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quinta-feira, 11 de março de 2010

O lugar dos Jovens na história brasileira

Augusto Caccia-Bava
Dora Isabel Paiva da Costa

Introdução

O Brasil é um país cuja história foi escrita de fora, ao longo de séculos. Por quatrocentos anos foi interpretado aos olhos da Europa; no século XX, por meio de parâmetros teóricos europeus e outros originários dos Estados Unidos da América. Só nos momentos de rebeldia é possível notar-se a presença de uma intelectualidade jovem que buscava narrar a vida dos povos que constituíram a sociedade brasileira de um ponto de vista, não oficial, não convencional. Nesta ótica de contestação, o País pode ser conhecido como um território fértil de riquezas indescritíveis, de pontecialidades libertadoras que levaram os jovens à decisão de projetar um futuro libertário para as etnias negras, para as classes libertadoras, para as artes, para a vida estudantil, para as práticas religiosas, para a democracia.
É com base nas referencias históricas regionais que os jovens puderam ser identificados como protagonistas de distintos movimentos, permitindo que fossem reconhecidos como grupos singulares, no interior da sociedade brasileira. O estudo das experiências dos jovens abolicionistas brasileiros permite-nos identificar as primeiras manifestações do protagonismo que avançaram duas décadas do século XX, até se objetivarem em três grandes movimentos de expressão da consciência política jovem, na década de 1920. O primeiro, conhecido como o Movimento da Semana de Arte Moderna, uma experiência estética, das mais significativas. O segundo, como Movimento Tenentista. O terceiro, conhecido como movimento político-partidário do qual resultou a formação do Partido Comunista.
Os jovens se apresentaram à sociedade brasileira como grupos solidários a movimentos classistas, como protagonistas de projetos unificadores da nacionalidade até o final dos anos 60. Em distintos momentos da história, os grupos e movimentos juvenis tornaram-se referência de práticas de resistência. Resistiram ao escravismos, ao poder oligárquico, à aristocracia militar, ao processo de expropriação de trabalhadores, às agressões à humanidade presentes entre os deserdados, ao elitismo das políticas educacionais e à perda de princípios ético-politicos da ordem democrática constitucional.
No processo de resistência, os jovens puseram em movimento seu imaginário e construíram uma linguagem que representou a sua identidade. Essas referências permitem-nos afirmar a possibilidade de uma reflexão otimista e prospectiva da historia da juventude brasileira, no século XX, uma vez que os jovens se revelaram, a toda a sociedade brasileira, como grupo ou movimento, capaz de protagonizar processos de formação cultural e política, alternativos para as novas gerações.

1. Jovens abolicionistas abrem as portas do século XX

A sociedade brasileira passou por intensos debates políticos durante a segunda metade do século dezenove. O núcleo liberal dos grupos políticos propunha colocar a sociedade nos novos patamares da modernização política e institucional, seguindo os passos de alguns movimentos políticos da Europa Ocidental. Destacam-se, nisso, os jovens abolicionistas que protagonizaram as ações mais extremistas.
A população escrava constituía a grande maioria da força de trabalho usada nas plantações açucareiras e cafeeiras que destinavam seu produto as mercado europeu, constituindo a principal fonte de renda do Estado Imperial e das classes que o apoiavam. Grupos e facções das camadas dominantes, cujos interesses eram por vezes conflitantes, levaram alguns pensadores a entender que o protagonismo abolicionista foi um assunto eminente de brancos (IANNI,1978). Outros pensadores argumentaram que esse assunto seria algo independente e autônomo de negros rebeldes, que teria contribuído com o desmoronamento da instituição escravista (MOURA,1981).
O debate aglutinou dois pólos de ação política: a juventude de linha moderada, chamada emancipacionista, e a juventude de linha mais radical, chamada abolicionista, denunciavam a propriedade escrava como roubo e só aceitava a abolição total e imediata. Essas duas linhas de atuação foram conduzidas por inúmeros jovens brilhantes que se destacaram no movimento: Joaquim Nabuco, Luís Gama, José do Patrocínio, André Rebouças, Antonio Bento de Souza e Castro, Hipólito José da Costa, José Bonifácio, padre Feijó e tantos outros. Destacou-se, também, por sua atuação radical com táticas extremistas muitas vezes denunciadas nos jornais conservadores da época, uma organização clandestina de agitadores denominada caifazes.

