinicius Liberato

Ações coletivas juvenis na atualidade moderna brasileira: uma análise do Movimento Contra o Aumento da Tarifa do Ônibus em Florianópolis/SC (p. 172-186)

Valéria Silva

Movimentos juvenis e a diversidade das pautas de lutas: por uma nova reconstituição histórica para a cidadania e com a participação dos jovens (p. 187-200)

Otávio Luiz Machado

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Eleições 2008: Mais de 12 mil jovens se candidatam

Num importante momento, em que o debate sobre as eleições ainda pulsa na sociedade, o Blog do Observatório destaca duas matérias.
Um abraço

A juventude mostra que mais do que exercer o direito de votar, está disposta a representar sues pares na luta por direitos desta parcela da população.

O total de jovens com idade entre 18 e 24 anos inscritos para a disputa eleitoral deste ano atingiu a marca de 12.177. Segundo a estatística dos pedidos de registro de candidaturas, em 2008 são 2.846 possíveis candidatos entre 18 e 20 anos de idade e 9.331 entre 21 e 24 anos.
"Os números deixam claro que o jovem, além de participar do processo eleitoral, também se mobiliza na conquista pela representação na política institucional. A juventude votando e sendo votada, demonstra um esforço em combater uma campanha que tenta desestimular a participação política no Brasil". afirma a presidente da UNE, Lúcia Stumpf.
A afirmação da líder estudantil se reflete em candidaturas expressivas como a da deputada federal, Manuela D’ávila, de 27 anos a prefeitura de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Manu, que foi diretora da UNE, ficou em terceiro lugar com 15,35% dos votos na capital gaúcha.
O ex-presidente da UNE, Gustavo Petta, candidato a vereador por São Paulo também deixou sua marca nas eleições 2008: 13.525 votos. Além de Petta, a vice-presidente da entidade ( 2005/2007), Louise Caroline, candidata a vereadora em Caruaru, o ex-diretor da UNE, Bruno Vanhoni, candidato a vereador em Curitiba, o atual 1º Diretor de Políticas Educacionais, Rafael Goffi, candidato em Pindamonhangaba, e Lindberg Farias, que presidiu a UNE em 1992/93, reeleito prefeito de Nova Iguaçu (RJ) são exemplos da mobilização pela representação da juventude na política institucional. 

Da Redação
Fonte: http://www.une.org.br/

Além disso, deixamos o link de uma interessante matéria que foi divulgada um tempo atrás, sobre a relação políticos e "jovens do orkut":

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Veeduria Juvenil Iberoamericana

VEEDURIA JUVENIL
Por la defensa de la vida de los/las jovenes.
http://veeduriajuvenil.blogspot.com/

Construimos este espacio en la Web para denunciar todos los casos concretos que impliquen amenazas, persecuciones, torturas, secuestros y asesinatos de jóvenes. Nos duele constatar que estas graves violaciones a los derechos humanos se están incrementando, sin embargo la opinión pubica se ha insensibilizado adoptando una actitud pasiva, como si fuera algo normal. Nos resistimos a ello, no aceptamos que se naturalice este fenómeno.

No se trata de números, ni de estadísticas, que aunque importantes por lo que ponen de manifiesto , son secundarias ante el valor sagrado de cada vida arrebatada especialmente a niños y jóvenes que solo cometen el delito de expresarse o ejercer sus derechos como ciudadanos/as. Esta es una frontera que no puede ser franqueada. .
Ponemos a disposición este espacio para presentar casos concretos y aunar este clamor por la defensa de la vida de todos y todas las y los jóvenes en nuestra Patria Grande latinoamericana.

Invitamos a que visiten el sitio y lean las denuncias, dejen sus comentarios, hagan un enlace desde sus paginas web, reenvien este correo.

