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sábado, 9 de agosto de 2008

Pesquisa Datafolha "Jovem Século XXI"

São Paulo, 27 de Julho de 2008.
Resumo e Comentário de Hilário Dick
Foram entrevistados 1541 brasileiros/as entre 16 e 25 anos, em 168 cidades. Ivan Finotti (editor de Folhateen) diz que é “o mais completo perfil do jovem brasileiro neste século XXI”. Aplicaram-se dois questionários: um, de 60 questões, aplicado pelo pesquisador/a; o outro, de 30 questões (sobre sexo e drogas), era preenchido pelo entrevistado/a, colocando o questionário numa bolsa lacrada, só aberta no Instituto Datafolha, em São Paulo. Queremos ler e comentar o resultado apresentado na “Folha de São Paulo” de 27.7.2008.

Perfil dos entrevistados/as
O perfil se refere ao maior sonho, à ocupação principal, à mesada e aos ganhos do último mês, pessoal e familiar. Falando do “maior sonho” o questionário se ateve, de fato, ao aspecto pessoal dos jovens. Entre 12 sonhos, os mais apontados foram: 1º “trabalhar em uma profissão” (especialmente como advogado ou médico) 18%; 2º emprego 15%; 3º casa própria 14%; 4º terminar os estudos 12% e 5º ter uma boa família 10%. 33% dos sonhos giram em torno do trabalho. As ocupações principais dos entrevistados/as foram: estudante (23%), assalariado registrado (22%), assalariado sem registro (16%), e free-lancer/bico (13%). 9% se afirmam desempregados. Para 51% a ocupação principal é o trabalho. Ser estudante é somente ocupação. Quanto à mesada, 84% dizem não receber, mas 11 dos 16% dos que a recebem, são agraciados por até R$ 200,00; os outros 5% ganham mais do que isso, chegando a R$ 415,00. Considerando o mês passado, 77% dos jovens dizem que ganharam (salário etc.) até 760,00 e 14% de R$ 761 até 1.140,00. Por outro lado, a renda familiar mensal para 30% deles/as (segundo os dados do Datafolha) é até R$ 760,00 e, para 24%, de R$ 761,00 a 1.1.40,00. Significa isso que 91% dos jovens entrevistados ganham até R$ 1.140,00 e só 54% das famílias teriam uma renda mensal de até R$ 1.140,00? É o que os números publicados deixam a entender. Se 33% vão ao trabalho ou ao estudo de ônibus, 32% fazem esses trajetos a pé. 12% vão de carro e 10% de bicicleta e 9% de moto.

Nota: é um dado estranho o do “ganho” e o da “renda familiar”: ou o entrevistado é, muitas vezes, o único a ganhar, ou o entrevistado não colabora com a renda familiar mensal, isto é, não se considera (de alguma forma) da família.

A pesquisa abrange 14 aspectos: inquietações, família, educação, gravidez, sociedade (igreja), valores, pátria, aparência (o único aspecto que merece duas páginas), sexo, consumo, conexão, ídolos, vícios, música.

Inquietações
Foram feitas cinco perguntas. Perguntou-se se já foram assaltados, se tem medo de sair de casa, sobre o maior medo e sobre o maior problema do Brasil e do mundo. As respostas apontam para o medo da morte e a violência. Se, em geral, 30% já foram assaltados, nos jovens ricos esta percentagem chega a 49%. Quanto ao sair de casa, 18% dos homens e 33% das mulheres têm “muito medo”. É maior o medo dos pobres do que dos ricos (31% e 17%), refletindo-se a mesma realidade entre os jovens do nordeste e do sudeste. Os três maiores medos são morrer (23%), a morte de parentes (17%) e a violência (13%). O medo não só é pessoal, mas familiar. Entre os oito maiores problemas do Brasil destacam-se quatro: a violência (17%), a corrupção (desonestidade) (16%), o desemprego, a fome e a pobreza (13%). Entre os oito maiores problemas do mundo reaparece a violência (22%), vindo, depois, a poluição e a miséria (13%), ficando a corrupção em 4º lugar com 8%. As drogas ficam em 8º e 7º lugar respectivamente.