2. Jovens intelectuais no alvorecer do século XX

Os jovens brasileiros que desencadearam movimentos culturais e políticos no século XX necessitaram de duas décadas para se apresentarem à sociedade. Um dos que mais se destacou na produção de uma política cultural brasileira foi Astrogildo Pereira, que se tornou referência nacional e internacional pelo papel que desempenhou na formação do Partido Comunista Brasileiro. Dois outros jovens que produziram outro movimento cultural fantástico foram: Mário de Andrade e Oswald de Andrade, protagonistas da Semana de Arte Moderna. Um terceiro jovem intelectual que protagonizou um movimento político e doutrinário, próximo ao fascismo europeu, foi Plínio Salgado. Sob sua liderança o país assistiu à emergência do movimento juvenil dos Camisas Verdes, que surgiu nos anos de 1930, e que esteve em cena até o final da segunda Guerra Mundial.

3. Os Jovens da Semana de Arte Moderna de 1922

Paralelamente ao processo de lutas anarcossindicalistas que evoluiria para a formação do Partido Comunista do Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, através da militância de Astrojildo Pereira, erguia-se um movimento de jovens literatos, artistas plásticos e músicos em defesa da contemporaneidade estética, do qual emergiria um significativo grupo de intelectuais, jovens e adultos, no estado de São Paulo.
È assim que uma jovem mulher, de nome Anita Malfati, despontou nas artes plásticas brasileiras, no ano de 1917. Com 23 anos, nascida em São Paulo, realiza sua primeira exposição. Muitos foram os jovens presentes na Semana de Arte Moderna, segundo Mário de Andrade que, com 29 anos, esteve presente e apresenta os que estavam lá. São eles: Guilherme de Almeida, “aristocrata maravilhoso, admirador de Oscar Wilde”; Menotti Del Picchia, “poeta como os que mais sejam”, participando da Semana nos seus 30 anos de idade; Oswaldo de Andrade, “quebra-louça”; Luis Aranha, que “leu e relê todos os clássicos da língua”. “Varou no original os grandes poetas ingleses”, como dizia Mário de Andrade. Sergio Milliet, “outro aristocrata, educado na Suíça”. Anita Mafalti, “Pintora. Estudou na Alemanha e nos Estados Unidos”. Victor Brecheret, “em Roma, filiou-se a Mestrovic (escultor croata, fundador da academia de Zagreb, viveu entre 1883 e 1962) para aperfeiçoar-se escolheu Paris”; DI Cavalcanti, “arlequim menino de roupa multicolor”; Vila Lobos, que vem do Rio (Rio de Janeiro, então capital do Brasil), seguiu Debussy.
Para os jovens intelectuais, artistas rebeldes da Semana de Arte Moderna de 22, havia ainda que se conceituar arte e movimentos, para construírem marcos históricos das transformações futuras, que ocorreram ao longo da produção literária e pictórica de suas obras de juventude e maturidade.

4. Os jovens do movimento tenentista de 1922 e seu programa
revolucionário

No interior do exército brasileiro surgiria um movimento de jovens oficiais que propugnavam por uma forma de ação política contrária aos padrões republicanos e oligárquicos dominantes até a década de trinta, do século passado. Assim caracteriza o historiador e general Nelson Werneck Sodré este movimento: “ a essência do movimento constituiu no seu papel ligado ao processo de ascensão da burguesia brasileira, em luta contra o absoluto domínio exercido pela classe latifundiária... grupos cada vez mais numerosos de jovens oficiais empreenderam sucessivas tentativas para quebrar, com a rebelião militar, a situação dominante”. E esse movimento político ganha corpo até o ano de 1929, quando se une a outras forças para a derrubada do governo federal oligárquico.
Um jovem escritor que esbarra no movimento da Semana de Arte Moderna, refletia sobre o movimento tenentista. Tratava-se de Plínio Salgado, futuro dirigente de movimento jovem de caráter nacionalista, antiamericanista, na década de 1930.
Quando historiadores apresentam os protagonistas do Movimento Tenentista de 1922, iniciam por um de seus integrantes que se destacou na política brasileira por mais de meio século. Seu nome é Luis Carlos Prestes, jovem militar de 24 anos de idade, no ano de 1922. Outro jovem era o Dinarco Reis, hoje conhecido como o Tenente Vermelho. Um terceiro jovem tenente foi Siqueira Campos, cujo perfil intelectual era invejado. Entre outros tenentes se destacaram: Miguel Costa ,Juarez Távora, Hercolino Cascardo e Trifino Correa, natural do Rio Grande do Sul.

5. A reação juvenil dos anos 1920 a 1950

Os movimentos de rebeldia juvenil da década de vinte do século XX, deixaram seus marcos na cultura, na estética e na política brasileira. Alguns deles formaram o movimento integralista, cujo maior líder foi Plínio Salgado. Os principais militantes que deram corpo ao movimento integralista brasileiro foram Plínio Salgado, Gustavo Barroso e Miguel Reale. Plínio Salgado sistematizou a teoria do Estado Integral, e criou os uniformes, símbolos, costumes, hábitos e rituais dos participantes do movimento integralista, e criou a Ação Integralista Brasileira em 7 de outubro de 1932, com o lançamento do Manifesto de Outubro de 1932.
O líder integralista seria mais tarde candidato à presidência da República em 1955 e, não eleito, foi deputado federal, por São Paulo, em 1964,1969,1970 e 1974. Morreu em 1975. Para sintetizar, o jovem integralista defendia a existência de um Estado forte, como o caráter que deveria assumir o Estado Integral, proposto pelo movimento integralista. O movimento da juventude integralista não parou, como ocorreu com o movimento de jovens da Semana de arte Moderna e o movimento juvenil comunista, liderado por Astrojildo Pereira e posteriormente por Luìs Carlos Prestes. Atualizado em página na internet, afirma ainda estar voltado a “convencer o jovem com uma forte propaganda que a nossa cultura tem valor sendo importante defender o Brasil. (Defender o que realmente somos, por exemplo: Não podemos defender o nazismo, por que não somos alemães arianos)”.

6. Os jovens, a União Nacional dos Estudantes - UNE e as campanhas
nacionais, desde 1937

No dia 11 de agosto de 1937, na Casa do Estudante do Brasil no Rio de Janeiro, o então Conselho Nacional de Estudantes conseguiu consolidar o que já havia sido tentado diversas vezes sem sucesso: a unificação dos estudantes na criação de uma entidade máxima e legítima. Desde então, a UNE começou a se organizar em congressos anuais e a buscar articulação com outras forças progressistas da sociedade.
Com o fim da ditadura getulista, a UNE assume bandeiras diretamente relacionadas com as questões nacionais, como a campanha pela criação da empresa estatal de exploração do Petróleo. a Petrobras. Com essa iniciativa, entre outras, tornou-se a primeira organização juvenil brasileira que imprimiu dimensão nacional aos seus movimentos de resistência e luta. A entidade era marcadamente nacionalista até os anos 60, quando, sobre impacto da revolução cubana, assume bandeiras antiamericanistas. O Jovem Aldo Arantes fora presidente da UNE entre agosto de 1961 e julho de 1962. O ex-lider estudantil destacou momentos significativos da década de 196, da crise da uiniversidades brasileira, da necessidade de transformação estrutural da própria sociedade.
A partir do golpe de 1964, tem início o regime militar e a história da UNE se confunde ainda de forma mais dramática com a do Brasil. A ditadura perseguiu, prendeu, torturou e executou centenas de brasileiros, muitos deles estudantes. A sede da UNE, na praia do Flamengo, foi invadida, saqueada e queimada no dia 1º de Abril. O regime militar retirou a representatividade da UNE por meio da Lei Suplicy de Lacerda e a entidade passou a atuar na ilegalidade. As universidades eram vigiadas, os intelectuais e artistas reprimidos, o Brasil escurecia.

