Páginas

segunda-feira, 1 de março de 2010

08 de março: cem anos de luta pela libertação das mulheres

Ao longo das últimas décadas, a luta das mulheres garantiu grandes avanços sociais. O voto, o divórcio, as leis contra a discriminação, contra o assédio, contra o abuso e a violência sexuais, foram importantes direitos conquistados.

Mas, todas essas lutas ainda não foram suficientes para por fim à opressão sofrida pela mulher. Sem dúvida, são imensas as barreiras que elas precisam enfrentar diariamente para vencer os valores e a exploração impostos pelas classes dominantes há séculos no país e no mundo.

Na maioria das famílias, por exemplo, a mulher permanece submetida à escravidão doméstica, assumindo sozinha a educação dos filhos e as desgastantes obrigações como lavar, passar e cozinhar, e, com o crescimento da exploração capitalista e o empobrecimento da população, vê-se obrigada cada vez mais a trabalhar fora de casa, e, com isso, assumir uma pesada dupla jornada de trabalho.

Em quase todos os países não são ofertadas condições que aliviem a mulher dos encargos domésticos e da educação dos filhos; faltam vagas nas creches, isso impede que a mãe trabalhe; faltam escolas; lavanderias coletivas; restaurantes públicos próximos à moradia ou ao local de trabalho; estes serviços estão restritos a uma minoria que pode pagar por eles.

Soma-se a isto a situação de moradia das famílias, sejam em favelas, barracos, cortiços, pagando altos alugueis e o alto custo de vida. Todos estes entraves também influem em sua relação com o homem, fazendo com que a relação de amor e afeto, dê lugar às preocupações financeiras, familiares etc.

Os grandes meios de comunicação falam que as mulheres têm conquistado cada vez mais espaço no meio político, nos estudos e no mercado de trabalho. Mas esquecem que essa é a realidade das classes mais favorecidas, pois a mulher que vive na periferia não tem acesso a uma educação de qualidade e ficam sempre com os piores e mais desgastantes empregos.

De fato, o capitalismo, ao levar a mulher para participar mais da produção, o fez com o intuito não de emancipá-la, mas de aumentar os lucros dos capitalistas, isto é, de explorá-la ainda mais do que explora os homens. Prova disso, é que até hoje elas continuam a receber salários mais baixos que os homens.

Os números confirmam a desigualdade. Um estudo da Secretaria de Políticas para as Mulheres SPM, realizado em parceria com o IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística], o IPEA [Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada] e a OIT [Organização Internacional do Trabalho], no âmbito do Observatório do Brasil de Igualdade de Gênero, mostrou que enquanto os homens perderam 1,7% das ocupações, as mulheres perderam 3%.

Na indústria, a queda de postos ocupados pelas mulheres foi de 8,38%. Os números do desemprego masculino são maiores, mas em função de outro fenômeno provocado pela crise: as mulheres se retiraram do mercado de trabalho e voltaram para casa – passando a inativas, não figurando mais nas estatísticas daqueles que buscam emprego. Já no mercado formal, os homens perderam 580 mil postos e as mulheres, 5 mil. Mas por trás disso está a substituição de um trabalho mais caro por um mais barato. No período da crise, os salários de admissão das mulheres foram sempre menores do que os dos homens.

A maior categoria do país, por exemplo, é a das trabalhadoras domésticas – mais de 8 milhões de profissionais, das quais 97% negras, sendo que apenas 20% têm emprego formal. Segundo pesquisa do IBGE de 2003, as negras e pardas recebiam salários 51% menores do que o rendimento médio das mulheres brancas. Ou seja, há uma dimensão racial em jogo que também aprofunda a desigualdade no mercado de trabalho.

No contexto da crise, os setores que mais receberam incentivos para superá-la foram aqueles onde a presença masculina é mais forte, como o industrial. Mesmo nestes, as mulheres foram as primeiras a serem colocadas pra fora do mercado formal. Em outras palavras, o trabalho das mulheres ainda é visto como algo auxiliar, complementar, mesmo que mais de 30% das famílias sejam chefiadas por mulheres.

Em defesa dos direitos das mulheres

Por isso, no bojo da superação da crise, outra luta coloca-se para as mulheres, também para este ano de 2010: garantir a ratificação pelo Brasil da Convenção 156 da OIT, que garante a igualdade de oportunidades e de tratamento para os trabalhadores dos dois sexos, incluindo as responsabilidades familiares. Segundo pesquisa do Dieese [Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos] divulgada em março de 2009, a taxa de desemprego das mulheres que não possuem filhos é de 13,1%, menos do que as que possuem – 15,6%.

A injusta divisão sexual do trabalho é um dos principais pilares que sustenta o patriarcado. Em média, a mulher trabalha 16 horas por dia. A maior parte é não remunerada, a outra, sub-remunerada. A expressão da dupla jornada de trabalho, já banalizada na sociedade capitalista. Enquanto existir, o patriarcado, as mulheres serão submetidas ao domínio masculino, isto é, enquanto pendurar um sistema econômico, onde coloca o papel das mulheres na sociedade, de forma secundária e desvalorizada, persistirá o machismo, o patriarcalismo, e todas as outras formas de exploração irá continuar.

Por esses motivos, a mulher trabalhadora, ou seja, a mulher explorada forja dia a dia uma força e uma garra surpreendentes para defender a si e sua família das injustiças e das dificuldades impostas pelo capitalismo. Não é à toa que elas estão na linha de frente do movimento sociais em todo o país.

A história mostra que mesmo diante de toda a opressão que sofreu e sofre a mulher, a mais oprimida de todos os oprimidos, nunca ficou a margem dos grandes movimentos libertários. Ao contrario, a história da luta de libertação de todos os povos está repleta de heroínas. O próprio 8 de março é um exemplo, já que a data é uma homenagem as 129 operárias têxteis de Nova York que, em 8 de março de 1857, lutavam pela redução da jornada de trabalho e foram assassinadas pela polícia dos patrões.

Também no Brasil vários são os exemplos, como o das heroínas de Tejucupapo; a luta pela independência do país; contra a Ditadura Militar; e centenas de greves em todo o Brasil revelam que as mulheres sempre estiveram na linha de frente da luta do povo brasileiro pela democracia e por uma nova sociedade.

Esse ano comemorasse o centenário do dia internacional das mulheres (1910- 2010). Hoje, mais do que nunca, a organização e a luta das mulheres precisam se desenvolver, pois com o aprofundamento da crise do sistema capitalista, tem crescido em todo o mundo as tentativas de por fim a vários direitos e aumentar a exploração sobre a mulher e todo o povo. Vamos à luta pelos nossos direitos e por uma nova sociedade, onde prevaleça a igualdade, fraternidade e a justiça social.


http://www.atefce.com.br/eventos/51-08-de-marco-cem-anos-de-luta-pela-libertacao-das-mulheres.html

Nenhum comentário: