INTRODUÇÃO
Falar da religiosidade juvenil articulada e institucionalizada na América Latina apresenta limites, especialmente pela extensão e pela variedade. Há realidades, contudo, que merecem e precisam sair para fora dos muros das igrejas. O objetivo é socializar “articulações juvenis”, católicas, no continente latino-americano. Embora as pesquisas mostrem que a participação dos jovens, nestas “articulações”, de diferentes igrejas, é a mais representativa em nível de “participação”, são poucos os estudos que aprofundam o assunto. Usamos a palavra “articulação” querendo expressar diversas formas sistemáticas de relacionamento das instituições na geografia da “organização”.
Uma das características destas “articulações juvenis religiosas” é que tratam de uma vivência que sai da pertença “formal” para se tornar algo do cotidiano da vida do jovem, resultando nalguma “organização”. Não se quer falar, somente, da presença ou realização de “assembléias” ou de eventos que decidem ou preparam outros eventos maiores: trata-se de falar de um “modo de ser” que marca o fazer diário de milhares de jovens com reuniões semanais e participação de atividades que atingem milhares de grupos de jovens dispostos a intervirem na sociedade através de momentos específicos de “formação” e formas de “organização”, amadurecendo um “estilo de vida” abraçado espontaneamente e de conseqüências concretas no todo da vida do jovem participante.
São muitas estas “articulações de jovens” na perspectiva religiosa, dentro das igrejas. Restringir-nos-emos a algumas destas, consideradas mais significativas, dentro da Igreja Católica. Um dos critérios de escolha das articulações é sua “extensão”, isto é, o espaço geográfico que elas abarcam. Não vamos ater-nos em “articulações” que se limitam a um município, a uma “paróquia”, a uma “diocese” ou, até, a um espaço maior, como pode ser um Estado, embora sejam muitas. Além disso, com vontade de ser um olhar latino-americano, vai ficar evidente que não deixa de ser um olhar nascido em realidade brasileira.
Outro critério relaciona-se com o caráter da organização, isto é, sua “pedagogia” ou sua “filosofia” de conceber a intervenção no campo juvenil. Priorizamos as “articulações” onde o jovem (e não o adulto nem o carisma nem agentes “adultos”) é o protagonista, cabendo-lhe “direção” ou “coordenação”. Trata-se de articulações que são “de” e não “para” jovens. A opção é por experiências em que o jovem seja o protagonista ou auxiliado para assumir este protagonismo. É a razão que nos leva, em nossa visão, a considerarmos “estruturas” que apóiem, respeitem e promovam o protagonismo juvenil.
Um outro critério é a “significação” destas articulações. O fato de uma “Pastoral da Juventude” poder contar com cerca de 120 mil grupos que se reúnem, semanalmente, em diferentes países é considerado “significativo” . Outro “fato significativo” é podermos encontrar esta “articulação” em nível continental e intercontinental, espalhada pela maioria dos países da América Latina com seus grupos, seus estudos, sua formação, sua produção “científica” e suas “estruturas” espalhadas em locais estratégicos .
Dentro destas delimitações, visualizamos, primeiramente, as “articulações” que se denominam “Movimentos” ou “Pastorais”. Pelo termo “Movimento” entende-se o que o “Código de Direito Canônico” da Igreja Católica define como “Associações de Fiéis” nos cânones 298 a 329. Quando se fala em “Pastorais” tomamos como objeto as “Pastorais de Juventude” ou “Pastorais Juvenis”. Falamos no plural porque pode haver “Pastorais de Juventude” em níveis geográficos e hierárquicos diferentes, articulando-se como tais. O termo “Pastoral” significa a ação organizada da Igreja em geral e das Igrejas Particulares (dioceses), de forma participada, em espírito de “comunhão e participação”, tendo como ponto de referência o pastor (bispo da diocese) ou um conjunto de bispos agindo em “colegialidade” definida na Constituição Apostólica “Lumen Gentium”, do Concílio Vaticano II nº 51 a 56. A “Pastoral da Juventude” ou, então, as “Pastorais da Juventude” são a ação organizada (vivência comunitária da fé inserida na realidade social, e não só vivência dos sacramentos) dos jovens sendo igreja, tanto em caráter particular (diocese) como em caráter mais amplo, envolvendo diversas dioceses da mesma jurisdição (Estado, país e diferentes países) ativando uma articulação com objetivos, propostas, planejamentos e estruturas de apoio comuns.
Vislumbramos, com isso, experiências que congregam uma caminhada conjunta seja como “Movimento Juvenil” seja como “Pastoral de Juventude”. Como “Movimentos Juvenis”, na América Latina, entendem-se, aqui, as articulações que têm seu nascedouro na Ação Católica Especializada, a partir da década de 1950. São movimentos de jovens coordenados por jovens – o que os diferencia de outros que não serão objeto desta apresentação. Destaca-se o Secretariado Latino-Americano do Movimento Internacional de Estudantes Católicos (MIEC) e da Juventude Estudantil Católica Internacional (JECI) com sede em Quito, no Equador . Por outro lado, por seguirem o carisma de Congregações, sem terem os jovens como “protagonistas” em suas articulações, não se considerarão experiências de diversas Congregações (Maristas, Lassalistas, Salesianos e Salesianas e muitas outras denominações). Não é um juízo de valor; é delimitação do campo a pesquisar. Pode-se dizer até, que o “Secretariado” a ser apresentado toma a dimensão de “sacramento” de experiências semelhantes.
Assumimos como “Pastorais de Juventude” as articulações das ações evangelizadoras destas “Pastorais” em nível latino-americano, destacando experiências consideradas significativas, em nível de organização, de modelos, de história ou de caminhada em suas estruturas de acompanhamento, de organização, de formação e espiritualidade. Estaremos, novamente, frente à necessidade de outra limitação porque, embora procuremos acentuar a caminhada do conjunto, há países que se destacam, por diferentes razões: maturidade da caminhada, significação numérica, gravação da memória, serviços de apoio, produção teórica. É uma caminhada semelhante em diferentes estágios, variada e igual.
Entre as experiências a serem apresentadas selecionamos três: 1) o Secretariado Latino-Americano do Movimento Internacional de Estudantes Católicos e da Juventude Estudantil Católica Internacional (MIEC-JECI) com sua história, seus objetivos, publicações, momentos de formação; 2) a articulação das “Pastorais de Juventude” encabeçadas pela Seção Juventude da Conferência Episcopal Latino-Americana (CELAM), especialmente através dos Encontros de Responsáveis das Pastorais de Juventude das diferentes Conferências Episcopais Nacionais (latino-americanas) com suas publicações, encontros, diretrizes, espaços de formação e articulação e Congressos; 3) a Rede Latino-Americana de Centros e Institutos de Juventude que acompanha essas “Pastorais” como “rede”, considerando seus objetivos, atividades, publicações, espaços de formação, ajuda mútua e aprofundamento, encontrando-se num marco teórico comum.
1. O Secretariado Latino-Americano do Movimento Internacional de Estudantes Católicos (MIEC) e da Juventude Estudantil Católica Internacional (JECI)
É um “movimento” provindo de movimentos distintos que consagram tradições, também distintas, embora com momentos, especialmente na América Latina, de incorporação mútua de elementos de identidade que ajudam sua consolidação e crescimento. Merece ser conhecido por sua extensão e por suas atividades através da articulação sistemática de grupos na maioria dos países da América Latina, por sua estrutura de acompanhamento e pela formação que suscitou e suscita através de publicações, banco de dados da realidade juvenil e eclesial, encontros e cursos.
O Movimento Internacional de Estudantes Católicos (MIEC) era conhecido com o nome de “Pax Romana”, fundado em 1921, antes de mobilizações como a juventude hitlerista (Alemanha), a juventude fascista (Itália) e a Juventude falangista (Espanha). Ao longo de sua história foi adotando diversas denominações. No início constituiu-se como “Oficina de Coordenação”; logo depois como “Confederação Católica de Estudantes de todo mundo”. Pretende agrupar e representar as formas de organizações católicas no mundo universitário, servindo como instrumento de coordenação e animação. Reúne uma grande diversidade de experiências: Centros de Reflexão Cristã, Paróquias Universitárias, Federações Nacionais, Grupos de Ação Católica etc. Seu principal objetivo é “agrupar os estudantes católicos para permitir-lhes participar, como estudantes, nos debates sociais e culturais da sociedade em que vivem”. Somente após 25 anos assumiram-se como “movimento”, segundo as normas do “Direito Canônico” da Igreja Católica, com sede em Friburgo, em 1946. O Secretariado Latino-Americano (SLA) é, neste momento, um dos secretariados continentais do movimento.
A Juventude Estudantil Católica Internacional (JECI) tem sua origem na Ação Católica Especializada, impulsionada por influência de Joseph Cardijn (Bélgica), incentivando o cultivo da presença juvenil da Igreja, no mundo, em diversos espaços (o mundo operário, universitário, camponês e estudantil). Buenaventura Pellegri, ex-assessor latino-americano e internacional, diz que a JECI nascia como uma experiência pastoral no meio estudantil, secundário e/ou universitário, com objetivos claros, assumindo uma visão teológica, pedagógica e eclesial definida, o uso sistemático do método Ver-Julgar-Agir, com um slogan que resumia suas perspectivas: “todo o cristianismo em toda a vida”. Na América Latina a JECI teve desenvolvimento decidido nos anos posteriores à II Guerra Mundial, destacando-se o Peru, a Argentina, o Chile, a Bolívia, o Haiti, o Brasil e o México.