7. A Juventude Universitária Católica sua militância na AP

A Igreja Católica esteve presente na vida política brasileira. Podemos dizer, quase com exclusividade, até a década de sessenta do século XX. Após uma guinada à esquerda, em decorrência da atuação do Papa João XXIII, no ano de 1958, a juventude católica viveu um processo de absorção dos dogmas do Vaticano, que fundamentariam reflexões em torno das questões sociais, dos pobres, dos miseráveis, dos excluídos. Assim, seus integrantes passam a debater as questões relativas ao processo político brasileiro, associadas a fenômenos internacionais com a Revolução Cubana, vitoriosa em 1959. E, como todo o movimento popular e de massas no Brasil, a JUC se estrutura regionalmente em Minas Gerais, no Rio de Janeiro e no estado da Bahia. Os jovens de esquerda que mais viriam a se destacar foram: Hebert José de Souza – Betinho_, Vinicius Caldeira Brand, Henrique Novais e Wilmar Faria. Os narradores desse tempo consideraram que, “em 1960, a JUC já era a força mais atuante do movimento universitário baiano”.
A AP surgiu dos quadros da Juventude Universitária Católica (JUC) em 1963. Após o golpe de 64, parte de seus membros defenderam a aproximação com o PC do B, Partido Comunista do Brasil, num processo de fusão que só se completaria em 1973 (CAMPOS FILHO, 1997). A aproximação entre as duas organizações era muito forte, com base na atuação do movimento estudantil, consolidando-se com a adoção de uma linha revolucionária semelhante: a defesa das concepções maoístas e, sobretudo, dos princípios leninistas acerca da revolução e da forma de organização partidária.
"O programa básico da AP afirmava a existência de uma nova época histórica, a época em que o imperialismo caminha para a ruína completa e o socialismo avança para a vitória em escala mundial. O maoísmo, ou o pensamento de Mao Tsé-Tung, afirmava, é a terceira etapa do marxismo, o marxismo-leninismo de nossa época, o marxismo levado a uma etapa completamente nova."6
Com o AI-5, instaurado em 13 de dezembro de 1968, alguns dirigentes da AP passaram a defender idéias mais radicais e o caminho da luta armada (que originalmente era pensada apenas no campo) tornava-se cada vez mais próximo. A partir de 1971 passam a defender a união de todas as correntes marxistas-leninistas (1999, MIRANDA). Como a fusão com o PC do B não era consenso dentro da Ação Popular, o grupo dissidente passou a denominar-se AP-ML Ação Popular Marxista Leninista.7 (fonte: http://destaquein.sacrahome.net/node/54 acesso em 04 de janeiro ás 23:07h ).

