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quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Um olhar sobre a realidade da Juventude latino-americana - Parte II

Carmem Lúcia Teixeira


2. Tirar a trave do olho para mirar a juventude

Num estudo para identificar as políticas publicas para a juventude, realizado por uma investigadora da Costa Rica[1], foi proposto considerar o olhar para a juventude a partir de quatro paradigmas que determinam as ações que visam responder às necessidades da juventude:

a) Juventude como período preparatório

b) Juventude como etapa problemática

c) O jovem como ator estratégico do desenvolvimento

d) A juventude cidadã como sujeito de direitos.

O primeiro concebe a juventude como período preparatório. Neste paradigma está presente a concepção de transição da infância para a idade adulta. As referências para a formação são dadas pelo mundo adulto. A política por excelência, segundo o estudo, é a educação. Ela será dada de modo formal e também informal, pelos diversos grupos e instituições organizadas pela sociedade, desde as Igrejas com todos os programas destinados a este público e com essa finalidade. Pode ser observado na formação para o exercício das lideranças nos seminários, congregações religiosas, entre outros grupos e movimentos destinados aos/às jovens.

O segundo paradigma, concebendo a juventude como etapa problemática, tem como discurso comum a prevenção. Está presente a idéia de evitar que o jovem “se perca”... Por isto se constroem quadras de esportes e se fazem outras proposições com a finalidade de ocupar o tempo livre do jovem, não porque tem o direito ao lazer e ao esporte, mas, como forma de “prevenir” contra drogas, marginalização, ou seja, “comportamento de risco e agressão”. Esse olhar viciado sobre os jovens é marcado pelo preconceito como se todos/as estivessem sempre se “organizando” para se drogar ou, mesmo, preparando-se para a prática do sexo. Por isto, programas de prevenção às doenças, a preocupação com a gravidez precoce, etc. Por isso a política de saúde que encontramos.

O terceiro paradigma olha a juventude como ator estratégico, responsabilizando-se os jovens por todas as possíveis transformações da sociedade. Está nas mãos dos jovens a “revolução”. Olha-se para os jovens como um potencial, como uma energia, como mudança, como transformação... colocando nas costas deles/as toda a responsabilidade por um mundo que ele está recebendo como herança de um trajeto histórico. Essa concepção frustra tanto o adulto como os jovens porque se coloca muita expectativa e muita responsabilidade sobre o sujeito. É a razão da cobrança da geração que se manifesta, por exemplo, na comparação entre as gerações, idealizando as gerações passadas, de modo especial a juventude dos anos 60. Impossibilita ver as reais necessidades e potencialidades que os jovens têm, hoje, de apresentar e construir respostas para o seu tempo. Intensificam-se, por isso, as políticas de esporte, lazer, arte e cultura.

O quarto paradigma olha a juventude como cidadã e sujeita de direitos. É um paradigma que está em nossa pauta, presente em vários espaços de nossa América Latina. É por onde as construções das Políticas Públicas necessitam pautar-se.

...a juventude é compreendida como etapa singular do desenvolvimento pessoal e social, por onde os jovens passam a ser considerados como sujeitos de direitos e deixam de ser definidos por suas incompletudes ou desvios. Tal diretriz se desenvolve, em alguns países, depois dos anos 90, em grande medida inspirada nos paradigmas desenvolvidos no campo das políticas para a infância e para as mulheres. Muda os enfoques anteriores principalmente por superar a visão negativa sobre os jovens e gerar políticas centradas na noção de cidadania, abrindo a possibilidade da consideração dos jovens como sujeitos integrais, para os quais se fazem necessárias políticas articuladas intersetorialmente. (ABRAMO, 2005, p.22)



[1] KRAUSKOPF (2003, p.8-25)

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