Na última vez que fui lá, fui direto. A cruz que grita,
naquela subida da estrada, que foi ali que tu voaste para dentro da vida, está
lá. Senti necessidade dessa visita reverente. Dias antes, tinha passado na sede
da Conferência Nacional dos Bispos onde as pessoas simples se juntam aos
milhares de jovens que sentem saudade da tua alegria e, como diz meu amigo
Quim, do mistério que já foste no meio de nós e continuas sendo.
Sei que estás acompanhando as coisas da nossa Igreja e da
juventude com vontade grande de ser mais respeitada e menos manipulada. Sei que
a lâmpada de esperança e de luta que alimentavas nas nossas rodas, esta lâmpada
está viva. Aliás, tu já viste teu nome
burilado naquela vela enorme? A vela está tão bonita que parece estar cantando
os mantras dos quais gostavas.
Acho uma pequena besteira, mas depois de cinco anos queria
pedir-te desculpas. Sabes por quê? É que
a edição de Civilização do Amor – Projeto
e Missão (ao menos a tradução para o
português) não foi dedicada a ti. Mais ainda: pedir-te desculpas porque naquela
lista de pessoas que deram a vida pelo povo e também pela juventude, teu nome
não consta naquela lista que se conseguiu fazer. Claro que não poderias estar
antes de Dom Romero ou de Dom Helder ou de tantos outros, Dons e não Dons, mas
no meio daquelas outras figuras lindas, nos esquecemos de pôr o teu nome. Sei
que vais rir desse nosso esquecimento, mas sinto necessidade de pedir
desculpas. Aliás, como vão Florisvaldo, Albano, Walderes e tantos outros e outras que a gente não
esquece, mas não se lembra do nome? Diga a eles que continuem mandando suas bênçãos. Sabes que ainda existem os que
insistem que a Teologia da Libertação morreu?
Gisley, estás assistindo a Copa Mundial de Futebol? Tu deste
uma olhada na beleza dos estádios, na
força que o povo brasileiro faz para mostrar que ele não é só isso ou aquilo?
Claro que tem aqueles que não sabem se alegrar
com a diminuição dos pobres e com a conquista dos direitos dos negros,
indígenas e tanta outra coisa, mas tu nos ensinaste que é preciso dar uma por
cima, ter esperança. Naquele dia em que fui ver a cruz que mostra onde voaste
para a vida alguém muito querido me disse que precisamos esperançar.
Estou vendo que os Arcanjos te estão chamando para o ensaio
daquele mantra que vai ser cantado por todo o universo, sem deixar de lado
nenhuma estrela nem planeta. Vá lá. Um forte abraço.
Teu irmão, P. Hilário Dick
15 de junho, no dia em que voaste para a vida.
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