8. A reconstrução do protagonismo juvenil

A década de 1980 caracterizou-se como a afirmação da personalidade pastoral, transformando o que era Pastoral de Juventude em Pastoral da Juventude.
A Pastoral da Juventude é herdeira de uma história que vem sendo construída em nosso país desde 1930 com a chamada Ação Católica. Por volta de 1930, o Papa Pio XI, preocupado com a missão da Igreja diante dos desafios e das grandes mudanças na realidade mundial (processo de urbanização e industrialização), estimulou a chamada Ação Católica que era o espaço de participação dos leigos católicos no apostolado hierárquico da Igreja, para o difusão e a atuação dos princípios católicos na vida pessoal, familiar e social.
O IV Encontro Nacional da Pastoral da Juventude realizou-se em Brasília, em novembro de 1983, caracterizando-se como um marcou histórico, pois lá “ começava, na própria pratica do Encontro, o protagonismos dos Jovens” (DICK,1999,P.48). Três prioridades foram votadas em assembléia: fortalecimento por classe social da Pastoral da Juventude; a ênfase na formação integral e a metodologia; e o empenho nas atividades de articulação, organização e coordenação. Elegeu-se também a primeira Comissão Nacional da Pastoral da Juventude.
No V encontro, realizado em Goiânia, em dezembro de 1984, um documento intitulado “Aspecto da Pastoral da Juventude no Brasil” destacava-se o tema da militância fora e dento da igreja. No VI encontro Nacional, de 1985, o tema foi o processo de iniciação e a militância na Pastoral da Juventude a criação de Caderno de Estudos. No Ano Internacional da Juventude (1985), criou-se o Dia Nacional da Juventude (DNJ). Desde então, o DNJ é celebrado todos os anos, reunindo milhares de jovens em todo o país.Estes eventos mostraram indícios de que a consciência social e política da juventude organizada estava aflorando e solidificando cada vez mais no interior da Igreja.
Em 1989, a coordenação nacional da Pastoral da Juventude do Brasil, decidiu criar uma Secretaria Nacional, com um (a) jovem eleito em Assembléia. Organiza, também, o jornal "Juventude" destinado aos grupos de jovens. A grande força da Pastoral da Juventude se dá no Brasil em 1992, marcada pelo tema da Campanha da Fraternidade com o tema: Fraternidade e Juventude, e com o Lema: Juventude Caminho Aberto. Momento critico que ameaçava a autonomia das pastorais juvenis.
No ano de 1993, é realizada a 10° assembléia Nacional da PJ, e foram aprovados cinco importantes moções de apoio aos movimentos populares do Brasil. Primeiro: Solidariedades aos professores da rede estadual de ensinos em greve havia 80 dias; segundo representava adesão à campanha nacional de ação e cidadania contra fome e a miséria, pela vida; a terceira diirigida ao presidente da Republica, pela ética nas policias civis e militar; a quarta em apoio à demarcação das terras dos povos indígenas do Brasil; e a ultima, ao presidente da CNBB, em razão das expulsões de coordenadores e de jovens.
Outro aspecto que merece destaque é a atuação dos setores progressistas da Igreja em momentos de refluxo dos movimentos sociais. Tais setores foram capazes de realizar uma releitura da sua teologia e doutrina e buscaram articular fé com política. Desse modo, ao se falar em protagonismo juvenil católico, é necessário também em falar do protagonismo dos setores mais avançados da Igreja.
Aqui um destaque para o jovem católico chamado José Serra, com 21 anos de idade. Assumiria a Presidência da UNE em julho de 1963 e lá permanecerá até junho de 1964, tornado-se o primeiro líder estudantil a viver os preâmbulos da ditadura militar. Na época do XXVI congresso da UNE, no inicio da década de 1970, o Brasil possuía perto de quinhentas faculdades. Os jovens, por vezes, se apaixonam de tal forma no interior de movimento que constituem uma subjetividade própria, como a da visualização, sem muitas mediações históricas, das possibilidades de a UNE organizar movimentos internacionais. Outros líderes estudantis tiveram vida mais sofrida durante a ditadura. Podemos destacar Altino Dantas, que presidiu a UNE de 1965 a julho de 1966; José Luis Guedes, eleito em Julho de 1966 até julho de 1967, com 23 anos de idade. Entre eles, os que foram perseguidos e presos pela ditadura, se destacam: Luís Raul Machado, com 21 anos de idade; Dora Rodrigues de Carvalho, com 22 anos de idade, se torna a primeira mulher vice-presidente da UNE; José Genuíno Neto, estudante de filosofia da Faculdade do Ceará, ainda adolescente, partiria da roça para integrar à Juventude Agrária Católica (JAC), abraçando, depois, a Juventude Estudantil Católica (JEC) até que, em 1967 ingressa no Partido Comunista do Brasil, o PC do B.
Um dos presos, vítima de tortura, foi Jean Marc Von de Weid, nascido no Rio de Janeiro, e que, com 23 anos de idade, se tornaria presidente da UNE. Preso em setembro de 1969, foi banido do Brasil em 15 de janeiro de 1971, mas retorna ao Brasil no processo de anistia aos envolvidos em atividades políticas, em 1979, vinculando-se, no inicio dos anos de 1980, ao Instituto dos Economistas do Rio de Janeiro.
José Dirceu, outro líder do movimento estudantil, foi presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, aos 20 anos de idade, uma das organizações mais atuantes do país. Ensaiou uma síntese do significado político da UNE, nesse período, trazendo uma primeira visão impressionista da juventude brasileira.

9. Os jovens movimentos negros dos jovens negros

O estudo dos movimentos negros juvenis é um dos trabalhos mais árduos, a partir de um ponto de vista metódico. Os grupos de jovens negros que poderíamos ter como referências encontram-se em toda a parte. As suas manifestações são vigorosas, enraizadas, porém locais. As manifestações dos jovens negros estão no ar, sob a forma de música, de dança, de poesia, de programas radiofônicos. Pelas suas manifestações dispersas, eles são referência imediata dos adolescentes e até das crianças que vivem à margem da cultura dominante, nas favelas, nas esquinas, nos bairros periféricos das cidades, nas escolas publicas dessas periferias, nas esquinas, nas praças, nos pontos de ônibus. E são referência, ainda maiores, quando se aglutinam em galerias de comércio manifestando-se através do hip-hop, da grafitagem e do rap..
Os jovens negros vinculados aos movimentos culturais por eles estruturados, sabem que as favelas, os morros das periferias das grandes capitais brasileiras, as praças, as esquinas, próximas as escolas, poderiam ser lugares de convivência pacifica, porque nesses espaços eles sabem que dançando, cantando, declamando poemas eles mantêm sua identidade negra e sua integridade frágil.
No final da década de 1980, o movimento hip-hop apresentou-se politicamente organizado formando “o Sindicato Negro”, que “teve inicio quando os integrantes do movimento resolveram se organizar politicamente”, com vistas a “discutir e apontar alternativas para a condição social do negro historicamente marginalizado pela sociedade”. Posteriormente, uma organização não-governamental de mulheres negras criou, em 1991, um projeto denominado Rapper Geledé, descentralizando as manifestações dos jovens adeptos do movimento.
Grafiteiros, rappers, jovens do hip-hop, os jovens negros que mais se organizam, o fazem a partir de projetos que lhes permitam expressar artística e culturalmente seus sentimentos, não sendo tão certo encontrá-los no movimento estudantil, nos grupos de jovens religiosos, atuando nas bases dos partidos políticos.