O primeiro encontro internacional da JECI se realizou em 1946, oficializando sua identidade com o meio estudantil. A JEC, embora internacional, encarnava-se em cada país, com formas específicas de organizar-se, produção de subsídios pedagógicos, semanas de estudo e assembléias em comunhão com o todo. No Brasil, em 1960, havia seis mil grupos da JEC localizados, espalhados e articulados pelas diferentes regiões do país através de uma equipe escolhida de estudantes, com sede no Rio de Janeiro.
Se o MIEC era uma experiência que articulava vários tipos de experiências de “Pastoral Universitária”, encontrando-se com experiências de Juventude Universitária Católica e outras, de forma semelhante, a JEC articulava grupos de estudantes do “ensino secundário”, com suas diversas terminologias continentais. A JEC é um “movimento” com uma pedagogia que se traduz num instrumento pedagógico conhecido como “Revisão de Vida”. É conhecida a afirmação de Mons. Proaño, bispo de Riobamba (Equador), dizendo que “nunca deixei de usá-la (a Revisão de Vida) em todos os campos da vida. É uma das coisas mais importantes que aprendi na minha vida. Tenho-a diante de mim. Penetrou em mim como a medula de meus ossos” . É uma maneira de “construir Igreja” a partir do protagonismo dos estudantes, encarnando o compromisso de fé no mundo através da transformação da educação, vinculando fé e vida. Mesmo que o episcopado brasileiro, em 1968, declarasse extinta a JEC, ela prosseguia ativa através do Secretariado Latino-Americano. No Brasil, ela havia-se desenvolvido, principalmente, a partir de 1954, inserindo-se progressivamente no movimento estudantil e na problemática “social”, o que a levou a ser questionada por uma parte da hierarquia eclesiástica . Ao mesmo tempo em que era expressão de temor, manifestava um cenário de Igreja para o qual não era pacífica a relação íntima entre fé e realidade social, fé e política etc. É um movimento que educa como um todo, educa como organização, educa pelo método e por uma mística adaptada à vida estudantil, onde a palavra-chave é “engajamento”.
No continente latino-americano os dois movimentos funcionavam “articulados”, mas independentes um do outro. No início do século XXI ela (a JEC) prossegue atuante no Chile, na Bolívia, na República Dominicana, no Peru (traduzida pela JEC, como tal, e pela UNEC – União Nacional de Estudantes Católicos) e no Haiti (sem considerar os países de outros continentes). Por muitos anos o SLA do MIEC-JECI podia contar com seis a sete estudantes (em geral universitários) representando diferentes experiências nacionais, formando a equipe do Secretariado. .
Embora houvesse uma caminhada em conjunto, as relações do MIEC e da JECI não foram e não são “pacíficas” em todos os aspectos. No princípio, era uma simples “aproximação”, havendo momentos em que as tensões relacionadas com o espaço a partir do qual realizavam seu compromisso específico, eram fortes. Tanto o MIEC como a JECI tiveram, até o final da década de 60, um secretariado latino-americano próprio, funcionando independentemente, em diferentes lugares: o MIEC tinha sua sede em Medellín (Colômbia) e a JECI no Rio de Janeiro (Brasil).
O fato de que existissem dois movimentos com interesses comuns, procurando evangelizar o mundo estudantil na América Latina, eram vistos pela Igreja do continente como um fator que poderia ser enriquecido como espaço de colaboração. Foi por isso que o CELAM promoveu uma aproximação, numa perspectiva de comunhão entre o MIEC e a JECI – o que foi aceito pelas duas experiências.
Numa primeira instância partilharam uma sede comum dos dois secretariados, em Montevidéu (Uruguai), a partir de 1967. Em julho desse mesmo ano, realizou-se, no México, o III Seminário Latino-americano de Pastoral Universitária, organizado conjuntamente pelos dois movimentos resultando um avanço no processo de unificação dos movimentos. Logo depois o trabalho no Centro de Documentação, as publicações e as reflexões comuns fizeram que se fosse dando uma aproximação maior entre eles, até chegar à conformação de um só Secretariado Latino-Americano no Comitê de Cali (Colômbia), em 1970.
A expressão institucional máxima das duas experiências são os “comitês”. Os Comitês Latino-Americanos provinham da estrutura da JEC e foram tendo importância como reunião dos dirigentes nacionais dos distintos movimentos de “PAX ROMANA MIEC-JECI”. Dada a transparência do evento, a reunião de Cali (1970), pode ser considerada como a primeira reunião conjunta, com caráter de Comitê Latino-Americano do MIEC e da JECI, decidindo que o Secretariado comum funcionasse em Montevidéu.
Em 1972, no entanto, vítima da repressão da ditadura militar que governava o país, o Secretariado teve que sair de Montevidéu, transferindo-se para Lima (Peru), onde ficou durante 20 anos. A difícil realidade peruana, no final da década de 80 e inícios de 90, marcada pela violência política (especialmente pela atuação do grupo guerrilheiro “Sendero Luminoso” e pela situação crítica da economia) fizeram que o compromisso peregrino e missionário do SLA buscasse novo lugar de acolhida. Por isso, desde janeiro de 1993, Quito (Equador) é a nova sede do SLA. São dados que comprovam que o movimento ia além de seus muros, mesclando-se na realidade social e política.
A vida, tanto da JEC como do MIEC, manifesta-se nos grupos com sua vida particular, e de movimento como tal. O lugar por excelência de atuação são os colégios e as Universidades, defendendo a necessidade da inserção dos grupos e seus participantes nos organismos intermediários da sociedade civil. O que caracteriza o movimento, de modo especial, é sua pedagogia de inserção, incentivando uma fé comprometida com a realidade social, especialmente estudantil, com todas as conseqüências que daí poderiam provir. Para tal, um “instrumento” pedagógico importante foram assessoras e assessoras teológica e sociologicamente preparadas.
2. As Pastorais de Juventude na América Latina
Um diagnóstico de uma Pastoral Juvenil articulada em todos os países da América Latina é uma tarefa difícil. Cada país carrega e abraça a sua realidade que exige respeito e consideração. Por isso, é necessário falar de “Pastorais de Juventude”. É um “todo” que caminha “unido” por diferentes trilhas. Suas diretrizes e sua proposta encontram-se expressas em “Civilização do Amor – Tarefa e Esperança” retomada, de alguma forma, pelo episcopado brasileiro em “Evangelização da Juventude: Desafios e Perspectivas Pastorais” (2007) .
2.1 Uma visão histórica na perspectiva “estudantil”
É difícil imaginar, contudo, esta articulação das Pastorais se não olharmos para alguns dados históricos. Queremos referir-nos, de modo especial, à JEC dos anos 60, dentro do conjunto da Ação Católica Especializada. O final da década de 60 e a década de 70 foram anos de muita efervescência em toda a América Latina, especialmente no campo da evangelização juvenil católica. Países que merecem destaque são Uruguai, Argentina, Paraguai, Brasil, Chile, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, El Salvador, Haiti e México. A revolução socialista parecia estar em todas as esquinas e em muitos corações de jovens. Além dos fatos tipicamente juvenis, é hora de rememorar, por exemplo, o significado que teria também para os estudantes o movimento dos Cristãos para o Socialismo e o movimento dos Sacerdotes para o Terceiro Mundo. Olhando para três grandes “Regiões” da América Latina, podemos apontar fatos e pessoas, expressões de uma realidade mais ampla.
Cone Sul
Na ARGENTINA a JEC e a JUC deslancharam, especialmente, depois de 1954. Um evento efervescente, envolvendo tanto a JEC como a JUC, se deu em 1968, através do “Cordobazo”. Não deixava de recordar o “Bogotazo” de Bogotá, em 1948 . Em 1974 era assassinado, no dia 11 de maio de 1974, frente à sua paróquia, o P. Carlos Mujica, assessor da Juventude Estudantil Católica (JEC) de Buenos Aires. Ele conhecera Gustavo Ramus, Fernando Abal Medina e Mario E. Firmenich, fundadores da organização "Montoneros", com participação significativa de militantes da JEC. Em quatro de julho de 1976 eram massacrados, também em Buenos Aires, cinco sacerdotes palotinos. Uma das acusações que aparecia nos muros é que estragavam as mentes dos jovens.
Do BRASIL, em meio a expressivas manifestações culturais e políticas, extraímos o que significaram as mobilizações por ocasião do assassinato de Edson Luis Nascimento (1969), uma morte que a JEC do Brasil assumiu como uma espécie de “exemplo”, e de Alexandre Vanucchi. O mais dramático foi que, no meio desta efervescência de muitos rostos, quando muitos estudantes tiveram que recorrer ao exílio, para não serem presos, a Ação Católica Especializada era desautorizada (morta) pela hierarquia, apesar da resistência de D. Helder Câmara, de D. Cândido Padim e outros bispos próximos à Ação Católica Especializada. O encaminhamento de outra proposta pedagógica de ação evangelizadora junto à juventude veio ligeiro porque, ainda em 1969, em São Paulo, começaria a experiência dos encontros de EMAÚS através de Mons. Calazans, batendo de frente contra a pedagogia assumida pela JEC. Outra experiência bem sucedida – também sob o influxo da pedagogia do impacto dos Cursilhos de Cristandade - foram os encontros de jovens através do TLC (Treinamento de Liderança Cristã). O método que começou a vigorar era o da pedagogia do impacto, onde o central era o mundo dos afetos e o incentivo a uma prática eclesial voltada prioritariamente para a prática sacramental. Os mais visados, por estes tipos de encontros, eram os universitários e os grupos paroquiais (não mais da Ação Católica Especializada) . A memória da Ação Católica Especializada seria retomada através da articulação da Pastoral Juvenil, em 1984.
No CHILE a JEC estava viva e a presença de D.Manuel Larrain (1900-1966) e do Padre Alberto Hurtado - sacerdotes católicos expressivos em nível nacional – servia de incentivo a esta mobilização juvenil. D. Larrain foi um dos fundadores do Conselho Episcopal Latino-Americano, encarnando nítida visão libertadora. Entre os muitos desaparecidos do golpe militar de Pinochet fala-se, de modo especial, de Patrício Leon, pertencente à equipe do Secretariado Latino-Americano da JEC internacional. Assim como os estudantes tomavam a catedral de Santiago, reclamando contra os gastos da viagem do Papa para um Congresso Eucarístico em Bogotá, em sinal de protesto também invadiam a Universidade Católica. Foi em 1971 que surge, em Santiago, o Instituto Superior de Pastoral Juvenil.
No PARAGUAI os anos mais violentos foram 1969 e 1970. Era escancarado o conflito entre Igreja e Estado. Comprometido com a JEC, o P. Uberfil Monzón (uruguaio) em visita aos grupos da JEC, foi seqüestrado e torturado. Destacou-se, como fonte de resistência, a paróquia Cristo Rei, dos jesuítas, em Assunção, localizada ao lado de um colégio importante da cidade, apoiando a mobilização dos estudantes. Além de estudantes, vários religiosos (jesuítas) foram expulsos do país ou aprisionados.
O URUGUAI não ficou fora destas “agitações” da JEC de 1960. Não ficaria sem conseqüência o fato de o SLA da JECI estar em Montevidéu. Além disso, os anos de 1968 a 1972 foram de intensa politização dentro do movimento da JEC, não ficando longe da articulação do Movimento Nacional de Libertação conhecido como “Tupamaros”. Acompanhavam os grupos da JEC assessores preparados e comprometidos com a Teologia da Libertação. O Secretariado Latino-Americano do MIEC-JECI foi, por isso, um dos espaços onde a repressão encontrou motivos de intervenção. É suficiente recordar que 30 a 40% dos militantes da JEC tiveram que deixar o país. Anos depois, por uma estratégia frente à conjuntura política do país, foi através da JEC que se articulou a Pastoral Juvenil uruguaia. Uma das razões referia-se ao fato de as paróquias serem, ainda, os lugares menos visados pela repressão.
Região Bolivariana
Na BOLIVIA, o fato de Che Guevara ter sido assassinado aí em 1967, não passava ignorado pelos estudantes católicos. Mesmo que não fosse uma realidade única, por um tempo a JEC foi identificada com o Movimento de Esquerda Revolucionário. Entre os vários assistentes, destacou-se, a partir de 1962, o P. Francisco Dubert. Na guerrilha de Teoponte (1970) era morto o estudante da JEC Nestor Paz Zamora. Os centros de manifestações estudantis que mais se destacaram nas expressões de descontentamento localizaram-se em Sucre, Cochabamba, Oruro e Potosi. É em Potosi que encontramos, ainda hoje, um dos centros mais significativos da JEC da Bolívia.
Na COLOMBIA exerceu, nos anos 60, um papel importante a Central Católica de Juventudes . O que mexeu mais com os estudantes da JEC e da JUC, iniciando a viver um contexto de guerrilha e de socialismo, foi o exemplo do Padre Camilo Torres abandonando o ministério sacerdotal e a cadeira de Sociologia na Universidade para inscrever-se na guerrilha. Ele era capelão da Universidade Nacional e, juntamente com outros participantes, fundou a Faculdade de Sociologia. Deixando o ministério sacerdotal Camilo intensificou a sua participação política, criando a "Frente Unida do Povo" espalhando suas reivindicações através de mensagens aos cristãos, aos militares e aos camponeses. Em 15 de fevereiro de 1966 morria em combate. Até hoje não se sabe onde o exército colombiano enterrou seu corpo. É em Bogotá que surge, nesta época, o Instituto de Pastoral Latinoamericano de Juventud (IPLAJ), substituído, anos depois, em seus objetivos, pela “Casa da Juventude” que formou agentes junto aos jovens de toda a América Latina.
No EQUADOR, como fruto de uma politização dos grupos de estudantes católicos, se dá – como sinal de descontentamento pela postura política assumida pelo núncio do Vaticano - o apedrejamento da nunciatura apostólica. A politização excessiva – segundo a versão dos que acompanham este movimento no Equador - foi uma das causas do enfraquecimento dos grupos da JEC. A militância se dava especialmente nos bairros e nos sindicatos, deixando de lado o movimento estudantil. Apesar disso, Quito tornar-se-ia, a partir de 1978, sede do SLA da JECI.
PERU, pela presença do P. Gustavo Gutierrez – o primeiro sistematizador da Teologia da Libertação e assessor da UNEC - e outros assessores, como Luis Fernando Crespo, foi sempre um país onde a UNEC (o que correspondia à JUC) e a JEC sempre foram significativos celeiros de políticos e intelectuais destacados em medidas tidas como revolucionárias. Foi para lá que se transferiu (de Montevidéu, 1967), o SLA da JECI. No tempo do movimento político “Sendero Luminoso” (1972), por motivos de segurança, o movimento julgou melhor transferir seu Secretariado para Quito. É um dos países onde, na atualidade, os grupos da JEC têm mais vitalidade.
América Central
Na COSTA RICA, em proporções menores que em outros países, não faltaram os conflitos na década de 60. Participantes da JEC e da JUC colaboraram no seqüestro de um rico da cidade de San José e não muito mais. Vale destacar que, com bastante apoio da hierarquia, o P. José Maria Pujadas começaria aí, assim como em outros lugares, especialmente da América Central, os “Encuentros de Promoción Juvenil”, com influência dos padres salesianos adotando, também, a metodologia do Cursilho de Cristandade.
EL SALVADOR foi, nos anos de 1970, o pulmão dos grupos da JEC de toda a América Central através de lideranças fortes apoiadas pelo Secretariado Latino-Americano do MIEC-JECI. Em 1975 houve matanças de estudantes em várias cidades. Uma das lideranças mais reconhecidas era Juan Deplanke que, em 1977, foi expulso do país. Entre as muitas mortes, fala-se da estudante Ana Maria Castillo, mas havia muitas outras. A guerrilha de vários anos impossibilitou uma articulação mais significativa de grupos da JEC porque a situação política não permitia.
Na GUATEMALA é impossível saber o número de mortos por causa da libertação. Basta dizer que, em dois anos (1979 a 1981), foram mortos 12 sacerdotes e milhares de outros cidadãos, homens, mulheres e jovens. Davam-se verdadeiros massacres, especialmente na região de El Quiche onde as “comunidades eclesiais de base” eram incentivadas por evangelizadores assumindo a mística da opção pelos pobres. Isso mexia com os jovens desejosos de viver a fé cristã e assumiram esta bandeira. Entre os jovens assassinados recordam-se os nomes de Dora Azmitia, Ligia Martinez, Rosário Godoy de Cuevas, mas eles/as eram muito mais. Vivia-se um cristianismo de catacumba.
Em HONDURAS a repressão era tanta que se sabe pouco do que sucedia por causa do controle norte-americano. O maior aeroporto do país era, por muitos anos, dos militares dos Estados Unidos. Em 1972 a Frente Estudiantil Social Cristiana que procurava solidificar-se, morria assustada vendo o massacre de Olancho (grande extensão no centro do país), matando religiosos e religiosas comprometidas/os com a realidade do povo campesino do país. Uma cidade que se destacava, na mobilização estudantil, era Choluteca, graças à assistência de vários sacerdotes, especialmente do Padre Ivan Bouffard.
Indo para o MÉXICO, um destaque especial merece o que sucedeu com a juventude na Praça das Três Culturas, em Tatlelolco. Os estudantes mexicanos pretendiam explorar a atenção do mundo, focada na Cidade do México por ocasião dos Jogos Olímpicos de 1968. Para reprimir esta mobilização não bastou a ocupação do campus da Universidade Nacional Autónoma do México. As manifestações aumentaram até que, no dia 2 de Outubro de 1968, 15 mil estudantes de várias universidades e de vários colégios invadiram as ruas da Cidade, ostentando cravos vermelhos como sinal de protesto contra a ocupação militar da UNAM. Ao cair da noite, cerca de 5 mil estudantes e trabalhadores, muitos deles acompanhados das mulheres e filhos, haviam-se reunido na Plaza de las Tres Culturas em Tlatelolco para uma manifestação pacífica. O massacre teve início ao pôr-do-sol quando forças do exército e da polícia cercaram a praça e começaram a abrir fogo contra a multidão. Em outubro de 2003 vieram à luz informações sobre o papel do governo dos Estados Unidos neste massacre. Em junho de 2006 o presidente de então, Echeverría, foi acusado de genocídio, colocado sob prisão domiciliária, mas em julho do mesmo ano foi inocentado porque o juíz decidiu que ele não poderia ser julgado devido ao estatuto mexicano de limitações. O México, na Pastoral da Juventude, sempre se destacou por suas lideranças e trabalhos junto à juventude mais pobre através de um trabalho específico que denominaram de “Pastoral de Situações Críticas”. Foi a partir do México, também, que apareceram grandes articuladores/as da evangelização juvenil na América Latina. Entre outros cita-se Tere Lanzagorta, Paco Merino e Teresa Sanchez Calderón.
Na NICARÁGUA a articulação existente dos estudantes era dificultada, nos 60 e 70, pela repressão política e eclesial e, na década de 80, pelo serviço militar obrigatório. Em 1972, após muitas discussões, a JEC se unira à Frente da Juventude Sandinista. Os anos de guerrilha (antes de 1979) contaram com a morte de muitos jovens, também da Igreja. A luta dos cenários de Igreja, depois da vitória, impediu ou dificultou a formação de grupos. Sintoma desse conflito de cenários foi a maneira como Roma tratou cristãos e sacerdotes comprometidos com o governo revolucionário e a dificuldade em se articular com a Pastoral da Juventude latino-americana.