VEEDURIA JUVENIL
Por la defensa de la vida de los/las jovenes.
http://veeduriajuvenil.blogspot.com/

Fraternalmente

Miguel Blasco
Secretario General
Alianza Latinoamericana y del Caribe de ACJs
Latin American and Caribbean Alliance of YMCAs

Manifestação de Repúdio

Como forma de solidariedade às entidades militantes dos direitos das crianças e dos adolescentes em São Leopoldo, o Blog do Observatório reproduz em seu espaço a manifestação subscrita por tais entidades. Junto a este manifesto está "rolando" um abaixo-assinado. Portanto, se o mesmo chegar até você, por favor, colabore com esta luta, legítima e necessária.
As Organizações que compõem a rede de proteção da Região Oeste de São Leopoldo reunidas no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e demais entidades signatárias deste documento, comprometidas com a infância e juventude tornam pública a manifestação de repúdio em relação ao desrespeito aos direitos humanos de crianças e adolescentes, especialmente pela exposição e estímulo à erotização infantil e ao apelo sexual dos programas televisivos exibidos em diversos horários.
A título informativo e como forma de chamar a atenção, citamos alguns programas, de diferentes emissoras, que tem como prática usual a violação dos direitos de crianças e adolescentes em suas programações: Big Brother Brasil, Casseta & Planeta Urgente, Domingão do Faustão, Domingo Legal, Fundão MTV, O Melhor do Brasil, Pampa Show, Pânico na TV, Ponto Pê, Quem Pode Mais, Raul Gil/Concurso Mirim, Sábado Animado, Studio Pampa, SuperPop, Telenovelas, TV Fama, etc.
Faz-se necessário rever qual é o compromisso dos veículos de comunicação na formação dos cidadãos. Por se tratar de concessões públicas e, portanto, serviços públicos, as emissoras de TV devem observar a legislação (Constituição Federal, Estatuto da Criança e do Adolescente, Convenção Internacional dos Direitos da Criança e do Adolescente) e oferecer à comunidade programação que favoreça o entretenimento saudável e o crescimento cultural, especialmente em relação às crianças e adolescentes que se encontram em fase de desenvolvimento e formação da personalidade e do caráter.
A exposição insistente, “espetaculosa e sensacionalista” dos episódios de violência, a apologia à prostituição e à exploração sexual presentes cotidianamente na programação das emissoras de TV, configuram-se como um desserviço à sociedade, influenciando negativamente no comportamento dos sujeitos e infringindo a Lei 8.069, de 13 de julho de 1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente: Art. 3º - A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta lei, assegurando-se-lhes, por lei e por outros meios , todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. Art. 18 – É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. Art. 70 – É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da criança e do adolescente.
Com o objetivo de provocar a discussão sobre a urgência da revisão do papel dos meios de comunicação social e, especialmente manifestar a indignação com a banalização da violência e apelo sexual infantil, as Entidades abaixo convidam outros(as) cidadãos(ãs) e Organizações a unirem forças neste propósito, contribuindo com a divulgação nos diversos espaços de discussão, articulações em redes, movimentos,... e adesão através da assinatura deste documento.

Organizações Proponentes do Manifesto:
AMBAVI
ASPA
Associação Amigos em Ação
ASSOCIAÇÃO DE MORADORES DA PAULO COUTO
Associação de Moradores da Vila Paim
ATUROI
Casa da Criança e do Adolescente
CEDECA – PROAME
Centro Jacobina
Centro Medianeira
Centro de Saúde Vicentina
CRAS – Oeste
Conselho Tutelar
1ª DP
E.E.E.F. MÁRIO QUINTANA
E.E.E.F.M. PARQUE DO TRABALHADOR
E.M.E.I. ACÁCIA MIMOSA
E.M.E.F. CASTRO ALVES
E.M.E.F. PAULO BECK
E.M.E.F. SÃO JOÃO BATISTA
IGREJA EVANGÉLICA BATISTA/JUADI
Instituto Lenon Joel Pela Paz
PARÓQUIA MEDIANEIRA
PARQUE DE RECREAÇÃO DO TRABALHADOR
PSF – Paim
SACIS
SECRETARIA DE CULTURA
SEMUSP
TURMA DO SOPÃO
UNICICLAR
DEMAIS LIDERANÇAS COMUNITÁRIAS

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

CONJUVE lança vídeo da Conferência Nacional da Juventude

Conjuve envia carta aberta ao presidente Lula

O Conjuve enviou uma carta aberta ao presidente Lula, expressando sua preocupação e indignação com o quadro de violência e extermínio de jovens, em especial negros, nas periferias urbanas e favelas do país. Veja, abaixo, a íntegra da carta.