Nota: A violência é encarada, na pesquisa, unicamente como algo “externo”, claramente visível. Não se pensa em outros tipos de violência (afetiva, consumista, econômica, moral...). Se aparece o medo de morrer, o “sobrar” aparece como problema e não como medo. O medo de “ficar desconectado” também não aparece. Contudo, mais adiante, vamos ver que a aparência merece duas páginas, provando a importância que tem na juventude ou à qual o jovem é induzido.

Família
A família, na pesquisa, merece uma só pergunta relacionada com o amor e a confiança na família “tradicional” chamada de “nuclear” (pai, mãe, avós e irmãos). Os que se destacam na onda da ternura são a mãe e os avós, ficando os pais mais desajeitados, sem muita diferença, atrás dos irmãos. Pode-se dizer que, assim como foi posta a questão, não era para trazer novidades, de fato. Além de ser o consenso desbragado, praticamente todas as pesquisa dizem isso... não se quiseram ver novidades. Uma gama muito grande de situações não aparece: pais separados, significado do pai e da mãe, sentido de família, família não nuclear, tratamento da família nos MCS, etc. Por que Cláudia Oliveira (psicóloga especialista em relações familiares) afirma que, daqui a 15 anos, os dados serão outros, especialmente com relação à figura do pai? “Mãe é a mais amada” diz a “chamada” da leitura feita pela DataFolha.

Educação
O objeto da pesquisa, pelo relatório do Datafolha não parece ter sido a educação, mas a má educação, como diz a leitura feita de dois jornalistas, desta perspectiva. As perguntas que aparecem referem-se à repetência, ao fato de estudar e ao nível de estudo em que se encontram, à avaliação dos professores, ao desejo de fazer o curso superior, se é de escola pública ou particular, às leitura feitas nos últimos seis meses, à cola (relacionada com o uso do celular) e à utilidade que tem a escola.

Vemos assim que – estranhamente - apesar de 71% julgarem que é muito útil o que se aprende na escola, e de 77% dos jovens que chegam à faculdade não serem repetentes, 54% dos jovens brasileiros já repetiu o ano na escola. Não só os pobres, mas também os da classe A ou B, aonde os repetentes chega a 44%. Pela pesquisa vemos, ainda, que 32% dos jovens não leram nenhum livro nos últimos seis meses (veja-se que 308 deles são universitários), que, de zero a dez, os professores/as merecem a nota 8,1. Outro dado que não pode passar em branco é que 49% dos jovens entrevistados (= 755), de 16 a 25 anos, não estudam; que 68% estão na escola pública, que 52% dos entrevistados estão no ensino médio (= 801) e 20% no ensino superior; e que 67% (isto é, 1.032 de 1.541) pretendem fazer curso superior.

Nota: São dados que não falam só da má educação, como a leitura de Datafolha pretende deixar a entender, mas que a situação educacional está mal – o que são coisas bem diferentes. Fica claro que os jovens gostam da escola, gostam dos professores, querem ir adiante nos estudos, apesar de haver muitos repetentes e apesar de 49% não estarem estudando. O discurso das percentagens é um clamor, não um atestado negativo para os jovens. Uma pergunta que surge (entre tantas outras) é: porque os meninos são muito mais reprovados (63%) do que as meninas (46%)? O fato de a grande maioria dos professores serem mulheres, não influenciaria? De qualquer forma, a repetência não deixa de ser um questionamento. Não é que os jovens achem o estudo inútil; é que o estudo não tem sabor – aspectos aparentemente contraditórios. O que tem sabor – parece - é o colégio, não a sala de aula. E, contudo, como se explica a avaliação tão positiva dos professores/as?

Gravidez
Duas são as atenções, nesta parte da pesquisa Datafolha: a gravidez e o aborto. Quanto à gravidez, pelas seis perguntas que foram feitas, sabe-se que um de cinco rapazes e/ou moças de 16 a 25 anos tem filhos, significando 21%. Os rapazes tinham, na média, 19,3 anos e as moças 18 anos quando tiveram seu primeiro filho/a. Tem menos filhos os/as jovens com curso superior e que ganham mais de 10 salários. 42% desses pais ou nunca viveram juntos ou já estão separados, mas em 61% a criança mora com o casal (30% com um dos pais separados). Para 71% dos casos a gravidez não foi planejada, principalmente entre os mais ricos. 85% não se arrependem de já ter filhos, mas os de 16 e 17 anos se arrependem mais: 37% x 14%. A pesquisa não traz, contudo, mais dados sobre a gravidez dos/as adolescentes; quer saber mais da primeira gravidez.

