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quinta-feira, 4 de março de 2010

A CAMPANHA CONTRA O EXTERMÍNIO DA JUVENTUDE

A juventude costuma ter atitudes que nem sempre se entendem. As atitudes emergem, mas não são percebidas. No correr da história de todos os tempos, a juventude é invisível. Melhor, é invisibilisada. Se ela aparece é como a “boba da corte” ou, então, como aquela que consome ou merece a página policial. “Boba da corte” é, também, nas revistas que exploram seu corpo; não porque ela é linda, mas porque pode ser consumida. Vivendo a fase da aparência, isto é, com vontade e direito de “ser vista”, é invisibilisada na história. Por isso é tão perigoso falar de “protagonismo juvenil”. Na história oficial, o que existe é o mundo dos adultos.

Num contexto assim e num contexto em que a ONU proclama, de novo, o ano 2010 como o “Ano Internacional da Juventude”, em que a maior organização de jovens da América Latina vive preparando-se para o 3º Congresso Latino-Americano da Pastoral da Juventude em Los Teques (Venezuela) pensando em revitalização, num contexto em que a morte de jovens, especialmente negros, está chegando a ser intolerável, as Pastorais da Juventude do Brasil lançam uma primeira campanha nacional: a Campanha contra o Extermínio da Juventude. É uma campanha que não veio dos “adultos”, das “igrejas” ou dos “governos”. Ela brotou do chão daqueles que estão vivendo esta realidade e o grito que se ouve é “A juventude quer viver”.

A Campanha contra o Extermínio da Juventude é uma iniciativa acertada. Acertada porque é a vontade de levantar o tapete da realidade e dizer que o problema já foi escondido por tempo demais. Não é só a arma que mata; não é só o trânsito que mata; vivemos num sistema que mata sem a gente se dar conta. Se gostamos tanto de falar da violência da juventude, corremos o risco de não perceber que há muitos séculos a juventude é violentada.

É triste ler nos dados estatísticos que as mulheres vão crescendo na percentagem das pesquisas. Não porque isso seja ruim, em si, mas porque é terrível que a causa seja a morte provocada especialmente no segmento masculino, jovem e negro. É uma iniciativa acertada.

É uma iniciativa, também, urgente. Urgente para a juventude mas, especialmente, para uma sociedade convidada a estar encantada por ela mesma para ser mais justa e mais harmoniosa. A campanha solta um grito fundamental: “irmã, sociedade, ame-se a si mesma”. Não é matando a juventude que você demonstra o amor que tem a si mesma. Isso não é só uma necessidade; é uma urgência.

A Campanha tem outro aspecto fundamental: a de ser conscientizadora. A Campanha contra o Extermínio da Juventude é uma forma de dar-nos conta da filosofia que governa o planeta. Uma filosofia que, de forma muito sofisticada, é capaz de esconder sua tendência tanatófila. Diríamos que a Campanha se coloca na dimensão da importância não reconhecida ou não aceita do cuidado com o planeta através da ecologia. Preservar a juventude é preservar o planeta. O fato de o grito da “Campanha” brotar do mundo juvenil é uma esperança enorme e, ao mesmo tempo, de tristeza infinita. Está na hora de a juventude voltar a discutir com garra juvenil a própria realidade, mesmo que seja a partir da situação dela, sendo desmascarada.

Além disso, a Campanha é inquietante. O discurso da juventude que mata (o que não deixa de ser parte da verdade) deve ser o da sociedade que precisa deixar de matar. Havia tempos em que a juventude era morta descaramente (olhe-se a história das guerras); hoje ela está sendo morta na surdina. Um dos tipos de violência do qual se deveria falar mais é o da violência simbólica, na qual os meios de comunicação nas mãos do poder econômico desgraçadamente é especialista.

Por isso, bem-vinda esta Campanha. Claro que ela não está garantida em seu sucesso porque há muitas forças, muitos preconceitos, muitas cegueiras que desejam que isso seja, simplesmente, um grito a mais. Depende de todos nós que esse grito seja um grito de uma sociedade que ainda tem vontade de amar-se a si mesma porque se descobre feita para a vida e não para o extermínio de ninguém.
Dr.Hilário Dick

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