2.2 Acentos gerais da Pastoral Juvenil Latino-Americana
Considerando o conjunto das Pastorais de Juventude na América Latina, lendo e ouvindo o que se diz nos encontros anuais, há realidades que se tornam evidentes. Destacamos seis aspectos.
1. A Pastoral Juvenil Latino-Americana começou a articular-se, a partir de 1983, em todos os países da América Latina. Em todos eles começaram a existir e a organizar-se em grupos, coordenações, assembléias, instâncias de formação, não importando o tamanho do país. Nos Encontros Latino-Americanos de Responsáveis Nacionais dessa Pastoral, é raro que falte algum país que não saiba falar de sua experiência . Estes “Encontros” começaram em 1983 e se realizam tendo, sempre, algum tema específico considerado importante para a Pastoral no momento, escolhido pelas lideranças: “processo de educação na fé”, “militância”, “espiritualidade”, “cultura”, “assessoria” etc. Além destes encontros “gerais” a Pastoral Juvenil encontrou uma forma de articular-se, conforme espaços menores, dividindo o “continente” em quatro grandes “regiões”: a região do cone sul, a região bolivariana, a região caribenha e a região Centro-Americana, incluindo o México. Cada região tem seu coordenador e seus delegados.
2. É uma Pastoral que realiza inúmeros cursos em diferentes níveis e extensões. Há um Curso em nível latino-americano, de três meses, para assessores, animado pela Sessão Juventude do CELAM, em Bogotá; Cursos oferecidos por instituições como o Instituto Superior de Pastoral Juvenil (Chile) ; Cursos para Assessores oferecidos pelo Instituto de Pastoral de Juventude (Porto Alegre), em três etapas, de 8 semanas, e outros. A grande novidade, suscitada pela Rede de Centros e Institutos de Juventude do Brasil, é o Curso de Pós-Graduação em Juventude, começado em 1999 e, atualmente, funcionando em Goiânia . Além disso, em Florianópolis, no Instituto Teológico de Santa Catarina, iniciou, em 2007, um Curso de Pós-Graduação para agentes que trabalham com jovens, dirigido mais especificamente para o cultivo de um trabalho na dimensão da fé. Pode-se dizer que a formação é o campo onde mais se investe e o campo que sempre pede mais.
3. É uma Pastoral que tem como base milhares de grupos de jovens espalhados por todos os cantos. No Brasil estes grupos eram (2007) mais de 54 mil, articulados de diferentes formas, inseridos numa organização que se enraíza nas pequenas comunidades até a articulação das dioceses e espaços regionais mais amplos. Sem grupos que se reúnem sistematicamente, a Pastoral Juvenil não existe. Mesmo que o investimento “oficial” na articulação não seja significativo e mesmo que faltem apoios em várias partes ou apareçam atitudes eclesiásticas que procuram desarticular essa “movimentação”, essa Pastoral prossegue caminhando na perspectiva de uma legítima “autonomia pastoral”. No Brasil, a partir de 1986, celebra-se anualmente, no final de outubro, o “Dia Nacional da Juventude” onde os grupos convidam a juventude, em geral, para encontros massivos preparados com larga antecedência, tendo um tema e um lema relacionados com a realidade social . São encontros de um dia, chegando a reunir, em muitos lugares, em clima festivo e de celebração, milhares de jovens.
4. É uma Pastoral que tem um referencial teórico comum, servindo de orientação, inspiração e animação. “Civilização do Amor – Tarefa e Esperança” é uma das mais completas descrições de como deve ser uma evangelização juvenil, com seus diversos “marcos”, com dois deles dificilmente encontrados em outras instituições: referimo-nos ao marco histórico e ao marco celebrativo . Um, retomando a memória histórica dessa Pastoral, e o outro, descrevendo a “espiritualidade” na qual se acredita e que se deseja implementar. É uma Pastoral que tem como princípio pedagógico a “formação na ação”. Procura-se partir da prática ou da experiência, ajudando a juventude a crescer numa prática refletida. Os escritos dessa Pastoral nascem do chão da experiência. É uma Pastoral que tem lideranças juvenis escolhidas, sacerdotes e bispos responsáveis em nível de regiões e países que, com suas características, se encontram, planejam e animam a caminhada dos grupos.
5. É uma Pastoral que, pelo fato de assumir o protagonismo juvenil como princípio orientador, experimenta dificuldades de relacionamento, tanto com hierarquias como com tipos de movimentos juvenis onde este “protagonismo” não é nem assumido nem respeitado e onde a vivência equilibrada de fé e vida, de fé e política não é compreendida. As mobilizações se dão em cenários diferentes de Igreja, com leituras diferentes da realidade, com pedagogias diferentes e com espiritualidades diferentes, mas – apesar disso – realizando uma caminhada em comum.
6. Além disso, é uma Pastoral que, nos últimos anos, se enriqueceu com significativas “estruturas de apoio” . Referimo-nos aos Centros e Institutos de Pastoral de Juventude espalhados por mais de 10 países – todos a serviço da Pastoral Juvenil - e que, de dois em dois anos, se encontram para atualizarem a missão que lhes cabe na evangelização dos jovens e nos estudos do fenômeno juvenil.
2.3 Apanhado histórico
a) Não tendo havido movimentação juvenil significativa na Igreja Católica antes de 1950, na década de 60 chamam a atenção dois fatos importantes: a fase da ascensão católica, dentro e fora do Movimento Estudantil, e os Golpes Militares (especialmente no Cone Sul da América Latina). A fase da “ascensão católica” deveu-se ao surgimento, na Igreja Católica, principalmente da Ação Católica Especializada, fruto da reflexão e da prática do Cardeal Cardijn, bem como de movimentos como “cristãos para o socialismo” e “sacerdotes para o Terceiro Mundo”. Por influência de Cardijn surgiram, em muitos países, a Juventude Operária Católica (JOC), a Juventude Agrária Católica (JAC) , a Juventude Estudantil Católica (JEC) e a Juventude Universitária Católica (JUC). Isso se deu a partir de 1947, a começar com os jovens operários e, depois, com os estudantes universitários e secundaristas. Um dos filósofos que mais influenciou a juventude dessas diferentes articulações foi Jacques Maritain. A experiência mais estudada e pesquisada é a JUC . Foi com os universitários da JUC que se deu, na UNE do Brasil, a colaboração dos católicos no Movimento Estudantil, através da aliança de Aldo Arantes com os “comunistas”. A JUC (assim como as outras “especificidades”) tinha uma organização nacional, marcando presença no campo, na fábrica, nos colégios e em muitas Universidades, principalmente não confessionais. Todas estas “especificidades” têm sua história particular.
b) Algumas heranças que ficaram da experiência da Ação Católica Especializada, declarada extinta (no Brasil) em 1967, e reprimida por Golpes Militares, são a utilização sistemática do método Ver-Julgar-Agir, a busca de uma prática a partir da realidade concreta (considerando questões sociais e políticas), a formação na ação, a convicção da necessidade de se lutar pela transformação das estruturas sociais, o uso - pelos grupos - de espaços de revisão de vida e de prática, a compreensão da vivência da fé engajada no social, a utilização e a opção pedagógica pelos pequenos grupos e o despertar para o protagonismo juvenil. Foi essa carga pedagógica e filosófica que fez os universitários serem presença atuante não só junto à UNE (Brasil), mas junto à Igreja e à sociedade, inclusive na sistematização da Teologia da Libertação. Foi a partir desses estudantes que surgiu o movimento “Ação Popular” que tomaria, como partido, uma perspectiva marxista-leninista. Entre as muitas personalidades que trabalharam e/ou se formaram nesta organização ressalta-se o papel que exerceu – com seu carisma e sua coragem – D. Helder Câmara, futuro arcebispo de Olinda e Recife .
c) Essas “especializações” estavam organizadas em nível nacional, com equipes articuladoras e “assistentes”. Ao mesmo tempo em que existiam estas articulações, explodiam diversas tentativas de “guerrilha” no Brasil e o “Maio de 1968”; os hippies protestavam contra a guerra do Vietnam; era morto (na Bolívia) o guerrilheiro Che Guevara, dava-se o assassinato de Luther King e se realizava, em Medellín, a Conferência Episcopal Latino-Americana procurando traduzir, para a América Latina, os resultados do Concílio Vaticano II, chamando a juventude como “força de pressão social”. No nordeste brasileiro o educador Paulo Freire valia-se da contribuição de jovens provindos da JUC e da JEC.
d) Os jovens católicos movidos por uma pedagogia que incentivava o compromisso social acompanhavam as realidades e os debates políticos do momento. Os universitários católicos chegaram a sistematizar uma “forma de governo” chamado por eles de “solidarismo”.
e) Na dimensão religiosa é importante acentuar que foi nesse contexto dramático e politicamente opressor (não só no Brasil) que surgiram, em substituição à Ação Católica, diferentes “movimentos” ou “encontros” de jovens católicos, a maioria ligada a algumas Congregações Religiosas ou, então, a algumas lideranças eclesiásticas. O primeiro deles foi o EMAÚS, seguindo a metodologia do Cursilho de Cristandade, sistematizado pelo Padre Calazans, em São Paulo. Outro tipo de encontro de fim-de-semana, foi o TLC (Treinamento de Liderança Cristã), criação de Haroldo Rahm e que se difundiu por muitos cantos do Brasil . Além deles, surgiram, em muitos lugares, experiências semelhantes, analisados teológica e pastoralmente por João Batista Libânio . Na sua quase totalidade distinguiam-se, estes “movimentos”, por fazerem encontros de impacto de final de semana.
Surgiram nesta época, igualmente, figuras como a do Padre José Fernandes de Oliveira, falando e cantando para os jovens como antes não se cantava . Muitos jovens redescobriram a Igreja e o cristianismo através dele e dos “movimentos de encontro” coordenados por adultos, visando problemas pessoais e respostas às aspirações de libertação interior do jovem, acentuando a dimensão sacramental, trabalhando com grupos grandes, apresentando uma Igreja atraente e acolhedora, trabalhando o sentido de pertença à Igreja e evitando falar de política ou de problemas sociais. Um dos resultados destas e de outras iniciativas semelhantes foi o surgimento, em muitas paróquias, de milhares de “grupos de jovens”. Apesar de, na Conferência Episcopal Latino-Americana e na Conferência dos Bispos do Brasil, ter surgido o “Setor Juventude”, procurando acompanhar essa realidade e ajudar estes grupos a viver um processo de formação na fé com uma pedagogia reconhecida, não se conseguia, até 1983, articular essas experiências.
Ao mesmo tempo, principalmente a partir de 1970, se espalharam pela América Latina movimentos internacionais como o Movimento dos Focolares, o Movimento Carismático, o movimento Comunhão e Libertação e outros que trabalhavam e trabalham com jovens. Pela proibição que vigorava de os jovens se encontrarem e se organizarem nos Grêmios e nos Diretórios, um local de encontro deles eram as paróquias. Impulsionada pela urgência de um trabalho mais coordenado junto aos jovens, 1979 foi o ano, em que se deu, na Conferência Episcopal de Puebla (México), por parte da Igreja Católica, num contexto onde era muito forte a pressão por um trabalho com os oprimidos, a opção preferencial pelos pobres e pelos jovens.
f) Quem foi à luta, por um trabalho mais articulado dos jovens católicos foram diversas Conferências Nacionais de Bispos Católicos. . Sentindo a falta de alguém que os assessorasse neste campo de evangelização, a Conferência dos Bispos do Brasil foi pedir, por exemplo, a ajuda do Instituto de Pastoral de Juventude de Porto Alegre, há pouco fundado (1980) e que tinha como finalidade a formação, a assessoria e a pesquisa no campo desta evangelização, trabalhando com jovens e adultos empenhados no acompanhamento a grupos de jovens.
Esta Pastoral passou por diversas fases: a fase da busca de uma articulação e de uma identidade comum, tendo em vista os milhares de grupos que foram aparecendo (1974-1983); a fase da sistematização e implementação de uma proposta de ação evangelizadora junto à juventude (1984-1989), a fase do amadurecimento e, ao mesmo tempo, da crise interna da proposta (1990-1993), a fase da missão conjunta (1994-1998); e a fase tanto da retomada da proposta inicial como caminho de resistência como de uma sistemática tentativa de desarticulação da experiência por parte da estrutura (1999 aos nossos dias).
g) Contribuíram, no surgimento da fase da “sistematização e implementação da proposta de uma ação evangelizadora junto à juventude” cinco fatores importantes: a) a opção preferencial pelos jovens e pelos pobres, assumida pelos bispos da América Latina em Puebla em 1979; b) a escolha (por parte das Conferências Episcopais) de um assessor nacional; c) a escolha dos jovens como “destaque” nas atividades das Conferências Episcopais; d) a visitação à realidade dos países visando a evangelização da juventude; e) além do nascimento dos milhares de grupos paroquiais, o surgimento de várias articulações específicas de jovens, sejam eles universitárias, do ensino médio, do meio popular ou dos jovens da roça. No Brasil, por exemplo, começara, em 1978, a articulação da Pastoral da Juventude do Meio Popular (principalmente no Nordeste) e, em 1979, a articulação da Pastoral Universitária, acompanhada de perto pelo MIEC-JECI. Em 1982 seguiam o mesmo passo os estudantes “secundaristas”, também alimentados pela memória da JEC. Os jovens da roça começariam sua articulação expressando seu vigor num Encontrão de Jovens realizado em Passo Fundo (RS), em 1985. Junto com o México, o Chile, o Uruguai e o Brasil ia-se amadurecendo uma articulação mais ampla movida por uma proposta comum, segundo o processo que a Igreja Latino-Americana estava vivenciando. É uma fase essencialmente pedagógica, acentuando uma formação integral, e metodológica, pautada no Ver-Julgar-Agir, enriquecido aos poucos com o Revisar e o Celebrar.
Após visitas a diferentes países, o ambiente se tornava propício para a realização de um primeiro encontro de responsáveis nacionais da Pastoral da Juventude (1984). Havia grupos e articulações nacionais, mas não se sabia o que os unia nem para onde desejavam caminhar como um todo. O grande tema dos primeiros encontros foi, por isso, a pedagogia a ser usada pelos grupos e a forma de organização. Um dos temas preferidos foi o esclarecimento e o aprofundamento da inserção da Pastoral da Juventude nos organismos intermediários da sociedade civil, típica herança dos tempos da Ação Católica Especializada.
Ao lado de muitas atividades, em diferentes níveis, aconteciam, principalmente no Brasil e no México, Seminários Nacionais de Assessores e Militantes, girando em torno de algum tema atual para a Igreja, a juventude e a sociedade. Destacam-se as análises de conjuntura, a vivência eclesial adaptada à realidade juvenil, as dimensões da formação (principalmente afetiva e litúrgica), bem como o estudo mais específico dos marxismos e do planejamento. Referenciais para esta iniciativa foram o P. Jorge Boran (Brasil), o P. Horácio Penengo (Uruguai), Tere Lanzagorta (México) e César González (Chile), animados por uma proposta comum de articulação e evangelização.
h) A Pastoral da Juventude, com sua elaboração teórica bastante avançada , iniciaria, em 1989, outro conjunto de temáticas. Começou a manifestar-se uma crise interna revestida de luta pelo poder hegemônico, ocasionada pela compreensão discordante do que seria, de fato, uma articulação e uma organização de jovens no plano da fé. 1989 tornou-se um ano emblemático onde a queda do socialismo real visualizado pela queda do muro de Berlim, teria repercussões profundas, também no campo da evangelização juvenil, principalmente pelas conseqüências que teria a mudança de uma visão de mundo “apolínea” para um modo de ser “dionisíaco”, aflorando pujante a questão da sexualidade e o cultivo do corpo e do prazer .
Fala-se, por isso, de outra fase desta Pastoral: a fase do amadurecimento e da crise interna. Isso se evidenciou na realização do 1° Congresso Latino-Americano da Pastoral da Juventude em Cochabamba (1991/1992), com 800 delegados jovens. Nem todos, na organização desta Pastoral, pensavam a mesma coisa e ficavam claras duas propostas que não encontravam um jeito de caminhar em harmonia . O equilíbrio da vivência entre fé e política era criticada dizendo-se que lhe faltava a dimensão da “mística” quando, de fato, o que estava em jogo era a vivência de um cenário de igreja. De uma leitura sócio-econômica, fundada nas estruturas da realidade, passava-se para uma leitura onde os aspectos conjunturais eram apresentados numa dimensão mais “cultural”, insistindo – como aconteceu na Conferência Episcopal de Santo Domingo (1992) – na questão da inculturação. Uma “inculturação” servindo, de alguma forma, de desculpa para deixar de lado, na vivência da fé, a força do econômico. Isso se verificava – na prática - nos mais variados níveis, mas não era absorvido pelas lideranças. No campo da evangelização da juventude pressionava-se para que houvesse mudanças pedagógicas. Recorde-se que o tema do Encontro Latino-Americano de Responsáveis, de 1990, foi “Pastoral da Juventude e Cultura”. Não estava em jogo somente a questão da “cultura”; queria-se questionar, especialmente, a questão do método que partia da realidade. A Igreja Latino-Americana, no seu todo, era pressionada, por Roma, em abandonar o método do Ver-Julgar-Agir para dar mais importância à questão da cultura e à centralidade a Jesus, retirando aspectos como do “Reino de Deus” e a tradição de partir da realidade do povo. Tornava-se, processualmente, mais importante a aparência, inclusive o corpo, e não o compromisso com a realidade sócio-econômica e, em nossa perspectiva, o contexto do jovem.
Continuavam, no entanto, embora com menos vibração, a realização de Seminários Nacionais, especialmente de assessores/as e “militantes”. Os tempos prosseguiam sendo de crise (interna e externa), em vários lugares e de diversas formas. Uma realidade comum eram as discussões teóricas distanciadas das necessidades dos grupos de jovens, clamando por apoio. Repercutiu, por isso, entre a juventude católica latino-americana, o fato de a Igreja Católica do Brasil, na realização da Campanha da Fraternidade de 1992, ter escolhido a juventude como tema a ser rezado e discutido pelas comunidades. Foi uma época (1991 e 1992) em que apareceram muitos escritos expressando a sua avaliação com relação à caminhada da Pastoral, principalmente com relação a sua melhor organicidade, sabendo-se que era uma questão séria, mas não a mais radical. No Brasil, por exemplo, esse espírito desembocou na Assembléia desta Pastoral, em Vitória (ES) festejando 10 anos de luta e esperança. Assim como significou a expressão da beleza da proposta, reclamava a necessidade de uma “renovação”. Ao mesmo tempo em que era uma crise “interna”, a crise era provocada por forças “externas”, insatisfeitas pela caminhada autônoma dessa Pastoral.
i) É muito estranho perceber, por isso que, em 1994, o ambiente, na Pastoral da Juventude era de “missão”, isto é, de ir ao encontro da realidade juvenil. O tema do encontro latino-americano de responsáveis, em São Paulo, foi espiritualidade e missão da Pastoral da Juventude. O que seria, contudo, este “ir ao encontro da realidade” quando tantas forças convidavam a fazer o movimento oposto, insistindo numa caminhada mais “espiritual”? Pela primeira vez lançou-se, no Brasil, um “Projeto de Missão” da Pastoral da Juventude, destacando-se a preocupação com a cidadania. No campo da espiritualidade a proposta era a realização de Escolas de Liturgia e de Bíblia para jovens. Os jovens da Pastoral da Juventude do Cone Sul amadureceram, inclusive, um “gesto comum” com a mesma temática. 1995 foi o ano em que se discutiu, através da Rede dos Centros e Institutos de Pastoral da Juventude, a realização de um Curso de Pós-Graduação sobre Juventude, voltado para um amadurecimento de agentes que trabalham com jovens.
j) Muitas realizações aconteceram nessa época. Destacaríamos quatro: 1) em nível latino-americano, uma nova sistematização da proposta da Pastoral da Juventude com “Civilização do Amor: Tarefa e Esperança”; 2) em nível de Brasil, os jovens da roça assumindo, com convicção, seu envolvimento com a terra; 3) os estudantes secundaristas, organizados na Pastoral da Juventude Estudantil, lançando a descrição de sua utopia através do seu Marco Referencial intitulado “Quem somos? A que viemos?”; 4) a articulação latino-americana dos militantes da Pastoral da Juventude através da “Rede Minka”, reunindo, de modo especial, pessoas que passaram nessa Pastoral, envolvidas em atividades políticas.