10. Os carapintadas

Aproximamo-nos, assim da última década do século XX, para encontrar movimentos juvenis que indicam a permanência de conteúdos políticos e culturais tanto do passado como do presente. Através da incorporação de aspectos da cultura e da política contemporânea, eles caracterizam as atuais práticas de contestação ou de campanha de massa, com presença da mídia.
Com relação ao nome dado aos jovens estudantes foi um movimento estudantil brasileiro realizado no decorrer do ano de 1992 tendo como objetivo principal o impedimento do Presidente do Brasil e sua retirada do posto. O movimento baseou-se nas denúncias de corrupção que pesaram contra o presidente e, ainda, em suas medidas econômicas, e contou com milhares de jovens em todo o país. O nome "carapintadas" referiu-se à principal forma de expressão, símbolo do movimento: as cores verde e amarelo pintadas no rosto.
Como os demais movimentos juvenis brasileiros os carapintadas também foram antecedidos por uma mobilização de forças políticas institucionalizadas, que lutavam pela defesa republicana. O congresso brasileiro formara uma Comissão Parlamentar de Inquérito, CPI, para apurar os conteúdos das denúncias do irmão do então presidente da Republica, Pedro Collor, que apontara o tesoureiro de campanha daquele presidente como agente formador de quadrilha, na constituição de fundos ilícitos para a sua campanha eleitoral. Paralelamente, no dia 11 de agosto de 1992, oficialmente Dia do Estudante, as entidades nacionais estudantis realizaram uma passeata na capital do estado de São Paulo, reivindicando o impeachment do presidente Fernando Color de Mello.
Os carapintadas podem ser considerados, assim, como os integrantes do último movimento ético político juvenil de massa, brasileiro, do século XX. Eles trouxeram a possibilidade de afirmação cultural da juventude estudantil através de expressões lúdicas, folclóricas, populares e carnavalescas.

Conclusão
A sociedade brasileira, cuja estrutura oligárquica de poder não permite aos grupos de origem popular e subalterna emergirem como interlocutores íntegros perante toda a sociedade, não possibilitou que se revelasse a força dos movimentos juvenis, na comunidade dos processos dos quais participaram. Neste contexto, de meados da década de 1960 em diante, até meados de 1980, os jovens integram movimentos voltados a restabelecer um ordem constitucional, que desaparecera do Pais por 21 anos de ditadura militar. O estudo das relações dos partidos políticos democráticos, suas organizações juvenis e os movimentos estudantis, dos jovens do MST e dos jovens que integraram o Fórum Social Mundial permitirá maio compreensão dos projetos políticos presentes, uma vez que as lideranças juvenis estudantis da década de sessenta encontram-se, no final do século XX, preparadas pras novas disputas, dentre elas até a Presidência da Republica, por parte de ex-dirigentes da UNE.
Nesta síntese sobre o lugar do jovem na historia brasileira podemos dizer que identificamos em vários momentos da história e das conjunturas políticas o protagonismo do jovem, manifestando-se nas conquistas políticas, através de suas organizações, de dimensão social. A mais significativa foi a UNE. Os jovens integrantes de todos os movimentos culturais e políticos democráticos incorporaram como princípio fundamental de suas práticas, a definição de democracia cultural, que Astrojildo Pereira expusera, pela primeira vez em 1944. Ela deve realizar-se através da liquidação do analfabetismo, da implantação da instrução gratuita, até o nível superior universitária em todo o País.

Síntese de Silon José Ferreira.
Veja CACCIA-BAVA,Augusto, PAMPÒLS,Carles Feixa, GONZÁLES CANGAS, Yanko (org.) Jovens na América Latina. São Paulo: Escrituras Editora, 2004.P. 63-114.

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