O fato que merece mais atenção (jornalística? ideológica?) é o aborto. A pesquisa fez duas perguntas para as mulheres: se elas já fizeram aborto e se alguma amiga delas já fez aborto. O resultado é um tanto estranho: se somente 4% admitem que já fizeram aborto (as que mais admitem são as que tem de 22 a 25 anos), 33% afirmam saber de amigas que fizeram e 57% dizem não ter informação sobre isso. Seria medo ou (uma estranha) solidariedade, procurando esconder algo ou será verdade? No mínimo estamos frente a um tabu. Assim como uma postura teórica ante o fato demonstra segurança, os dados revelam uma falta de transparência ante os fatos.

Sociedade
Para perceber as “participações sociais” dos/as jovens a pesquisa fez duas perguntas: uma sobre que tipo de organização o/a jovem participa e outra sobre a religião deles/as. A resposta com relação às participações não está clara porque, por um lado, 45% afirmam que não participam e, por outro lado, se se diz que 39% participam das igrejas, 24% de trabalho voluntário, 12% de organizações ecológicas, 18% de entidades estudantis, 7% de partidos políticos, etc. estes dados significam que 55% de jovens se afirmam “partícipes”. É um dado que contrasta com outras pesquisas constatando, por exemplo, que somente 15% dos jovens teriam alguma participação social em alguma organização. De 15 a 55% (por exemplo) a diferença é muito grande.

Onde se verifica um “encontro” é no peso que tem a participação nas igrejas. A leitura que o Datafolha faz diz, por exemplo, que “a participação em organizações religiosas bate de longe a reunião em grupos políticos”. A pergunta é: o que significam as participações em trabalhos voluntários, as organizações ecológicas, as entidades estudantis, os sindicatos, a reforma agrária? Se juntarmos à participação em partidos políticos as atividades citadas, teríamos uma “participação política” (não necessariamente partidária) de 63%. O “político”, neste sentido, ultrapassa de longe a participação “religiosa”. Seria uma realidade que não se deseja ver? O exótico que parece querer-se acentuar é o peso do “religioso” – o que não deixa de ser, igualmente, significativo.

Novidadeiros são, igualmente, os dados relacionados com a pertença a alguma religião. Se 10% afirmam não pertencer a alguma religião, se 16% se inscrevem na religião pentecostal evangélica, se 1% se afirma ateu etc. 59% se dizem da religião católica. Afirmamos que os dados são novidadeiros, porque eles se chocam, também, com outras pesquisas e dados oficiais. Segundo o IBGE, 73,6% dos jovens de 15 a 24 anos se declaram católicos/as e 9,1% dizem não ter religião. Por um lado a pesquisa não nega a religiosidade emergente no mundo juvenil e, por outro, diminui sensivelmente a pertença, por exemplo, à igreja católica.

Valores
A pesquisa apresenta a postura dos/as jovens sob vários aspectos. Perguntou-se sobre o aborto, a pena de morte, a maconha, a idade mínima para ir à prisão (redução da maioridade penal), o acompanhamento ao noticiário político, a postura política e sobre a importância de 11 itens (família, saúde, trabalho, estudo, lazer, amigos, religião, sexo, dinheiro, beleza e casamento). Sobre o aborto 68% (assim como a população) dizem que “se fique como está” e com a lei que aí está; sobre a pena de morte 50% são a favor; sobre a criminalização da maconha 72% são a favor dela; e sobre a redução da maioridade penal os/as jovens afirmam (46%) que a idade seja entre 16 e 17 anos (sendo mais “duros” que a população (= 41%). Defende-se uma criança que ainda não nasceu (veja-se os dados sobre o aborto), mas não se defende a vida de um/a adolescente de 16 a 17 anos. Assim como são políticos (não na perspectiva partidária), 52% dos jovens afirmam que não costumam acompanhar o noticiário político. Se 37% tomam uma postura de direita, 28% são de esquerda e 23% consideram-se do centro. Assim como o Datafolha cita a frase de Fernanda (18 anos) dizendo que “ser de esquerda é ser um zero à esquerda”, outras se afirmam “neutríssimas”. A leitura da “Folha de São Paulo” também cita Marcos Vinícius, afirmando que “ser de esquerda é ser do contra”... O mesmo Marcos diz-se fã de Lula, o presidente.

Olhando o quadro da importância de onze valores, embora todos tenham recebido um peso significativo, podemos dizer que os valores que estão no topo são a família, a saúde, o trabalho e o estudo (todos acima de 90%) e que os que estão na “base” são o dinheiro, a beleza e o casamento (na base dos 70%). No meio desses dois extremos (talvez um tanto “perdidos”) estão o lazer, os amigos, a religião e o sexo. Pode-se dizer que há discursos estranhos com relação ao significado do dinheiro e da beleza (aparência) e com relação à importância que tem o lazer, os amigos, a religião e o sexo – assuntos que mereceriam aprofundamento.

Pátria
Havia, nesse item, uma só pergunta: você tem vontade de sair para sempre do Brasil? Seria pacífica a leitura do Datafolha, não destacando os 57% que não têm nenhuma vontade de sair, em vez de destacar os 42% que tem muita ou pouca vontade de sair? Assim como 81%, praticamente, não desejam sair, acentua-se (na leitura) os 18% dos que desejam muito, situando-se, estes “candidatos”, em grande parte, na classe A e B. Não pode passar despercebido, também, que 52% dos índios teriam expressado a vontade de sair (quase a mesma percentagem dos “brancos” e ricos).

Aparência
Como não podia deixar de ser (!) o item merece duas páginas do Datafolha, embora tenham sido feitas somente cinco questões relacionadas à aparência: a aparência em geral, o peso, as partes do corpo dos quais o/a jovem gosta mais e menos, sobre o desejo de fazer plástica e sobre algum tipo de atividade física. Impressiona a pormenorização das partes que os jovens querem mais e menos, do cabelo aos pés. Assim como a parte mais amada são os olhos, a parte mais odiada pelas meninas é a barriga e, pelos rapazes, os pés. Os lugares mais visados para uma possível plástica são, para as meninas, os seios e, para os rapazes, o nariz.

Conforme a pesquisa, nos últimos 10 anos cresceu muito a insatisfação com a aparência. O “pouco satisfeito”, p.ex. foi de 16% para 37% e o “muito satisfeito” baixou de 82% para 59%. O mesmo sucede com o peso. A insatisfação foi de 39% para 50%. Se o descontentamento é maior entre as garotas, as meninas de 16 e 17 anos representam o auge do dissabor. Dado curioso aparece, igualmente, no campo das atividades físicas. Se 75% dos homens praticam algum tipo de atividade física, esta percentagem, nas mulheres, é de 43%. Se o futebol marca os rapazes, a caminhada é a saída das meninas. Quem mais quer fazer cirurgia são as mulheres de 22 a 25 anos, embora a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica afirme que 13% das plásticas tenham sido feitas em adolescentes de 14 a 18 anos.

Sexo
Apresentam-se seis perguntas, neste aspecto, mas uma grande chamada da “Folha de São Paulo” diz que 22% das mulheres entre 16 e 25 anos afirmam que nunca transaram... O mesmo afirma 11% dos rapazes. As perguntas são sobre a primeira transa e do “sabor” dela, sobre o casamento virgem, sobre o número de parceiros/as com os/as quais já transou, sobre a relação com pessoas do mesmo sexo, o masturbar-se e o uso da camisinha. Mesmo sem ver o resultado das respostas vê-se que o sexo (pesquisado dessa forma) é curiosidade, nada mais. Fuxica-se na sexualidade das pessoas, isto é, dos jovens.

A primeira transa, para os rapazes, se dá, principalmente, entre os 13 e 15 anos; para as meninas isso acontece, principalmente, entre os 16 e 17 anos. Se 24% dos jovens não querem casar virgens, 40% dizem que “sim” e 36% não sabem... Diz uma estudante de jornalismo que começou a “ficar” aos 13 anos e que “a mulherada está atacada hoje em dia. Acho que é falta do que fazer”... O que dizer, então, dos rapazes? 67% dos rapazes dizem que a primeira transa foi ótima; para as meninas esse “ótimo” baixa para 51%, acrescida por 18% de “ruim” e “péssimo”. Se as mulheres já transaram, principalmente, com um ou dois (49%), os rapazes dizem que as parceiras já foram mais de cinco (51%). Mais adiante vão revelar que 81% dos homens e 80% das mulheres não são mais virgens. A região que confessa ser menos virgem é o Sul (88%) e a região mais virgem é o Nordeste (80%).