Verificou-se, no geral, uma retomada em todas as frentes. Além do Dia Nacional, outro dia que se instituiu oficialmente foi a “Semana da Cidadania”. Além da amplitude do tema cabe recordar a escolha e a nomeação, por indicação das bases, no México, na Venezuela e no Brasil de mulheres leigas, para assumirem o ministério da assessoria nacional, reconhecidas pelas respectivas Conferências Nacionais dos Bispos. Estes fatos não deixavam de ser um sintoma do tipo de caminhada que a Pastoral da Juventude fazia, assumindo atitudes novas na estrutura eclesial. Foi em 1998 que se realizou, igualmente, o 2º Congresso Latino-Americano da Pastoral da Juventude, em Punta de Tralca (Chile), com delegações das Pastorais de Juventude de todos os países da América Latina. É importante recordar, contudo, que nos mesmos dias acontecia, em Santiago do Chile, organizado com o apoio de Roma, o Encontro Continental de Jovens reunindo mais de 1 milhão de jovens . Ao mesmo tempo em que poderia significar um “reforço” do que sucedia no Congresso, significava igualmente a oposição visível de duas visões na pedagogia da evangelização da juventude: uma, que acredita numa “pastoral de eventos massivos” (Encontro Continental de Jovens de Santiago) e a outra, que aposta numa “pastoral de processo”, investindo sistematicamente na formação de pequenos grupos (Congresso de Punta de Tralca), assumindo a bandeira do protagonismo juvenil.
A caminhada, depois disso, prossegue dentro de uma conjuntura eclesial hegemônica que não prioriza a necessidade de partir da realidade, mas aposta na força evangelizadora dos eventos massivos, tomando como ponto central a figura de Jesus encarada como o Cristo da fé, deixando de lado o Cristo da história. Uma manifestação significativa e que, de alguma forma, contrastava com o vento eclesial que se vivia, foram os Encontros Latino-Americanos de Buenos Aires e Quito, onde a juventude insistia na retomada dos Processos de Educação na Fé, na importância das opções pedagógicas e na importância pedagógica da elaboração do Projeto de Vida. O resultado foi a publicação de “Projeto de Vida: Caminho Vocacional da Pastoral da Juventude” (2003).
3. Rede de Centros e Institutos de Juventude
Para se ter uma visão conjunta das articulações religiosas juvenis da América Latina é indispensável ter ciência, igualmente, das “estruturas de apoio” com as quais estas Pastorais da Juventude contam, principalmente, no campo da assessoria e da produção de subsídios para os milhares de grupos. Embora se assegure, como princípio orientador, o protagonismo juvenil, a Pastoral da Juventude sempre foi uma caminhada conjunta de adultos e jovens. Assim como os jovens fazem e decidem sua caminhada, eles desejam a companhia de estruturas que caminhem com eles. Por isso, para uma compreensão mais integral da caminhada destas Pastorais, é preciso falar dos Centros e Institutos de Juventude. Eles estão espalhados por diversos países e, a partir de 1991, começaram a encontrar-se, considerando que a “missão” de todos era a mesma: acompanhar as Pastorais de Juventude. Formaram-se, assim, duas “Redes”: a Rede Latino-Americana de Centros e Institutos de Juventude (à qual o Brasil também pertence) e a Rede Brasileira de Centros e Institutos de Juventude com seus encontros específicos. Em 2007 estiveram presentes, no encontro desta Rede, 23 Centros, espalhados pelo Brasil (14), Uruguai, Argentina, Chile, Peru, Colômbia (2), Venezuela, México, República Dominicana, Estados Unidos (participa um Instituto que trabalha com jovens hispanos), Paraguai e El Salvador.
3.1 Os “pioneiros”
Entre os diversos “Centros” – reunidos em “Rede” - destacamos os que podem ser chamados de “pioneiros”: o Instituto de Pastoral Juvenil da América Latina (Bogotá, Colômbia), o Instituto Superior de Pastoral Juvenil (Santiago, Chile) e o Instituto de Pastoral de Juventude (Porto Alegre, Brasil). Os Centros posteriores, cada qual com suas características, serão apresentados de forma mais sintética, considerando a caminhada conjunta.
a) O Instituto de Pastoral Juvenil Latino-Americano e a “Casa da Juventude” (Bogotá)
O Instituto de Pastoral Juvenil Latino-Americano (IPLAJ) é o Instituto mais antigo na América Latina dedicado à evangelização da juventude. Seu idealizador foi o P. Jesús Andrés Vela S.J. que o situava como resultado do impulso nascido da Conferência Episcopal Latino-Americana de Medellin (1968). Havia, na época, na Igreja Latino-Americana, instigados pelo espírito do Concílio Vaticano II, vários “Institutos” que aprofundavam temas específicos. O IPLAJ (dirigido para a Pastoral da Juventude) iniciou como uma organização autônoma, dependendo de três Congregações (salesianos, jesuítas e irmãs dominicanas da apresentação) e o decano da Faculdade de Educação da Universidade Javeriana (Bogotá).
O objetivo era formar educadores para a educação da fé. Funcionou de 1970 a 1977, com três preocupações básicas: definir o que seria “Pastoral da Juventude”, definir o tipo de formação que se queria proporcionar e as características que deveria ter o IPLAJ. Optou-se por uma pedagogia personalizante, comunitária, de mudança e compromisso social e vocacional. Um campo onde se investiu foi na formação de assessores/as, orientadores em educação na fé que pudessem assumir este trabalho em nível de estrutura eclesial. Propunha-se ter uma linha pastoral onde os participantes fossem sujeitos de sua própria personalização, tendo como pressupostos a opção pelos pobres e jovens, a linha libertadora, a educação para a transformação e a capacitação para trabalhar nos diferentes espaços da juventude.
Depois da Conferência de Puebla (1979) o IPLAJ partiu para a forma de “Seminários de Planejamento Pastoral”, tentando superar certo “cursismo”, como se expressa o P. Vela. O Seminário tinha e tem como base o aprofundamento da práxis pastoral dos participantes, a organização e a percepção da experiência pastoral, o aprofundamento das bases teóricas da ação e a elaboração de um Marco Teórico da Ação. Era e é um Seminário “experiencial”. Quem assumiu esta nova proposta, a partir de 1979, foi a “Casa de la Juventud” que já funcionava desde 1973 e se especializara na linha da prática pastoral (Pastoral Juvenil, Semanas da Juventude, Páscoas Jovens, Encontros de Acampamento-Missão, Cursos para Animadores Juvenis, centrando-se no acompanhamento às Comunidades de Vida Cristã). As linhas de ação assumidas pela “Casa” eram o Planejamento, a Formação, o Acompanhamento, os Grupos de Jovens, a pesquisa e a publicação , a Espiritualidade e a Pastoral Vocacional. Em proporções mais modestas, mas influenciada por esta iniciativa, surgiram, na época, em diversos países, várias “Casas da Juventude”.
b) O Instituto Superior de Pastoral Juvenil (Chile)
O segundo centro mais antigo dos Centros e Institutos de Juventude, na América Latina, foi o Instituto Superior de Pastoral Juvenil (ISPAJ), do Chile – patrocinado primeiramente pela Conferência dos Religiosos do Chile. Ao longo de sua história, manteve-se fiel ao que o presidente da Conferência dos Religiosos do Chile, Padre Egidio Vigañó, dizia na inauguração do Instituto, no dia 21 de maio de 1971: “Vivimos una hora exigente de la historia, de la patria y del continente. En ella la juventud está llamada a desempeñar un papel de especial importancia. A su servicio y para su orientación y formación ha dado el Señor una misión a la Iglesia y ha suscitado en ella carismas de especialización.
