1. A Evangelização da Juventude, assim como Jesus, assume a defesa do protagonismo juvenil, assumindo a personalização como elemento-chave para a afirmação do jovem.
O jovem ser protagonista significa dizer que estamos frente a um jovem (ou desejamos estar frente a um jovem) que luta para ser sujeito de sua identidade e de sua organização, como pessoa e como grupo. Na vivência do protagonismo, o jovem é respeitado na descoberta de si mesmo tomando contato, primeiramente, com o mais próximo de si: ele mesmo. O jovem é alguém que busca sua identidade. É claro que para afirmar essa “identidade” vai negar submissões. Podemos até dizer que pode ser teológico negar leis, autoridades e dominações. Qualquer relação que leva à dependência ou defende a dependência, é uma relação infantil. Descobrir a identidade não é só descobrir a si mesmo; é, também, descobrir o outro, naquilo que é e deveria ser. Estamos frente a uma Teologia da saída de um mundo de dependência para um mundo de identidade. De um mundo fechado sobre si para abrir-se às relações, sem perder sua identidade. Assim como o Êxodo, a juventude é uma epopéia da busca e da conquista. O jovem que não sai de si (do Egito) e não busca mover-se nas relações, é alguém que está marcado a não encontrar-se no protagonismo para o qual foi feito.
Os exemplos na vida de Jesus podem ser encontrados em Marcos 5,21-43 que nos conta como o chefe da sinagoga vai pedindo a Jesus que venha curar sua “filhinha” doente; em Marcos 9, 14-29 onde se encontra a história do menino epiléptico ou em Lucas (7, 11-17), narrando-nos a história do filho único da viúva. Nestes momentos, como em outros, o que Jesus vai repetindo sempre é “Menino, menina, levanta-te”... Seja tu mesmo/a. Saia deste mundo dependente. Seja tu mesmo/a.
Conseqüências desta característica: a) a busca de uma boa organização; b) a importância de trabalharmos bem a personalização, isto é, ajudar o jovem a que se ame e que tenha uma forte auto-estima.
2. A Evangelização da Juventude, assim como Jesus foi e é amigo, assume a socialização como parte de sua pedagogia.
A Evangelização da Juventude – melhor, a comunidade juvenil, é e deveria ser o lugar da felicidade do jovem. Os que tiveram esta experiência na vivência eclesial não se esquecem, jamais, que foi no grupo que tiveram um encontro divino com a felicidade. Jesus, na sua permanência na história, também trabalhou com uma pequena comunidade. Os discípulos, os apóstolos... Jesus assume em sua pedagogia, a defesa da socialização. O jovem é alguém que aprende a ser amigo como jovem e não como criança. Intui em sua intimidade que todos, no mundo, deveriam ser amigos e que a inimizade não tem lógica no mundo que vai aprendendo a viver.. A amizade é uma descoberta radical, nascida do cotidiano. O jovem tem medo da solidão. E como sofre por sentir-se traído! Quando queremos dizer uma coisa muito boa de alguém dizemos que “ele é nosso amigo”.... A amizade é a vivência mais terna de sairmos de nós mesmos e deixar que o outro penetre em nossos poros. Vive-se a amizade não para tirar proveito. A amizade coloca-se na geografia do gratuito. A amizade é anterior, inclusive, ao sexo. A vivência de uma amizade é algo prazeroso, que não tem palavras. Damo-nos conta que Deus faz que a descoberta do outro seja agradável, apaixonante e gratuita. Aí surge a poesia, o romantismo, a vontade de “ficar”, as ganas de olhar nos olhos do outro/a e namorar. O jovem, à semelhança de Deus, é um enamorado.
Por isso Jesus ama as pessoas como elas são. Ama a todos e todas. Inclusive os ricos com os quais não deixa de ser sincero e duro. Em todas e todos é capaz de ver que podem ser mais e melhores. Até para Judas, que o traiu, ele diz: “Amigo, a que vieste?” (Mateus, 26,50). Jesus, mais adiante, vai dizer em tom de despedida: “Já não os chamo de servos, mas de amigos...” (João 15,15). Que coisa linda ver Jesus chorando a morte de seu amigo Lázaro. E todos diziam: “Vejam como ele o amava...”(João, 11,36)
Conseqüências desta característica: a) a socialização e o clima de amizade no grupo e na comunidade; b) a importância do grupo; c) a descoberta dos outros no que são; d) o papel fundamental da revisão de vida.