Perguntados se os entrevistados/as já tiveram relações com o mesmo sexo, uma boa percentagem, tanto dos rapazes como das meninas, não responderam (= 26% dos rapazes e 23% das meninas). Talvez seja uma dedução apressada, mas parece que não está vigorando a veracidade. Sobre a masturbação, 72% dos rapazes dizem que é saudável, fazendo parte do ser humano. As meninas afirmam o mesmo 60%, e dizem, também, (30%) que é imoral ou deve ser evitada.

Quanto ao uso da camisinha, 36% dos rapazes e 45% das meninas dizem que usam sempre. O “de vez em quando” também é mais forte com as meninas que os rapazes (31% x 28%). São os rapazes, igualmente, os que mais “nunca” usam a camisinha (24%).

Consumo
Havia cinco perguntas relacionadas ao consumo. Se 43% se consideram “um pouco consumistas”, 31% dizem que não são nada consumistas e 26% “muito”. Gastam o dinheiro em quatro itens, principalmente: a roupa (61%), a comida (31%), a diversão (26%) e “contas”. Para os cursos investem 7% (o mesmo que para os cosméticos...). Apesar de gastarem 61% em roupas e sapatos, 51% afirmam que estar na moda é “um pouco” importante. Os dois grandes sonhos de consumo são ter casa própria, para a família, na praia (36%) e ter carro (33%).

Os lugares aos quais mais costumam ir são shows (72%), shoppings (63%) onde ficam em média 2,7 horas, bares (59%), bibliotecas (56%) apesar de lerem tão pouco, como foi dito noutra ocasião, cinemas (53%), casas noturnas (47%) e livrarias (44%). Assim como o sexo, o relacionamento com o consumo fica um assunto que deixa interrogações, ao menos no que a leitura apresentada revela.

Conexão
Estão em jogo a TV, a internet e as “LAN house”. Principalmente entre os mais ricos, a TV vai perdendo a preferência, embora seja a melhor fonte de informação e 98% assistirem TV 3,4 horas por dia. forma. Os meios mais usados, contudo, no geral, são: TV aberta 33%, Internet 26% (seduz pela perspectiva do controle), Jornais 19%. Na TV, os programas mais assistidos variam de jornais (89%) até esportes (60%) passando pelos filmes, novelas, desenhos, musicais. Na Internet, 74% dos jovens afirmam costumar acessar a internet e 26% não. O conteúdo mais acessado são sites de relacionamento (81%), páginas musicais (79%), e-mails (76%), downloads de música e pesquisa para a escola (61%). Um dos motivos de atração da LAN house é a zoeira. Quem vai aí não se sente sozinho. O que os/as jovens mais acessam são sites de relacionamento, notícias, mensagens instantâneas e e-mails.

Ídolos
Na beleza, para os rapazes, quem tem maior preferência é Juliana Paes (Giselle Bündchen está em 3º lugar); para as mulheres quem comanda é Reinaldo Gianecchini. “Bem sucedida” é Ivete Sangalo; “honesto” é Lula; e “inteligentes” são Sílvio Santos e Jô Soares. Não aceitam muito pôr a carapuça de qualquer personalidade, destacando-se a função de cantor, ator e jogador de futebol. Como diz André Forastieri, “pretendem atingir suas metas gastando o mínimo”.

Vícios
Entram nesse conjunto as drogas, o álcool e o cigarro. Quanto ao uso de droga, 22% dos rapazes e 11% das meninas dizem já terem usado. Entram, nisso, principalmente, a maconha (77%), a cocaína (31%), o lança-perfume, o ecstasy, o LSD e o crack (7%). A região do Brasil campeã no uso de drogas é o Sul (22%), seguido do Sudeste (19%). Outro dado, considerado como de horror por uma psicóloga da Universidade Federal de São Paulo é o fato de 43% dos pais saberem do uso de drogas pelos filhos. Quanto ao álcool 65% dos rapazes confessa ter o costume de beber; as mulheres chegam a 53%. Quem mais bebe é o povo do Sul e do Sudeste. Embora 40% não saibam dirigir, 20% já dirigiu depois de beber. Quanto ao cigarro, 81% dizem não ter o costume de fumar.