O objetivo do Instituto era um serviço técnico e formativo dos agentes que têm vocação para trabalhar com a juventude. Além de preparar agentes estudava a realidade juvenil com outras instituições de pesquisa. A história do ISPAJ pode ser vista em quatro momentos:
a) de 1970 – 1980, como um momento fundacional e de afirmação de seu caráter institucional. Entre as atividades deste “momento” destaca-se o Seminário Interamericano sobre a problemática juvenil e o curso, de um ano, para assessores/as de jovens. Desde a criação o Instituto colaborava com a Comissão Nacional da Pastoral da Juventude passando a ser uma iniciativa da Conferência Episcopal Chilena.
b) de 1981 a 1990 como um “momento” de aprofundamento da Pastoral Juvenil. Um esforço importante desta década de ditadura militar de Pinochet foi o estudo de como os jovens enfrentavam a questão afetiva e a participação social e política, ajudando o episcopado a elaborar as orientações para uma Pastoral Juvenil Orgânica.
c) de 1991- 2000 como um momento “novo” e de uma “nova evangelização”, como então se falava. Tratou-se de aprofundar cada etapa da vida juvenil e os diversos ambientes específicos Destacou-se o surgimento do “Talita Kum”, um curso direcionado ao trabalho com adolescentes e ao amadurecimento de uma Pastoral Juvenil em chave vocacional.
d) de 2001 até 2008 o ISPAJ investiu fortemente na preparação de agentes, com intercâmbio especial com a Universidade Salesiana de Roma e cultivando um relacionamento mais significativo com o Instituto Nacional da Juventude, tomando mais a peito estudos sobre os jovens em risco social.
Movidos por várias dificuldades e alguns questionamentos, o episcopado chileno decidiu encerrar os trabalhos deste Instituto em março de 2008, no dia do assassinato de Dom Romero, em El Salvador (1980). A medida não deixava de mostrar uma postura por outro modelo de atuação junto aos jovens, não acreditando no valor de “partir da realidade”. Agradecimentos especiais, expressados pelos responsáveis no encerramento do Instituto, foram dirigidos ao Padre Derry, ao Padre Francisco O´Leary (ex-diretor do Instituto, falecido em 1992) e a Dom Fernando Ariztía, falecido em 2006. Foi, evidentemente, um acontecimento que ecoou, com estranheza, não somente no Chile.
c) O Instituto de Pastoral da Juventude (Porto Alegre)
Por iniciativa de cinco Congregações Religiosas (Maristas, Jesuítas, Salesianos, Irmãs da Divina Providência e Filhas do Coração de Jesus) fundava-se, em 18 de janeiro de 1980, outro Centro de Juventude: o Instituto de Pastoral de Juventude, em Porto Alegre. Os objetivos eram a Formação (de Assessores/as e Jovens), a Assessoria e a Pesquisa. Numa análise desse Instituto com um espaço invejável, uma biblioteca especializada sobre juventude, um banco de dados sobre juventude e uma infinidade de iniciativas de formação e articulação e outras características, apresentamos conclusões que uma monografia sobre esta obra apresenta . Raquel Pulita, em sua análise, se refere aos avanços e desconstruções. Quanto aos trunfos da caminhada, Pulita desenvolve cinco itens :
a) A Intercongregacionalidade. Considerando a importância do desafio, algumas Congregações (cinco, no início) uniram-se em torno da evangelização da juventude, expressa na Pastoral da Juventude. Discutiram o assunto, ofereceram seu projeto aos Bispos do Regional Sul 3 (Rio Grande do Sul), liberaram pessoas envolvidas nesse ministério, confiaram na criatividade dessas pessoas e iniciaram sua caminhada. Formou-se, até, uma comunidade de religiosos/as envolvidas nessa causa e formaram o que se tornou conhecido como “Equipe Executiva” do IPJ.
b) A proposta. O IPJ encarnou, desde o início, uma proposta pedagógica, teológica e pastoral de fronteira com relação ao trabalho de evangelização da juventude. Nem tudo era válido e não se aceitavam críticas sem fundamento. A proposta se expressava no “Marco Referencial” do Instituto e em muitas outras atividades. Dentre elas podem ser citadas: os Cursos de Assessores de Jovens, a efetivação anual do Plano de Atividades do Instituto, a montagem de um banco de dados sobre juventude e pastoral da juventude, a realização habitual da Revisão de Vida da “Equipe Executiva”, a coordenação democrática e rotativa da própria “Equipe”, a inserção na pastoral orgânica, o acompanhamento aos movimentos sociais, o espírito de acolhida da Casa etc. A proposta sofreu influências da Casa da Juventude (Bogotá); de teólogos como J.Batista Libânio e Leonardo Boff; sociólogos como Ricardo Antoncich, José Ivo Follmann, Alberto Atalíbio e José Odelso Schneider; pedagogos como Paulo Freire, Jorge Boran, Cláudio Rockenbach, Hugo Bersch, Enedina Pierdoná e Florisvaldo Saurim; psicólogos como José Hess, Antônio Baldan, e muitos outros . A própria sistematização da proposta pedagógica da Pastoral da Juventude brasileira e latino-americana era acompanhada de modo envolvente . O IPJ não era somente uma proposta que se hospedava na Casa Padre Jorge; a própria Casa era uma proposta.
c) A vida da Equipe, isto é, a forma como a Equipe Executiva do IPJ conseguiu viver, existencial e pedagogicamente. A casa era procurada por jovens e assessores porque tinham certeza que encontrariam aí pessoas para conversar sobre o trabalho com a juventude e a vida. O que se viveu foi um intenso trabalho de equipe, com funções definidas, “trabalhos especializados” para todos, realizados em espírito de complementaridade.
d) Ser referência. Impressionante como essa estrutura de apoio ao trabalho de evangelização da juventude foi adquirindo projeção. Uma realidade pensada a serviço de um “Regional”, teve que dobrar-se aos apelos de outros. Era referente porque marcava presença. Muitas vezes não era ele (o Instituto) que fazia, mas estava presente. Entre alguns eventos podem ser citados os 45.000 jovens reunidos em Passo Fundo, em 1985; o encontro de 60.000 jovens em Santa Cruz do Sul, em 1998; o “encontrão” de mais de 40 mil jovens em Santa Maria, em 2001.
e) A pedagogia. Outro trunfo que garantiu a caminhada do IPJ refere-se à pedagogia que o orientou. Tratava-se de uma pedagogia participativa, envolvendo a obra no seu todo, não somente nos Cursos que oferecia. A pedagogia estava na forma como se usava a casa, na forma como se tratavam os funcionários, na forma como se recebiam as pessoas que procuravam a Casa, no modo de ser da Equipe, na maneira como se trabalhava com os “cursistas”, no envolvimento que o IPJ demonstrava na sua vivência social e eclesial. Não é por acaso que o IPJ se envolveu com os movimentos sociais, transformando-se em refúgio de perseguidos políticos e sendo apoio para as Comunidades Eclesiais de Base. Um cenário mais conservador da Igreja sempre tinha suas reservas ao IPJ. As organizações políticas de esquerda encontravam, no IPJ um lugar para fazer seus planejamentos etc. Estava em jogo uma postura teológica, pastoral e política. É o caso de recordar, também, as parcerias com o “Mundo Jovem” e a produção de subsídios.
Esta instituição sofreu, em 2006, uma intervenção relacionada ao uso do espaço, cedido em comodato pela Província Meridional dos Jesuítas do Brasil, desde o início da obra. Assim como teve que ir à busca de outro espaço, as condições de trabalho foram fragilizadas. Está numa fase de recomeço, num outro município, mantendo seus objetivos. Vive de uma memória bonita, tendo que reiniciar sem poder contar com a força fundacional que a caracterizava. Não fica claro se a intervenção foi motivada por discordância com a orientação pedagógica reinante ou pela retomada de um espaço privilegiado (no lugar funciona, agora, uma Escola de Design). De qualquer forma, não deixa de ser um sintoma das dificuldades que enfrentam as instituições eclesiásticas e sociais quando realizam trabalhos de educação informal junto à juventude.
3.2. A realidade de uma “Rede”
Na caminhada das Pastorais de Juventude do continente latino-americano vigorava e vigora a convicção que o jovem e o adulto precisam caminhar juntos, respeitando o papel protagônico da juventude. Na década de 80 surgiram vários Centros e Institutos semelhantes aos que apelidamos de “pioneiros”: Pablo VI, em Montevidéu; a Casa da Juventude, em Goiânia ; o IPJ Leste II, em Belo Horizonte; o Aiaká, em Manaus e cerca de 15 outros, em diferentes lugares.
No primeiro encontro desta Rede Latina (1991) estavam presentes 11 Institutos: a Casa da Juventude, de Goiânia, a Casa de la Juventud, de Bogotá; o Centro de Capacitação da Juventude, de São Paulo; o Centro de Promoción Integral, do México; o Anchietanum, de São Paulo; o Instituto Arquidiocesano de Pastoral Juvenil, de Asunción; o Instituto Pablo VI, de Montevidéu; o Instituto de Pastoral da Juventude de Belo Horizonte, o Instituto de Pastoral da Juventude de Porto Alegre, o Instituto Superior de Pastoral da Juventude, de Santiago e os Servicios de Capacitación, do México (SERAJ e CEJUV). O tema foi “A Integração entre os Institutos, a realidade Latino Americana e questões de interesses comuns. Dois anos depois (1993), em Santiago/Chile, movido pela Conferência de Santo Domingo, dava-se o 2º encontro com o tema “A cultura juvenil e a formação de Assessores/as, com 12 Centros e Institutos.
Aos poucos foram sendo aceitos, na Rede Latina, outros Centros como o Servicio de Pastoral Juvenil, da Colômbia, em 1995 e o Instituto Fé y Vida, da Califórnia/ EUA trabalhando com jovens hispanos. Em 1997 começou a participar da Rede o “Instituto de Pastoral y Desarrollo Juvenil”, de Lima; em 1999 o “Instituto Pastoral Juvenil”, de Caracas; em 2001 o Centro Marista de Pastoral Juvenil, de Caracas, o Centro Pastoral Santa Fé de São Paulo, os Centros Maristas de Montes Claros (MG), Palmas (TO), Natal (RN) e Colatina (ES), o Instituto de Formação Juvenil, de São Luis/Maranhão, o Instituto Cardeal Eduardo Pironio, de Buenos Aires. e o SEJUVE, de San Salvador/ El Salvador .