3. Para Jesus e, por isso, para a Evangelização da Juventude, e para jovem, a vida é uma festa.
O jovem encarna a juventude da Igreja no mundo. Para o jovem a vida é uma festa. Tudo é festa. A festa é encontro, é prazer, é sentido. A festa é memória. Onde há juventude há alegria e celebração. Por isso a Pastoral da Juventude é a pastoral da alegria. Os jovens são os celebrantes do mundo... Por vocação e por biologia... Onde Jesus fez seu primeiro milagre? Nas bodas de Caná da Galiléia, por intervenção de sua mãe. Na festa de um casamento, fazendo que a celebração não fosse somente de água, sem sentido, mas de vinho, carregada de alegria. Por que Jesus era tão romântico e tão poeta frente à natureza? Porque para Ele a criação e a sociedade humana foram criadas para serem festa. Uma festa supõe três elementos: a valorização de determinados acontecimentos, a expressão significativa e a inter-comunhão solidária. Não há festa se o evento é uma manifestação do vazio, quando o evento quer ser a afirmação de poder, e quando a festa não é gratuita, com aspectos de “circo” de apresentação ou instrumento com outros interesses.
A vida para o jovem é festa porque vive a explosão sexual e afetiva. Esta é um “kairós”, um momento decisivo como graça de Deus. Descobrir a vida, a beleza de uma paisagem é uma alegria enorme. Descobrir-se jovem, sexuado, capaz de ser vida não poderia deixar de ser uma festa. Jesus foi acusado de participar nas ceias e nos banquetes de amigos, foi acusado porque era amigo de Marta, Maria e Lázaro. Jesus celebrou sua despedida numa ceia. Temos um coração eucarístico porque sabemos que a melhor festa é a que é gratuita e plena. A ceia do Senhor... A festa da Vida...
Conseqüências desta característica: a) uma Evangelização da Juventude criativa e alegre; b) uma Evangelização da Juventude eucarística e celebrativa; c) uma Evangelização da Juventude capaz de celebrar todas as realidades, também o estudo, também o trabalho, também a idade que vivemos, também a natureza na qual trabalhamos, tudo.
4. Jesus agiu e viveu a causa do Reino com um pequeno grupo e, por isso, para a Evangelização da Juventude o grupo é a proposta central da proposta evangelizadora.
Não podemos negar que Jesus foi essencialmente comunitário. Jesus acreditou no coletivo. O Reino que pregou é uma comunidade. Não realizou sua missão isoladamente. Desde o início de sua vida pública enviou os discípulos para diversas cidades e aldeias. Foi aos discípulos que Ele explicava as parábolas. Foi com poucos que Ele subiu o Tabor. Jesus é e foi comunitário. Aprendemos dEle que o grupo é uma necessidade biológica, psicológica e teológica. O jovem, como qualquer pessoa, tem uma necessidade violenta do grupo, de viver em grupo. Somos felizes no grupo. A noite é a grande acolhedora do espírito grupal do jovem. Qualquer cidade tem lugares onde os jovens se encontram. Dizemos nós que é para namorar, para fumar maconha... Porém, esta é a parte mesquinha de uma realidade que devemos aprender a ver e a aprofundar. O jovem quer uma Igreja que seja comunidade, que planeje sua ação, que faça assembléias e congressos... A pastoral se torna e deve tornar-se construtora de comunidades. “Ide pelo mundo.... Construam todas as comunidades possíveis.... Sejam organizados e políticos”. Deus não nos quer desorganizados. Deus não quer ver-nos como uma “massa”. Deus quer ver-nos como povo. Ao jovem agrada-lhe viajar, conhecer outros mundos; agrada-lhe escrever e receber cartas de regiões distantes. O jovem sonha conhecer o mundo que lhe pertence. Não lhe agradam as fronteiras, nem a religião. Ele é essencialmente ecumênico, perdoando facilmente. Não olha se é bonito ou fio. Não existem barreiras. O jovem é comunitário.
Conseqüências desta característica: a) O grupo. O grupo tem objetivos e planejamento; b) superar o espontaneísmo; c) a Evangelização da Juventude tem sentido se tem grupos que se encontram; d) é fundamental que os grupos estejam inseridos em suas realidades, envolvendo-se nos organismos intermediários da sociedade civil.
5. A Evangelização da Juventude e o jovem sonham com a fidelidade porque, assim como Jesus, assim como Deus, é fiel.
A fidelidade que somos convidados a viver, neste momento, no Brasil e na América Latina, é a fidelidade à proposta pedagógica e teológica que descobrimos e sistematizamos. É muito mais que uma obediência a uma lei. Trata-se de uma proposta de felicidade, assumida de verdade em nossas vidas de pessoas, de grupos e de pastoral. Trata-se de uma fidelidade a uma causa. Assim como Jesus não se cansava de dizer que seu alimento era fazer a vontade do Pai não devemos cansar-nos de dizer, como Pastoral da Juventude, que queremos ser fiéis, que queremos viver a aliança que Deus fez com o jovem e que isso supõe compromisso e coerência.
E por que a fidelidade é importante? O outro não é um joguete nem um objeto que se usa e se tira fora. A fidelidade é sagrada. O jovem intui que o grupo, a família, a nação e a paz não são possíveis se não houver fidelidade. A corrupção nos enoja porque é uma infidelidade. O jovem pode, até discordar de aspectos secundários porém dobrar-se-á ante a sinceridade transparente de uma pessoa. O que Deus e Jesus e a Pastoral da Juventude abominam é a hipocrisia. Os discursos mais violentos de Jesus são contra a falsidade.
Conseqüências desta característica: a) a proposta não é uma mercadoria; ela é uma causa. A Evangelização da Juventude perde a confiança e o respeito na medida em que desconhece sua proposta; b) a Evangelização da Juventude existe para ajudar o jovem a construir seu projeto de vida. A grande pergunta que todo jovem se faz é: “Que queres, Senhor, que eu faça? Onde está o país de minha felicidade?” c) É preciso que o grupo seja exigente. O grupo não é uma brincadeira; é o ninho da felicidade juvenil.
6. Assim como para Jesus, toca à Evangelização da Juventude descobrir e desvelar a missão, inclusive a missão de ser profeta.
Jesus, filho de Deus, Verbo encarnado, teve que descobrir sua identidade e sua forma de exercer a missão que lhe tocava. Por isso, ao iniciar sua vida pública, passa um tempo no deserto; por isso, para que fosse sempre coerente ao projetor libertador de felicidade da humanidade, nos grandes momentos de decisão e de dúvida se retirava para o monte para rezar... Nós rezamos para descobrir por onde anda a nossa felicidade... Nós rezamos porque queremos descobrir o caminho. O jovem necessita ser orante porque para ele tudo é novidade. Como ser filho? O que é uma autoridade? O que é namorar? O que é ser corpo? Por isso é preciso rezar. Como é a sociedade na qual vivemos? Por isso é preciso ler jornais, fazer análises de conjuntura. O que é ser cidadão? Jesus passou 30 anos observando a sociedade e passava noites inteiras em oração... O cidadão, o construtor de comunidades, o celebrante do mundo, o profeta da causa dos excluídos não nasce por acaso. O jovem é um “joão ninguém” que deve aprender a afirmar-se às custas de seus próprios descobrimentos. Um bom assessor, assim como um bom pai, é aquele que sabe ajudar nesse processo de autonomia progressiva. Diríamos, até, que o Deus da juventude é o Espírito Santo. Ele, além de ser paixão, dinamismo e afeto, faz ver, desvela e manifesta. Assim como estamos entrando na “era do Espírito” vamos entrando, também, na “era da juventude”.
Conseqüências desta característica: a) Urge uma Evangelização da Juventude criativa e mística, uma Evangelização que seja capaz de ler os sinais dos tempos e de inspirar-se, sempre mais, na Fonte da Vida, que é Deus, que é o Evangelho; b) Urgem momentos em que façamos com muita seriedade análises de conjuntura; c) Urge uma Evangelização da Juventude sempre mais próxima da Bíblia e da oração. Caso contrário, não seremos os profetas que o mundo precisa.
7. Assim como Jesus ensina e vive a doação, assim a Evangelização da Juventude do momento atual tem ânsias por uma organização capaz de generosa e gratuita doação.
Jesus de Nazaré foi claro: “Se o grão de trigo não morre, não produz frutos”... “Se pões a mão nalgum compromisso e olhas para trás para ver ao que renunciaste, não és digno do Reino...” “Se não fores capaz de deixar a mãe, tuas pequenas coisas por amor à causa esquece-te e volta à infelicidade que escolheste...” Na noite da Ceia Jesus lavou os pés dos discípulos dizendo-lhes em palavras e atitudes que o que dá vida ao mundo é o espírito de serviço. Jesus não guarda nada para si. “Tomai e comei! Isto é meu corpo... Eu dou minha vida pelo mundo e a dou porque assim o quero”. Amou até o fim.
Assim é o jovem. Em cada corpo juvenil tem morada especial a Eucaristia, a generosidade, o idealismo. Uma Evangelização da Juventude sem Eucaristia não consegue sonhar nem a curto nem a longo prazo. Uma Evangelização da Juventude sem Eucaristia perde seu espírito solidário e seria melhor que não existisse. Aprendemos isso de Jesus. O Caminho é Ele. A Civilização do Amor se alimenta da Eucaristia.
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