“Exmo. Sr. Presidente Luis Inácio Lula da Silva,

O Conselho Nacional de Juventude, motivado a dar respostas efetivas aos altos índices de letalidade juvenil, reafirma sua preocupação e indignação diante do quadro de violência e extermínio de jovens, em especial negros, moradores das periferias urbanas e favelas do nosso país.
Esta dramática situação é denunciada, sistematicamente, por diferentes organizações de direitos humanos e de juventudes e foi reafirmada pelos resultados do último Mapa da Violência 2006 apresentado pela Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI).
O estudo mostra que o assassinato de jovens brasileiros tem vitimizado, sobretudo indivíduos do sexo masculino (93%), negros e pobres, atestando a existência de uma causalidade, se não unívoca, forte entre desigualdades sociais e violência e também questões de gênero e raça que permeiam esse fenômeno. O estudo aponta ainda que esse extermínio de jovens acontece de maneira mais sistemática em alguns estados brasileiros, sendo Pernambuco, Bahia, São Paulo, Espírito Santo e Rio de Janeiro as regiões do país em que a vida de jovens encontra-se mais ameaçada. A relatora especial das Nações Unidas sobre Execuções Sumárias, Arbitrárias e Extrajudiciais, Asma Jahangir, em seu último relatório, além de corroborar o acima descrito complementa que a maior vítima de execuções sumárias e extrajudiciais no Brasil é o jovem entre 15 e 24 anos.
Reafirmamos que é inadmissível a criminalização, resultado concreto do descaso com a população jovem historicamente discriminada e alijada do acesso aos direitos universais garantidos pela nossa Constituição, a nossa carta magna.
Entendemos que neste quadro, a garantia do acesso às políticas universais somado às políticas de promoção de igualdade racial deva ser um caminho a ser traduzido em políticas de Estado, tendo como orientação as prioridades e resoluções da 1ª Conferência Nacional de Juventude, realizada em abril de 2008.
Reconhecemos todos os esforços que estão sendo enveredados pelo seu governo para que os jovens em situação de vulnerabilidade e em alto risco social tenham oportunidades que permitam a construção de um futuro melhor e mais digno.
Mas consideramos que neste segundo mandato de Vossa Excelência é necessário enfrentar questões como: o extermínio da juventude negra e a altíssima letalidade juvenil, a violência e a exclusão social com ações, projetos e programas para a juventude com maior força e impacto. Abaixo seguem algumas recomendações:
1. A imediata implementação do Pronasci e do Protejo, acompanhada de avaliações publicamente debatidas.
2. O fim da impunidade para os policiais responsáveis pelo assassinato destes (as) jovens.
3. O combate sem tréguas aos grupos de extermínio e aos grandes traficantes de drogas e armas.
4. Investimentos efetivos para ações de reparação direcionadas aos/às jovens negros (as) e afrodescendentes que moram nas periferias e favelas.
5. A criação de ouvidorias de polícias autônomas e independentes, possibilitando à sociedade organizada a participação e monitoramento de suas ações.
6. A criação de conselhos de segurança pública em âmbitos municipais, estaduais e nacional possibilitando à sociedade organizada a participação na concepção, formulação, implementação e acompanhamento das ações e dos planos de segurança pública.
7. Intersetorialidade na construção das diretrizes das políticas de segurança, garantindo a superação do paradigma de que segurança pública seja somente responsabilidade das secretarias de segurança pública e de justiça.

Atenciosamente,

Conselho Nacional da Juventude
Brasília/DF, 03 de setembro de 2008”

Fonte: www.juventude.gov.br