Música
A preferência musical fica por conta, especialmente, de cinco estilos: o forró (25%), o pagode e o rock (23%), o rap e o sertanejo/country (22%), ficando a MPB em sexto lugar. São mais os ricos do que os pobres, os que preferem o rock. Vendo esse resultado um estudante de jornalismo de Sorocaba escreve que “com o tempo, a educação passou a elitizar nossas asneiras”. Seria isso porque o samba só tem a preferência de 11% dos jovens ou porque o pop ficou em sétimo?

Conclusão
Esta leitura é somente fruto da leitura do anexo especial da “Folha de São Paulo”, de 27 de julho de 2008. Colaboraram neste “Caderno” quatro articulistas e 11 colaboradores/as (cinco mulheres e seis homens). Os articulistas vão de antigo responsável pela “Folhateen” até um estudante de jornalismo. Se eles são os mais críticos, os/as colaboradores/as são, em grande parte, responsáveis pela leitura “jornalística” dos dados. A denominação “jornalística” refere-se a uma impressão que o “Caderno” deixa de sensacionalismo, podendo ser concluído que o jovem poderia ter sido tomado mais a sério. Exageram-se “curiosidades” e exotismos. Não se respeita o jovem, tornado alvo de fuxicos até interesseiros. Não se chega ou não se quer ouvir, de fato, a realidade juvenil. O que se apresenta é um discurso de fuxicada...

Dois dos articulistas são psicanalistas de renome: Contardo Calligaris e João Batista Ferreira. Ao passo que Calligaris põe como título de seu artigo “A adolescência acabou”, João Batista Ferreira fala que “É preciso ser generoso”. Se Calligaris afirma que os adolescentes (a pesquisa era sobre jovens) “são tão caretas quanto a gente, se não mais” e que “a invenção cultural da adolescência nem sequer transformou a maioria dos adolescentes em rebeldes” e que “o tempo da adolescência acabou” e que talvez só tenha sobra dela “apenas uma trilha sonora”, outro é o tom do artigo de João Batista Ferreira. “Juventude”, diz ele, “é o tempo da mais extraordinária revolução por que passa o ser humano” e encontra 11 adjetivos para a juventude que encontrou na pesquisa: desde o pragmático e vinculativo até o generoso, sem culpa e revolucionário, todos eles vestidos de positividade.

Por outro lado, Forastieri (primeiro editor de “Folhateen”) afirma que “nosso jovem é surpreendentemente sofisticado em sua ambigüidade” e que viu (na pesquisa) “uma geração que bate ponto na moralidade convencional, mas, na prática, atua segundo seus interesses” e Leandro Sarubo, depois de passar dois dias analisando os gêneros musicais prediletos, se irrita com os gostos musicais dos jovens, chegando a afirmar que “o Nordeste só evoluirá quando abandonar suas arcaicas raízes culturais...”.

A irritação que poderia ter sentido não é esta. É a forma como é tratada a juventude, ao menos naquilo que é apresentado no “Caderno” da “Folha de São Paulo”. Não diremos o mesmo com relação à pesquisa com suas perguntas, mas é aconselhável que também isso seja analisado. A afirmação de que estamos frente ao “mais completo perfil do jovem brasileiro neste século 21” merece, no mínimo, que se estudem outras nuances da pesquisa que não foram apresentados e sobre os quais os colaboradores deixam dúvidas. A dúvida maior é sobre a seriedade com que se encara a realidade que foi analisada. Parece que os jovens não possuem outro discurso ou que o discurso que se faz sobre ele é esse mesmo: de desrespeito e de fuxicação.

Um comentário:

Videos de tudo que ha no mundo disse...

Vão a merda pq não fala sobre a merda dos jovens shshshhshshshhshshshsshhshshhsahgsdhahshdhashdgashdfashdgasdfashdghasghdasdawhgdhgdas brincadeira gente legal de mais esse textinho pequenininho que fala sobre essas coisas de hoje em dia parabens =)