Toda a década de 1980 esteve banhada pelos esforços da Igreja Latino-Americana em concretizar os sonhos de Medellín e Puebla optando pelos pobres e pelos jovens e confirmando a metodologia que parte da realidade. Em muitos países os jovens estiveram em destaque e a organização e a articulação de uma Pastoral Juvenil, nos países e no continente, receberam a atenção, o cuidado e o apoio por parte da hierarquia e de Congregações religiosas com opção pelos jovens e por uma vida mais inserida junto aos pobres.
Os termômetros indicavam, por isso, um tempo favorável para uma articulação dos serviços prestados à juventude. As Pastorais da Juventude, em sua organização, tanto nos países como em nível de continente, começaram a viver um momento maduro de organização e fortalecimento. O clima gerado pelo Congresso Latino Americano em Cochabamba/Bolívia (1991-1992), visualizava esse esforço de todas as Conferências. Crescia o esforço de organizar serviços de formação, assessoria e pesquisa para o acompanhamento da juventude e sua pastoral resultando no surgimento de “Centros” com características distintas, mas prestando serviços comuns. Tudo isso aquecia o coração e fazia brotar desejos de encontros e de troca de experiências. Jorge Boran (Brasil) e Tere Lanzagorta (México) são os leitores destes desejos e, em 1990, “dialogaron sobre la necesidad de realizar un encuentro con representantes de institutos de trabajan al servicio de la Pastoral Juvenil y/o de los jóvenes (directamente) y juntos convocaron a un primer encuentro instituciones que ellos conocían y otras que fueron propuestas por aquellas” .
Haviam começado a realizar-se, também (1984), os Encontros dos Responsáveis Nacionais da Pastoral da Juventude (ELARNPJ), tratando de diferentes temas: “Elementos para la Propuesta e la Civilización del Amor” (1983), em Fusagasuga/Colombia e, em Zipaquirá/ Colombia (1985); “Proyecto de Directorio de Pastoral Juvenil” (1986), “Redacción del Directorio de Pastoral Juvenil” (1987) e “Pastoral Juvenil, Sí a la Civilización del Amor” (1988), todos em Bogotá; “Opción Pedagógica y Etapas de Nucleación e Iniciación en los Procesos de Educación en la Fe de los Jóvenes”, em Caracas/Venezuela (1989); “Etapa de Militancia en los Procesos de Educación en la Fe de los Jóvenes”, em Quito/Ecuador (1990) e “Pastoral Juvenil y Cultura”, em San José/Costa Rica.
O 3º Encontro da Rede foi no México (1995), tendo como tema o aprofundamento de duas experiências: o Seminário de Planificação, da Casa da Juventude de Bogotá, e Projetos dos Centros Juvenis de bairros, do México. Por outro lado, no 4º Encontro, em Lima/Peru (1997) o tema foi Fundamentos da metodologia da Pastoral Juvenil. Importante dar-nos conta que, um pouco antes, se lançava o livro Civilização do Amor: Tarefa e esperança – orientações para a Pastoral da Juventude Latino-americana, uma retomada do livro Pastoral da Juventude - sim a Civilização do Amor, de 1987. Embora em espaços diferentes, a caminhada se dava em conjunto.
O 5º Encontro (1999), em Cupertino (EUA), retomava o tema “Fé e Culturas Juvenis”. Haviam-se realizado (em 1998), no continente, dois eventos significativos: o Encontro Continental de Jovens, em Santiago/Chile, com mais de um milhão de participantes e o II Congresso da PJ Latino-americana. O Congresso teve como tema: “Protagonismo e compromisso dos jovens como profetas da vida e da esperança na América Latina, a partir das mudanças culturais, das realidades de pobreza, no inicio do terceiro milênio” e seu objetivo geral era “formular nuevas líneas de acción y compromiso de la Pastoral Juvenil, del Continente hacia el III Milenio, a partir de la valoración del camino recorrido, los cambios culturales y la situación de pobreza, en orden a contribuir en la construcción de una nueva América Latina, expresión de la Civilización del Amor”. A situação juvenil se apresentava desafiante e exigia uma união de esforços tanto nos aspectos internos da Igreja como da academia. O desafio dos Centros e Institutos se expressava na vontade de motivar e formar assessores adultos, dispostos a acompanhar os processos dos jovens e capacitá-los para responderem à problemática que se apresentava.
Talvez por causa disso o 6º encontro da Rede (2001), em São/Brasil teve como tema “O emotivo, o simbólico e o espiritual em uma Pastoral da Juventude libertadora. Assim como o “Jubileu dos Jovens”, em Roma, reunia 2 milhões incentivando “encontros massivos” como os da Jornada Mundial, começava a se evidenciar a política de desarticulação de uma Pastoral da Juventude que priorizava o protagonismo juvenil. Na América Latina o ELARNPJ de 2001, em Buenos Aires/Argentina, retomava o Processo de Educação da Fé, direcionado para a elaboração do Projeto de Vida. Interessante verificar, por isso, que o 7º Encontro da Rede (2003) em Caracas/Venezuela teve como tema “O projeto de vida no contexto da juventude empobrecida na América Latina” e, dois anos depois, no encontro de 2005 (Buenos Aires) “O Acompanhamento para a maturidade da fé do jovem em um contexto latino-americano”. No encontro de 2007, em Belo Horizonte/Brasil, o tema foi “Processos de acompanhamento do Protagonismo Juvenil: discípulos no exercício da cidadania”.
Tendo em conta essa caminhada geral, tanto das Pastorais de Juventude como da Rede de Centros e Institutos, toma um sentido novo o fato de a Vª. Conferência Episcopal Latino-Americana, em Aparecida retome a opção pela juventude, reconhecendo a o processo vivido pelas Pastorais de Juventude, especialmente os processos de educação da fé por elas sistematizados.
CONCLUSÃO
As três experiências nos apontam para uma visão ampla sobre a presença juvenil, católica, na sociedade latino-americana. Recordam, primeiramente, que a Igreja Católica, como instituição milenar, só iniciou a ter, no seio dela, experiências juvenis, respeitosas do protagonismo juvenil, na primeira metade do século XX. Neste sentido a Ação Católica Especializada teve um papel preponderante, com todos os conflitos que teve que enfrentar, dentro e fora da Igreja Católica. Tratava-se, no entanto, de uma realidade mais ampla do que a da Igreja Católica. A sociedade adulta, como um todo, sempre resistiu em crer na “novidade”, assim como ainda resiste em aceitar, por exemplo, o “feminismo” ou a questão de “gênero”. Neste sentido a experiência do Secretariado Latino-Americano, com todos os seus limites, carrega um significado enorme.
Assistimos, nas experiências visualizadas, “processos” que vão amadurecendo na forma de encarar a “boa notícia” para a juventude. Verifica-se, por exemplo, o caminho de um dinamismo que vai alternando o social e o pessoal. Mesmo de forma superficial, percebe-se, na caminhada dos Encontros Latino-Americanos de Responsáveis da Pastoral da Juventude, que há tempos em que o “social”, encarado com o auxílio de um método que parte de uma visão científica da realidade, parece hegemônico. Surgem, contudo, outros momentos em que as questões internas e os problemas emocionais, do louvor e das multidões, com duração momentânea, vai tomando conta, novamente. Ficou visível que a caminhada das “Pastorais”, como expressão da instituição-igreja, é marcada por diversos conflitos. Assim como é uma luta conquistar seu espaço na sociedade e na própria Igreja, acrescenta-se outro capítulo essencialmente juvenil: a eterna busca da identidade.
O processo vivido pela Rede como Rede é, ainda, difícil de delinear com mais clareza. Fica evidente, contudo, a vivência conjunta com a realidade das Pastorais de Juventude e da juventude como tal, mantendo-se sólida, por exemplo, na opção por uma metodologia definida, tanto nas assessorias como na elaboração de materiais pedagógicos bem como na permanência decidida em algumas opções como é a opção pelos empobrecidos. O mesmo se pode dizer do avanço e da compreensão de outros campos de trabalho, como o atendimento direto aos jovens, o aprofundamento do estudo da realidade juvenil, a defesa da vida e dos direitos da juventude, a resistência a um modelo de Igreja que tem dificuldade em reconhecer o protagonismo dos/as leigos/as e jovens na construção do Reino de Deus, a valorização pedagógica e teológica de espaços para a atuação de cristãos/ãs vivendo o ministério da assessoria e do acompanhamento aos jovens e seus grupos. Fica evidente, também, que dentro e fora das igrejas o trabalho com a juventude se caracteriza no cultivo da necessidade, para uma sociedade justa, das iniciativas que se situam na geografia do “desvio social” porque a juventude não deixa de encarnar o “novo” e o imprevisível.
Na preparação do encontro da Rede, em 2007, um estudo afirmava que se assistia a uma alteração na metodologia e no modo de viver a Evangelização na América Latina. A proposta das Pastorais de Juventude, apesar do pronunciamento da Conferência Episcopal de Aparecida e apesar de um documento significativo como é “Evangelização da Juventude – Desafios e Perspectivas Pastorais” (2007) o trabalho com a juventude, além de carregar só por si enormes desafios, continuará a ser alvo de críticas e rejeições. Ao mesmo tempo em que vemos instituições procurando fugir do marasmo, a juventude se vê vocacionada a dizer que a novidade deve ser sempre real, até no corpo em que vive. Socializando a caminhada das articulações juvenis, católicas, na América Latina não estamos frente a um processo simples de ser percebido. Além dos limites geográficos e das escolhas que fizemos para perceber uma realidade, muitas outras realidades foram aparecendo, provas da riqueza que estas articulações significam para dentro e para fora de uma caminhada eclesial.
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